[ Edição Nº 17 ] – Novos dados sobre o Titanic.

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barra-2517255 Edição Nº 17,   27-Abr.98

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Titanic
O que ficou por contar

           Pactuando com o interesse geral da população em saber mais acerca do transatlântico, a Biblioteca Municipal de Setúbal exibiu nos passados dias 21 e 23 o documentário ‘Os Segredos do Titanic’, produção da National Geographic Society em 1985, data da descoberta dos restos mortais do navio.           Curiosamente, foi ao ver este vídeo na televisão americana que o realizador James Cameron encontrou a inspiração e o entusiasmo para dar início aos seis esgotantes meses de filmagens do ‘filme do ano’. E a verdade é que, no cinema, Titanic está bem ancorado e continua a navegar.

          Nas palavras de Nicolina Henriques, auxiliar das salas de cinema do Centro Comercial Jumbo de Setúbal, “não tenho recordação de nada igual. Estou aqui há 5 anos e é a primeira vez que um filme fica 15 semanas consecutivas em exibição. Só ‘BraveHeart’ teve um sucesso comparável, voltando às salas depois dos Óscares, mas mesmo assim muito aquém do que está a suceder com esta película”.

          De acordo com a funcionária, existe uma curiosidade por parte dos espectadores em conhecer a recriação de uma história verídica, “mas alguns não resistem ao choque e acabam por sair antes do final”. Apesar disto, a epopeia continua a atrair o público, que vem de todo o distrito assistir à sua exibição em Setúbal.

          Arqueologia de um naufrágio


          Mas, se no grande ecrã a concorrência não afunda Titanic, a sua história real encontra aqui um irónico contraste. É que, segundo o arqueólogo Fernando Bandeira Ferreira, residente em Setúbal, foi o desejo de bater um recorde que muito contribuiu para a morte de 1500 pessoas, o mais dramático aspecto da catástrofe.
          De acordo com o arqueólogo, “aquando da construção de Titanic, foram colocados a bordo escaleres suficientes para todos os passageiros e tripulação. No entanto, parte destes foram retirados do barco antes da sua partida de Southampton, pois o “navio inafundável” necessitava ficar mais leve para conseguir realizar a travessia do Atlântico num tempo recorde”.

          A flâmula azul


          “Em 1910, o Mauretania, barco da Cunard Line, companhia rival da proprietária de Titanic, a White Star Line, conseguira atravessar o Atlântico em 4 dias, 10 horas e 41 minutos, atingindo uma velocidade de 25.9 nós, cerca de 48km/h, entre Queenstown (hoje Cobh), na Irlanda, e Nova Iorque. Tudo indica, assim, que Titanic tencionava arrebatar o troféu simbólico atribuído outrora ao paquete que atravessasse mais depressa o Atlântico, a célebre flâmula azul, blue riband, com que se enfeitava um dos mastros do navio”, esclarece Fernando B. Ferreira.           No entanto, devido à pouca sorte do barco, que afundou ao quarto dia de viagem, o recorde do Mauretania só viria a ser batido em Julho de 1929, pelo navio alemão Bremen, que entre Cherbourg, França, e Ambrose, América do Norte, alcançou os 27.88 nós, cerca de 51.5 km/h.

          Mas, se se pode acusar a companhia de excesso de confiança por ter retirado os escaleres, considerando o paquete insubmersível, essa segurança já é plenamente justificável no que se refere aos avisos de icebergues. “A verdade é que as mensagens recebidas pelo transatlântico sobre a existência de um icebergue, provinham de um navio a 4 horas de distância. Tendo em conta que esse barco se deslocava a uma velocidade muito inferior à sua e que os icebergues dependem das correntes, sendo portanto mais lentos, nada havia a temer e o navio continuou a acelerar”, explica o arqueólogo.

          Os dois icebergues


          O problema derivou de se estar, no meridiano da Terra Nova, em plena corrente do Labrador. Esta é uma corrente fria que desloca as grandes massas geladas de Norte para Sul, ao largo da costa dos Estados Unidos. Como tal, o paquete colidiu fatalmente com um segundo icebergue, que não fora detectado pelos outros barcos mais afastados.
          “Após a colisão, o navio submergiu em cerca de duas horas e as pessoas que não tiveram escaler onde embarcar gelaram nas águas, a quatro graus centígrados de temperatura, onde um ser humano não sobrevive mais de meia hora”, conta Bandeira Ferreira.
          Na perspectiva do arqueólogo, existem ainda pontos obscuros, histórias por contar, no que se refere ao naufrágio do Titanic. “Não se explica que, tendo sido retirados os escaleres, não se tenham colocado no seu lugar jangadas. Estas, para além de bastante leves, eram relativamente comuns na época e facilmente acomodáveis em qualquer canto do gigantesco navio. A atitude de as levar a bordo por uma questão de ‘sabe-se lá o que pode acontecer’ poderia ter salvo muitas das vidas que se perderam. Mas, na confiança e optimismo do homem europeu no seu domínio das tecnologias e das forças da Natureza não houve lugar para previsões negativas, o que se viria a revelar fatal”, conclui Fernando Bandeira Ferreira.           A revista francesa Science & Vie nº 967, deste mês, acrescenta ainda que os rebites com que foram unidas as placas do casco de Titanic eram de ferro forjado, contendo muitas impurezas. Os rebites, semelhantes a pregos, ao serem martelados a quente perderam a sua resistência, tornando o casco extremamente frágil. Assim, quando se deu o embate, as juntas não resistiram e as chapas do casco saltaram, permitindo a entrada de toneladas de água em tempo reduzido, o que causou o afundamento do navio.

Helena de Sousa Freitas/ Sem Mais Jornal     

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