[ Edição Nº 21 ] – Presidente do Clube Naval Setubalense acredita numa boa representação de Setúbal na Expo'98.

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          Setúbal na Rede – Qual é a importância , para a cidade de Setúbal, da participação do Hiate na Expo’98?
          Jorge Costa
– O Clube Naval Setubalense foi convidado, pela organização da Expo, a fazer-se representar na Exposição Náutica, apenas durante uma semana, através do Hiate de Setúbal, propriedade nossa. Depois de várias conversas e, devido ao interesse que eles mostraram pelo Hiate, conjugado com o nosso interesse em mostrar alguma coisa de Setúbal, chegámos à conclusão que era necessário fazer mais. Assim decidiu-se que a Expo dar-nos-ia uma semana de representação por cada mês, e nós iríamos contactar entidades representativas da cidade para se fazerem representar na Expo’98 durante essas semanas. Claro que a ideia foi do agrado de toda a gente, pois que nós, navalistas, dispensámos o barco com a ideia de podermos representar a cidade de Setúbal. Ou seja, através do Hiate, podemos agora representar um pouco desta cidade que tem muita coisa para mostrar. Sob essa base fomos falar com as entidades que considerámos importantes para representar Setúbal: a Região de Turismo Costa Azul, a Câmara Municipal de Setúbal, a Associação de Municípios, a Associação Empresarial da Região de Setúbal, AERSET, e a empresa Navigomes, de Luís Filipe Gomes, uma pessoa que, desde sempre tem apoiado o Naval, incluindo a reconstrução do Hiate de Setúbal. Por ser um despachante não pode fazer propaganda ao seu trabalho mas, mesmo assim, como é muito agarrada a Setúbal, a Navigomes decidiu distribuir tudo o que é propaganda referente à cidade de Setúbal.
          SR – Acha que Setúbal está bem representada na Expo’98?
          JC
– Temos tido algumas dificuldades porque a organização da Expo, sob o pretexto de não querer ajuntamentos de pessoas (se calhar, a pensar no triplo dos visitantes que lá têm ido) não nos permitiu dar corpo ao programa que estávamos a elaborar para o espaço em frente ao barco e até mesmo na própria embarcação. Assim, para não criar filas, porque aquilo é um sítio de passagem, não podemos levar animação e música, nem distribuir uns copos de moscatel de Setúbal. No entanto, apesar das limitações, estamos muito bem representados. Especialmente se tivermos em conta que temos uma localização óptima e até nisso tivemos sorte porque estava destinado o cais nº 4, num local mais apagado, mas devido ao porte do navio de Macau, os lugares foram trocados e acabámos por ficar no cais nº 2, um local com maior visibilidade dentro da Exposição Náutica. Os rapazes e raparigas do Instituto da Juventude têm sido incansáveis, a guiar os turistas e a animar o local, mas a organização disse-nos logo que não queria paragens na zona. De resto, está tudo bem e quanto à representação de Setúbal, toda a gente acha piada que um clube amador se tenha metido a fazer uma obra daquelas. É que todas as outras embarcações, ou são de grandes sociedades ou pertencem a autarquias. Por isso as pessoas acham muito bonito fazer isto e acredito que fazemos o que nos foi possível.
          SR – Pode-se interpretar essa frase como uma afirmação de que, se não fosse a iniciativa do Naval, Setúbal não estaria na Expo’98?
          JC
– Sim, acredito que é isso. Ou pelo menos não estaria representada com tanta visibilidade como nós estamos agora. Talvez lá estivesse um homenzinho a fazer os queijos de Azeitão e pouco mais…
          SR – A representação de Setúbal na exposição mundial de Lisboa tem custos financeiros. Quem os suporta?
          JC
– Os custos estão calculados em 4.500 contos, e quem paga são as entidades que lá estão representadas, de uma forma mais ou menos igual. Ou seja, a Câmara dá um pouco mais, cerca de 1.500 contos, e as outras entidades comparticipam ligeiramente abaixo dessa média de valores. A Região de Turismo mandou fazer desdobráveis sobre a Costa Azul, para oferecer aos visitantes, enquanto o Naval, que não é um clube rico, paga os uniformes dos nossos jovens guias culturais.
          SR – Porque é que o Hiate não permanece mais tempo, durante o mês, na Expo’98?
          JC
– Porque temos outros compromissos, como por exemplo as regatas em que vamos participar, no rio Tejo, também no âmbito da Expo, para além dos compromissos assumidos com estudantes e grupos de turistas para as habituais visitas ao estuário do Sado, durante os meses de Verão. No entanto, não será por causa dos nossos afazeres que o Hiate não estará mais tempo em exposição. Se formos solicitados para mais, estaremos à disposição.
          SR – É graças à presença do Hiate de Setúbal na Expo’98 que as entidades representativas da cidade vão ter lugar na Nave do Território. De que maneira foi decidida essa participação?
          JC
– Na sequência do acordo que fizemos com a organização, em cada semana de presença do Hiate, em que a organização das actividades corresponde a uma das entidades parceiras, essa mesma entidade tem direito a um dia de presença na Nave do Território. Desta forma, teremos todos os nossos parceiros representados na Nave do Território, durante pelo menos um dia. Como aí o espaço é mais aberto, será a altura própria e o local próprio para realizar exposições, mostras e colóquios, relativos a cada uma das entidades de Setúbal que ali vão estar representadas, à excepção da Navigomes que, por ser um despachante, ou seja, uma entidade privada, não viu permitida a sua presença e a divulgação do seu trabalho.

           Há 75 anos que falta dinheiro

          SR – O Clube Naval Setubalense está a assinalar 75 anos de existência. Como têm decorrido as comemorações.
          JC
– As comemorações têm sido realizadas durante todo o mês de Maio, através de actividades desportivas com os mais jovens e também através de actividades desportivas de competição. Dou-lhe como exemplo, o grande concurso de pesca de alto mar, cujo primeiro prémio rondou os 600 contos. Todos os prémios deste concurso, tal como de muitos outros que promovemos, são oferecidos pelas mais diversas entidades, o que só mostra que o Clube Naval é, de facto, e nós fazemos com que ele seja, um dos mais considerados clubes amadores de Setúbal.
          SR – De quantas modalidades dispõe o clube?
          JC
– Diversas, e vão desde a natação ao basquetebol, passando pelo remo e pela vela, com todas as modalidades, para além das actividades subaquáticas. Temos campeões do mundo em algumas modalidades desportivas e alguns campeões da Europa. E para quem não sabe, todos eles são jovens de Setúbal, e todos revelam um enorme potencial. Ao todo, movimentamos mais de dois mil atletas, entre jovens e adultos, uns federados e outros não.
          SR – Mas apesar de ser tido como um clube de qualidade e de lhe ser publicamente reconhecido o esforço que faz junto dos mais jovens, o Naval nunca viu esse reconhecimento traduzido em números?
          JC
– Infelizmente continuamos com problemas de dinheiro, principalmente por uma série de injustiças neste país,. Por exemplo, nós que somos um clube amador, pagamos impostos como qualquer empresa. É uma coisa que não acho, de forma nenhuma, admissível porque, para além de tudo o mais, somos nós, os clubes amadores, quem está a fazer o trabalho que compete ao Estado, na educação física e desportiva das crianças e da população em geral. E, depois o mais ridículo é que pagamos para o fazer, em vez de ser ao contrário. É assim que eu vejo os impostos que somos obrigados a pagar. Isto é um roubo, não tem outro nome.
          SR – E as verbas que a Câmara de Setúbal disponibiliza anualmente?
          JC
– Este ano ainda não sabemos o que nos vai calhar do pacote de subsídios decidido pela autarquia para as colectividades. Mas para ter uma ideia, digo-lhe que no ano passado foram-nos dados cinco mil contos e, como presente de aniversário, deram-nos este mês, outros 5 mil. O Governo Civil também nos disponibilizou verbas, para além dos nossos mecenas, as entidades particulares que sempre ajudaram o Naval.
          SR – Considera essas verbas insuficientes para as despesas do Naval?
          JC
– Claro, mas quem, para além da Câmara, tem a obrigação de financiar o clube é o Instituto Nacional do Desporto que não parece preocupar-se com isso. Ou seja, andamos há anos a solicitar verbas e, de vez em quando lembram-se e dão 750 contos. Isto sabendo nós que eles conhecem muito bem o Naval e sabem que é um dos melhores clubes desportivos a nível nacional. Aliás, concorremos mesmo a um prémio nacional, promovido pelo Instituto do Desporto, que visa galardoar o clube que mais gente movimente, que mais actividades desenvolva, que mais implantação tenha na região e que, juntando a tudo isto, não tenha dívidas à Segurança Social e às Finanças. Nós, felizmente, preenchemos quase todos os requisitos, especialmente estes dois últimos. E por não devermos nada a ninguém, não conseguimos ter dinheiro para tudo. Só para ter uma ideia, só em 1997, o Clube Naval Setubalense movimentou cerca de 140 mil contos. No entanto, para conseguirmos evoluir, e principalmente, remodelar algumas áreas do clube que têm a bonita idade de 75 anos (e que por isso já estão degradadas), precisávamos de uns bons 50 mil contos a mais.

Entrevista de Etelvina Baía     

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