Edição Nº 16, 20-Abr.98
Especulação imobiliária no Montijo e Alcochete
Como consequência da nova ponte
A telenovela portuguesa popularizou-a como Paz dos Anjos. Agora passados alguns anos, Alcochete transformou-se num pequeno inferno. Especulação imobiliária, aumento do custo de vida e poluição, são algumas das consequências do progresso originado pela Ponte Vasco da Gama.
Quem pensar em comprar casa tem de se preparar para abrir os cordões à bolsa. Um apartamento em Alcochete, numa urbanização junto ao campo de futebol, de quatro assoalhadas, custava a 4 de Março 15 mil e 600 contos. Passado um mês, custa 16 mil e 500 contos. Um duplex de cinco assoalhadas, na mesma zona, custava em Março 22 mil contos, agora vende-se a 23 mil contos. Na zona do Montijo, os preços são mais altos. Um apartamento com quatro assoalhadas na zona considerada de luxo, junto ao tribunal e ao novo hotel, custa 18 mil contos e um duplex, 35 mil contos. Todas estas habitações têm acabamento de luxo, vidros duplos, banheira de hidromassagens. Segundo Lucinda Pacheco, proprietária da Imobiliária Carlos, do Montijo, “nos últimos meses, tem sido uma loucura. Os construtores chegaram a suspender as vendas, para conseguir um preço muito superior pelos apartamentos”.
Devido à procura cada vez maior de habitações e espaços comerciais, o mercado imobiliário cresceu abruptamente. Só na área do Montijo e Alcochete estão a funcionar cerca de 32 imobiliárias. De acordo com Ricardo Miranda, sócio da Imobiliária Rina, “as vendas em Janeiro e Fevereiro aumentaram mais de 100%”.
Os potenciais compradores das novas urbanizações na zona Ribeirinha, são na sua maioria da margem sul. De acordo com Ricardo Miranda, “as pessoas que vêm de Lisboa preferem zonas mais rurais, como Canha e Poceirão”. Quando se fala em comércio e indústria, regista-se um maior interesse por parte de pessoas de Lisboa.
Ao contrário do Montijo, Alcochete não irá crescer muito mais. Esta vila ribeirinha tem 40% da sua área afecta à ZPE (Zona de Protecção Especial). As novas vias de comunicação, como a Ponte Vasco da Gama, o IC13 e a A12, ocuparam parte substancial do território do concelho. A falta de terrenos para construir originou uma subida drástica dos preços, pois a procura excedeu largamente a oferta. “Quando surge um terreno para vender, é a preço de ouro e quem o paga é o comprador”, afirma Lucinda Pacheco. As novidades em termos de habitação, no Montijo, surgiram com os condomínios privados. Uma inovação devida à empresa Etinsa, implantada há vários anos em Espanha, que pensou alargar o seu mercado para Portugal. Por enquanto, a urbanização existe apenas em sonhos, pois no local das futuras instalações só existe erva, muita erva.
“Devíamos ter começado em Janeiro, mas a mudança de executivo camarário estragou-me a vida. Tivemos que começar da estaca zero”, explica António Melo, responsável pela Etinsa.
Em relação aos preços verificados nos apartamentos, estes condomínios têm preços bastante mais acessíveis. Um apartamento de quatro assoalhadas custa 16 mil e 500 contos e uma vivenda de três pisos 27 mil e 500. “Este condomínio é o nosso cartão de apresentação, daí estes preços baixos”, justifica António Melo. Embora os projectos de construção não passem de maquetes, tudo indica que serão bem aceites pelos possíveis compradores: segundo o responsável da Etinsa, 75% dos apartamentos estão já reservados, assim como 25% das vivendas.
Célia Cruz