Edição Nº 17, 27-Abr.98
Mário Ferro afirma que plano estratégico está posto em causa
IPPAR continua a “travar” Misericórdia de Setúbal
O impasse no denominado Projecto da 2ª Fase – que inclui o realojamento de 95 idosos, a ampliação do Centro de Apoio a Idosos Dependentes, um Centro de Dia para 60 utentes, instalações para Apoio Domiciliário e, na área da saúde, a extensão do Centro Médico Cirúrgico e de Intervenção Clínica com instalações para Bloco Ambulatório e Imagiologia -, pelo qual é responsável o IPPAR (Instituto Português do Património Arquitectónico), foi criticado pelo provedor da Santa Casa da Misericórdia de Setúbal, Mário Ferro, durante o Forum “As Misericórdias e a Comunidade – Testemunhos de uma vida em comum”, realizado na passada semana, inserido nas comemorações do 498º aniversário desta instituição. Este responsável disse ser “indispensável a maior harmonia entre os valores em presença, não nos deixando levar pelos excessos técnicos mas antes privilegiando o cumprimento das Políticas de Solidariedade que os responsáveis, a todos os níveis, desejam e têm o dever de executar”.
Mário Ferro alertou para o facto de estar posto em causa o Plano Estratégico “Preparar o Ano 2000”. “Já perdemos, desnecessariamente, mais de um ano e neste espaço de tempo a concessão de subsídios do Estado que, conjuntamente com as nossas capacidades financeiras, possibilitaria a construção da obra”, queixou-se, acrescentando que “assim, quem perde é a cidade e os setubalenses”. O provedor apelou, em seguida, ao Ministro da Cultura para que permita desbloquear o que “impede de se realizarem políticas de emprego e da solidariedade social”, uma vez que já foi dado o parecer favorável ao projecto por parte do Centro Regional de Segurança Social e da parte da Câmara Municipal de Setúbal.
Uma maior atenção para a preservação dos monumentos nacionais e, em particular, para o Convento de Jesus, foi uma das principais conclusões saídas deste Forum. O monumento setubalense foi considerado um exemplo pela negativa, devido ao seu “visível estado de degradação física”, isto depois de ter visto melhores dias, quando estava sob a tutela da Misericórdia. Concluiu-se igualmente que estas instituições continuam a ter um papel importante no campo da solidariedade social, intervindo no papel de acção supletiva do Estado, reclamando por isso um maior protagonismo. Foi dito que as Misericórdias não devem viver à margem dos planos de saúde, da cultura, do emprego ou do ambiente, tendo sido manifestado o seu desejo em colaborar, contudo, mantendo a sua identidade muito própria. Machado Caetano, presidente da Fundação Portuguesa “A Comunidade Contra a Sida”, Luís Graça, ex-Governador Civil do Distrito de Setúbal, Laurinda Abreu, historiadora da Santa Casa da Misericórdia de Setúbal e Rui Valdez, presidente da Assembleia Geral desta mesma instituição, foram alguns dos oradores neste Forum, cuja sessão de abertura foi presidida por Mata Cáceres, presidente da Câmara Municipal de Setúbal, e a sessão de encerramento por José Clemente Geraldes, chefe de gabinete do secretário de Estado da Acção Social, que realçou o Pacto de Cooperação para a Solidariedade Social, um plano ambicioso de reforma nesta área, através do qual o actual Governo espera vir a lançar novas políticas, em conjunto com os vários parceiros sociais.
Eduardo Marino