Edição Nº 25, 22-Jun.98
Aeroporto em Rio Frio é uma questão nacional
A instalação do novo aeroporto internacional de Lisboa, em Rio Frio, “é a única forma de potenciar o desenvolvimento sustentado de Lisboa, para que possa competir com Madrid, em termos de protagonismo ao nível da União Europeia”. A frase é de Jerónimo Matias, deputado comunista eleito por Setúbal, e foi proferida na Terça-feira, dia 16, durante uma sessão de esclarecimento promovida pela Câmara de Palmela.
“Este tipo de competição não seria possível, se o aeroporto ficasse instalado na Ota”, em Alenquer, ou seja, fora da Área Metropolitana de Lisboa, referiu o deputado que aproveitou para reforçar a ideia de que a escolha de Rio Frio para a instalação do novo aeroporto “é uma questão de interesse nacional” porque “na Europa das regiões não há contemplações e, ou Lisboa cresce ou seremos definitivamente esquecidos”. E a questão de Rio Frio é colocada em termos nacionais porque segundo o parlamentar comunista “basta assistir a uma reunião de Bruxelas, para perceber que Madrid tem um enorme peso junto da Comunidade, o que significa mais investimento para aquela região espanhola”. Para Joaquim Matias o caso é tanto mais grave, quanto se sabe que, “devido às indefinições sobre a futura localização, os empresários portugueses andam a fazer negócios através do aeroporto de Madrid”.
As ditas indefinições, aliadas a “um estranho secretismo” em torno dos estudos sobre as duas hipóteses de localização, levaram o presidente da Câmara de Palmela, Carlos de Sousa, a lamentar o facto de serem os “mais interessados neste assunto, as autarquias e a população, quem não tem qualquer informação sobre o andamento do processo e muito menos é achado para discutir o assunto com o Governo”. Mas as críticas de Carlos de Sousa vão mais longe porque os autarcas e empresários do “Lobbie por Rio Frio” continuam à espera da resposta do ministro do Planeamento, João Cravinho, sobre a proposta de criação de uma Comissão Conjunta (com representantes da Ota e de Rio Frio) para acompanhar o processo de estudo e de escolha da localização. Quanto a notícias vindas a público sobre uma eventual decisão sobre a localização até ao final deste ano, Carlos de Sousa diz que não acredita porque, antes disso há que fazer um estudo de impacte ambiental e, segundo parece, está agora a ser iniciado.
Questionados pela assistência sobre a real importância da vinda do aeroporto para Rio Frio, Jerónimo Matias e Carlos de Sousa foram unânimes em referir que “este é um projecto que, antes de beneficiar o país, vai trazer benefícios a toda a Área Metropolitana de Lisboa, com impactos positivos no Alentejo”. Para estes dois políticos, as consequências são simples de ver: “cerca de 10 mil postos de trabalho directos a criar pela infra-estrutura e captação de investimentos para a região, o que poderá trazer a toda esta área um desenvolvimento sustentado e sustentável”. Ainda segundo estes responsáveis, a favor de Rio Frio está a rede de acessibilidades a Lisboa, e à própria rede rodoviária internacional, a qualidade do terreno em causa para a instalação das pistas, e o facto de (contrariamente ao que se verifica na Ota) a zona em causa estar situada fora dos grandes centros urbanos. Para os defensores de Rio Frio, estes dados são tão válidos agora “como o eram há cerca de 30 anos” quando se fez o primeiro estudo para a construção de um aeroporto internacional em Rio Frio.