Edição Nº 21, 25-Mai.98
AVISO À NAVEGAÇÃO !!
por Rogério Severino (Jornalista do “Jornal de Notícias”)
Os setubalenses têm que acordar,
deixar a letargia e saber dizer “Não”
Muitas pessoas pensam, erradamente, que o Castelo de S. Filipe foi para proteger a então Vila de Setúbal dos espanhóis, no tempo da ocupação filipina. Pelo contrário, os espanhóis construíram o castelo para se protegerem dos setubalenses que não perdiam uma oportunidade para os apedrejar, o que era uma forma de protesto contra os ocupantes. Lamentavelmente, esses setubalenses lutadores pela sua cidade só deixaram raízes até 1910. Agora, os setubalenses são passivos e deixam-se ocupar. Temos a faculdade de usar o direito à indignação e não vamos aqui polemizar nem tomar posição se Azeitão deve ou não ser Concelho. Deixemos isso para as instâncias da democracia burguesa. O que queremos aqui analisar é a incapacidade, o amorfismo, a falta de vontade da comunidade setubalense que, perante uma possibilidade de ver o seu Concelho retalhado não reagiu, não mexeu um dedo, continuou no deixa-andar. Pelo contrário, muitos dos azeitonenses vieram a Setúbal, assistiram à Assembleia Municipal e reagiram num processo que lhes diz respeito, usando as faculdades de manifestação conferidas. Continuamos sem encontrar explicação para esta passividade dos setubalenses que não reagem, nem a favor nem contra e o mais grave é nem sequer se incomodarem mesmo quando a unidade concelhia pode estar em causa. Quase que estamos convencidos que se os espanhóis voltassem outra vez, os actuais setubalenses se deixavam ocupar. Desde que lhes deixassem ver as telenovelas brasileiras, desde que ! os deixassem continuar a acompanhar as polémicas do Benfica, Sporting, Futebol Clube do porto ou Alverca, Setúbal poderia ser uma cidade ocupada sem qualquer reacção dos seus habitantes, nomeadamente os seus naturais. E falamos na ocupação no verdadeiro sentido da palavra porque sob o ponto de vista económico a “baixa” de Setúbal já está sitiada com a ocupação espanhola do comércio nos lugares nevrálgicos. Lamentamos a falta de sentido de cidadania dos nossos conterrâneos. Deviam incomodar-se, preocupar-se, informar-se, sobretudo quando é a própria cidade que está em causa. Os azeitonenses preocuparam-se, vieram a Setúbal exigir e lutar á sua maneira, dizendo “presente”. Os setubalenses ficaram ligados à televisão. Aliás, dia de “Donos da Bola”, com entrevista a Ronaldo e Assembleia do Benfica é, para os nossos conterrâneos, mais importante do que Setúbal poder ser ou não afectada na sua unidade. Esta apatia é o resultado da influência da televisão que tirou aos cidadãos a capacidade de reagirem e é também o resultado o desinteresse das querelas partidárias e isso viu-se também na Assembleia Municipal em que os elementos socialistas “traíram” o Presidente da Câmara, Mata Cáceres, que é diametralmente contra a criação do Concelho de Azeitão e sabe que os seus maiores inimigos estão no seio do seu Partido. Mas as “facadinhas nas costas” têm custos políticos e agora sabe-se bem quem é que deseja a mutilação do Concelho, sabe-se quem foi eleito para defender Setúbal e a troco de, sabe-se lá de quê (ou sabe-se que Organização estará por detrás do núcleo duro do PS na Assembleia Municipal?) puseram em causa a unidade do Concelho. Os jogos de bastidores provocam muitas vezes o aparecimento de Miguéis de Vasconcelos e é bom que os eleitores disso não se esqueçam porque quem vota hoje contra a unidade de Setúbal votará amanhã por qualquer situação mais gravosa contra a cidade e o Concelho.
Tivessem os nossos conterrâneos de agora a mesma fibra dos nossos antepassados, daqueles que deixaram o nome gravado a letras de ouro na História da Cidade, e nada disto sucederia. É preciso acordar os setubalenses para defenderem a sua cidade, para reagirem, incomodarem, tomarem posição. Se isso já tivesse acontecido talvez hoje não continuássemos a sofrer os efeitos de Lisboa e da sua macrocefalia. Não é preciso que os setubalenses vistam armaduras e venham combater para a Praça do Bocage: basta tão somente que nas alturas próprias se saibam unir e exigir e dizer “Não”.