Edição Nº 20, 18-Mai.98
No ensaio geral
Expo’98 agradou à maioria dos visitantes
Finalmente a Expo’98 vai abrir as suas portas, perante a curiosidade de milhões de portugueses e estrangeiros. A última exposição mundial do século, ao contrário das piores expectativas, está pronta. E aconselha-se. O ensaio geral, ocorrido no passado dia 9, deixou uma sensação geral bastante agradável. Mas também ouve aspectos menos bons. A falta de bebedouros e a quase ausência de zonas de sombra, conta-se entre os problemas que a organização terá obrigatoriamente de solucionar. Quanto às filas de espera, já se sabe, serão incontornáveis, como acontece em qualquer evento do tipo. A grande festa começa dia 22. Oitenta e oito por cento das pessoas que estiveram presentes no ensaio geral da Expo’98 ocorrido no passado dia 9 deste mês, responderam, em inquérito realizado pela EuroRSCG, que pretendem voltar a visitar a Exposição Mundial de Lisboa, a maior de sempre. Nesta sondagem, efectuada a 200 visitantes, 73 por cento dos inquiridos disse que, além dos Pavilhões, o que mais lhes agradou foi o “ambiente geral agradável”, seguindo-se o teleférico, os jardins e a arquitectura do recinto e dos Pavilhões. Os pontos fracos estão na dificuldade de orientação no recinto, a má informação e assistência ao visitante e as filas de espera. A falta de zonas de sombra e de bebedouros, também não agradaram ao visitante do ensaio geral. Os desníveis nalguns pavimentos e empedrados foi igualmente motivo de chamada de atenção. Os serviços médicos registaram algumas quedas devido a este problema. A ausência de animação entre a Porta do Mar e a Alameda dos Oceanos também foi notada por responsáveis da Expo’98, que já estão a pensar em soluções apelativas. Alguns edifícios institucionais, como o Administrativo e o da Comunicação Social, foram erradamente procurados pelos visitantes que, por falta de identificação, os confundiram com pavilhões temáticos ou internacionais. Como o Oceano e a ecologia dominam esta mostra, a separação dos lixos deveria ter sido também no próprio recinto, através de contentores distintos. As bebidas embaladas em plásticos e latas foram indiscriminadamente lançadas nos mesmos contentores, situação que futuramente deverá ser corrigida. Problemas a resolver, o mais rapidamente possível, para que não haja “manchas” num evento brilhante, a nível internacional. Estiveram mais de 50 mil pessoas, só durante este dia, sem que se tivessem registado incidentes de maior. Este número representa, porém, cerca de um terço de capacidade máxima, de qualidade, estabelecida para um recinto desta natureza que, numa feliz coincidência, tem uma área de 98 hectares, se se incluir na parte respeitante à água.
Imediações em obras
Nas imediações o cenário é desolador. Obras e mais obras, ruas por calcetar, poeira por todo o lado, trabalhadores num rodopio. Com os inevitáveis atrasos “à portuguesa”, tudo funciona agora a velocidade de cruzeiro, para que o aspecto exterior fique condignamente apresentável. Quem, como nós, viu as redondezas do recinto da Expo’98, antes de entrar no recinto para o ensaio geral, temia o pior. Tanto, que os comentários de alguns funcionários, no dia anterior, não eram animadores. A vinte e quatro horas da primeira grande operação, havia ainda muito entulho e alguns pormenores por finalizar. O certo é que, uma vez no interior do recinto, a surpresa e o deslumbramento foram absolutos, contrariando as expectativas. Depois de atravessar a porta do sol – uma das quatro entradas reservadas ao público, precisamente aquela onde desemboca a Estação do Oriente, uma das mais importantes e imponentes obras desta exposição, cuja entrada em funcionamento está prevista para o dia da inauguração, justamente, de hoje a uma semana -, tudo muda de figura. Um mundo completamente novo apresenta-se ao visitante, que fica como que “paralisado”, por momentos, perante o cenário que passa pelos seus olhos. Se algumas dúvidas existissem – e existiam -, ficam desfeitas a partir daqui. Iniciámos a visita pelo Pavilhão do Futuro, que tem como tema a defesa dos Oceanos como património do futuro. À entrada são distribuídos óculos polarizados, que permitem ver um diaporama a três dimensões. Apesar do tom “kitsch” e dos “clichés” que povoam o conteúdo, formalmente, é magnífico. As imagens saltam, literalmente, do écran para a vista do espectador, cujo impulso é agarrá-las de imediato, tão próximas estão. Ao mesmo tempo, é possível experimentar sensitivamente as alterações na humidade do ar através da própria pele. Os “lasers” projectados ajudam a transportar-nos para outra dimensão. Sensação essa que continua quando nos deslocamos no interior do pavilhão, numa “viagem” ao fundo dos mares, onde, no interior de uma colónia submarina, se descobrem estranhas formas de vida.
Portugal de Siza Vieira
Partida, em seguida, para o Pavilhão da Utopia. Um dos maiores e mais vistosos da Expo. Um espaço dedicado ao sonho, à fantasia e ao imaginário, onde serão representados muitos dos mitos e lendas associados aos oceanos. Os espectadores tiveram oportunidade de assistir a uma parte do espectáculo, ainda em fase de ensaio, e só podemos afirmar que promete. O palco, gigantesco, é alvo das maiores transformações. A cada minuto somos surpreendidos, como no momento em que o palco se transforma de um momento para o outro, num navio. Um verdadeiro acontecimento a nível cenográfico. Irão decorrer quatro sessões diárias, com uma capacidade para 40 mil pessoas por dia. Depois da Expo, este local mudará o nome para Pavilhão Multiusos, ficando disponível para receber concertos, eventos desportivos, ou grandes conferências. Porque o tempo era limitado para ver tudo – e a Expo’98 não se vê em apenas um ou, mesmo, dois dias – partimos rapidamente para outra das “jóias da coroa”, o Pavilhão de Portugal. Uma vez mais, somos surpreendidos. Primeiro, pelas suas formas elegantes e a sua pala gigantesca, saídas da inspiração de Siza Vieira. Depois, pelo seu conteúdo no interior, que se desenvolve em três ideias-chave, interligadas através de três sectores expositivos distintos. No primeiro, assiste-se a um filme que nos faz remontar à época dos Descobrimentos Portugueses. Com personagens reais cruzando cenários virtuais, o efeito é o de observar um quadro renascentista em movimento. Trata-se, de facto, de uma experiência única, quase mística, que nos devolve o orgulho pelo “ser português”. Sem atavismos ou sentimentalismos “bacocos”. E tudo o que consiga dizer é pouco, quando se experimenta esta sensação colectiva, que termina ao som de coros alentejanos. Segue-se uma experiência virtual em direcção ao fundo do mar, onde são descobertos objectos de navios naufragados, e uma painel bem proporcionado, onde abundam todo o tipo de informações sobre o planeta. E onde vemos, inclusivamente, o cenário virtual de parte de Lisboa submersa no ano 2098, depois da subida do nível da água do mar, resultado do efeito de estufa. Atenção para o momento final, onde surge a foto de cada visitante no painel, tirada no momento da entrada sem nos apercebermos, onde a mensagem a transmitir é a de que, afinal, somos todos responsáveis pelo meio ambiente.
Pavilhões Internacionais
Já quase sem fôlego, mas depois de um almoço revigorante, quando ainda haviam “stocks”, que viriam a acabar rapidamente, seguiu-se uma ronda por vários dos pavilhões internacionais já concluídos. Suécia, Holanda, Polónia, Finlândia e Argélia, foram alguns dos países já com os respectivos espaços abertos. O destaque vai indiscutivelmente para o primeiro: constituído por quatro ovos gigantes, cada um representando uma estação do ano, os visitantes são confrontados com climas bem distintos. A experiência é exclusivamente sensitiva. Em compartimentos fechados, da amena primavera, experimentamos um verão deveras quente – ao nível de uma sauna -, passando para uma forte ventania no outono – desaconselhável a quem leve saias esvoaçantes -, e um frio rigoroso no inverno. Pouco aconselhável aos que se constipam com relativa facilidade. A próxima etapa era bastante aguardada. O teleférico, para o qual havia uma fila descomunal, não desiludiu. Visitar o recinto através deste meio de transporte é outra das experiências obrigatórias. Uma visão panorâmica do recinto sobrevoando a margem do Tejo, é o convite que, a partir do dia da inauguração, custará 500 escudos por pessoa. Entretanto, refira-se que o bilhete de entrada dá acesso a todos os pavilhões e atracções da Expo’98, menos ao Pavilhão da Realidade Virtual – ainda em fase de conclusão de obras – e ao teleférico.
Maior Oceanário da Europa
Ao sul, o Oceanário. O maior da Europa e segundo maior do mundo, provocou a maior enchente. Foi impressionante ver milhares de pessoas à espera que chegasse a sua vez de entrar no aquário gigante que recria quatro diferentes habitats oceânicos, algumas enfrentando mais de três horas de fila. Mas todas elas com um sorriso de satisfação depois da visita. Uma vez mais é difícil descrever tamanha experiência. O tanque central (onde se juntam milhares de espécies), a colónia de pinguins e as lontras, às quais se juntou recentemente um novo rebento, constituem as principais atracções deste mundo natural, perfeitamente visíveis a andar à vontade no seu ecossistema natural. (Mais) Um deslumbramento! Cansados? Mas a noite ainda nem começou! A Peregrinação é o espectáculo de rua, com um desfile diário de 11 máquinas fantásticas, que faz a transição entre os dois períodos bastante distintos da Expo. Durante o dia, para além de tudo o que descrevemos existem mais um sem número de atracções: o Pavilhão do Conhecimento dos Mares, os pavilhões de cerca de 150 países e organizações nacionais e internacionais, a exibição náutica – com dezenas de embarcações originárias de todo o mundo -, a marina, as calçadas, os jardins Garcia da Orta, os jardins da Água, as fontes que fazem “explodir” água para cima dos visitantes, os olharapos – cerca de 60 criaturas exóticas com o objectivo de animar e surpreender os visitantes -, ou a magnífica Torre Vasco da Gama, uma espécie de Torre Eiffel, com os seus dois elevadores, dispondo de um restaurante à altura de 85 metros, proporcionando uma vista panorâmica sobre todo o recinto.
Noites animadas
Mas estamos então no começo da noite. Depois do jantar – em restaurantes de cozinha típica de vários países ou em qualquer tipo de fast-food”, para todas as bolsas e gostos – o recinto fervilha de animação (aliás, a Expo vai ser uma festa permanente ao ar livre). Ao percorrê-lo, encontramos uma série de dez pequenos palcos, com espectáculos de índole diversa. Bandas de rock alternativo, artes circenses, música africana, bandas filarmónicas, espectáculos de dança… de tudo um pouco, todas as noites. Isto, para além dos inúmeros bares e restaurantes abertos até às duas horas e meia da madrugada. Não há que ter dúvidas, o centro da animação nocturna da capital passará inevitavelmente por aqui. O anfiteatro na Doca dos Olivais com capacidade para 1800 espectadores, situado junto a um palco flutuante, prestar-se-á à realização de grandes eventos de música, teatro ou dança, concertos multiétnicos e espectáculos multimedia experimentais. O Teatro Camões é outro dos espaços nobres, preparado para receber os principais espectáculos de ópera, teatro, variedades e musicais. O Acqua Matrix, um espectáculo multimedia, todas as noites a partir das 23.30 horas na Doca dos Olivais, constitui a grande apoteose nocturna. Luz, som, jactos de água e muito fogo, num efeito inovador, que foi dado a experimentar apenas numa parte, o que deixou, no dia do ensaio geral, milhares de pessoas furiosas à espera de muito mais… Mas, logo seguiram para o denominado Midnight Tea, na Praça Sony, onde presenciaram uma breve introdução ao que poderá vir a ser o seu espaço de dança, com os DJs Tó Ricciardi e António Cunha. A mesma praça receberá, antes, espectáculos de grupos bem conhecidos. A principal atracção é o video-gigante, Jumbotron, que transmitirá, por exemplo, os jogos do mundial de futebol em directo.
Eduardo Marino