[ Edição Nº 33 ] – Boom Festival recebeu mais de três mil pessoas.

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barra-2596964 Edição Nº 33,   17-Ago.98

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Hippies da nova era invadiram Herdade do Zambujal
Boom Festival recebeu mais de três mil pessoas

           Mais de três milhares de incondicionais entregaram-se ao ritmo contagiante da música Goa Trance-Psicadélica durante os três dias do Boom Festival. A Herdade do Zambujal foi novamente procurada por gente de todo o mundo, unidos num único espírito. O ambiente fluorescente repetiu-se no meio de uma floresta que parecia saída de outro planeta. No entender dos organizadores, a festa saldou-se por “uma das melhores reuniões de pessoas e de energias que fizemos até hoje”.           Os habitantes de Setúbal devem-se ter surpreendido pela quantidade de jovens que se passearam durante os passados dias 8, 9 e 10 com pulseiras cor de laranja fluorescente, como se pertencessem a alguma “tribo”. Tratavam-se apenas de fãs incondicionais de música Goa Trance-Psicadélica, a aproveitar alguns dos momentos de descanso que lhes permitia um festival esgotante (a música na pista principal tinha início às 20 horas e acabava ao meio dia), o Boom Festival, que se realizou na Herdade do Zambujal, pelo segundo ano consecutivo.

          De sexta feira a domingo, foram cerca de três mil e quinhentas as pessoas que passaram pelo recinto a céu aberto, no meio da floresta, iluminado apenas por luzes negras que acentuavam a decoração fluorescente, dando ao espaço um aspecto surreal. Ao contrário das expectativas não se chegou a alcançar os cinco mil visitantes previstos, devido essencialmente à realização em simultâneo do Festival de Música do Sudoeste, que desviou algum público nacional. Razão pela qual o Boom foi ainda mais “selecto” e “fundido” que no ano passado, segundo adjectivos utilizados por Diogo Ruivo, um dos elementos da produção do Festival, que classificou esta edição como “muito interessante”.

          Sem o número de portugueses esperados, restaram os adeptos mundiais envolvidos na cena Trance, que foram responsáveis por “uma das melhores reuniões de pessoas e de energias que fizemos até hoje”, referiu em tom de balanço Diogo Ruivo. Na hora da despedida “houve até artistas a chorar e a dizer que este foi o melhor festival da vida deles”. Estiveram presentes cerca de vinte DJs e bandas, representando o que de melhor e mais inovador se faz a nível mundial. Uma nota curiosa e que espelha a importância crescente desta “onda”: mais de trinta japoneses vieram propositadamente a Portugal para visitar o seu ídolo, o DJ Chika, que actuou no segundo dia do Boom.

          Para o ano, talvez…
          Uma vez mais o espaço, bastante amplo, dividia-se por vários sectores: a pista principal, onde o melhor do Goa Trance não dava descanso aos corpos; o “free-market”, zona de mercado livre onde era impossível não gastar uns trocos em produtos únicos, condizentes com o festival; o “chill out”, com gente espalhada por “puffs” e tapetes persas bebendo o seu “chai” (uma espécie de chá com leite e muitas ervas aromáticas e gengibre) descontraidamente; a zona de expansão, onde qualquer pessoa se podia inscrever para passar a música que desejasse, desde que não fosse Trance (de uma forma geral, apenas se encontravam os próprios DJs e os respectivos amigos nesta pista, onde se chegou a ouvir bandas sonoras dos filmes de Fellini); e o “kindergarten”, espaço que serviu as mais de cem crianças trazidas pelos respectivos pais; para além de uma área própria para estacionamento e acampamento.

          Como salientam Diogo Ruivo e Pedro Carvalho, da produtora Good Mood, responsável pelo evento, os adeptos do Goa Trance são de uma maneira geral “pessoas que se identificam com a natureza, que zelam por ela, que se sentem parte do Universo. Que se preocupam mais com a harmonia e a paz do que com as guerras. Que defendem mais a qualidade do que as marcas e os preconceitos. São como que uma enorme família, embora oriundo de todo o mundo e falando várias línguas, adaptaram uma, a comunicação entre os seres abolindo barreiras. Não é uma religião, mas um movimento”.

          A cena Goa Trance teve o epicentro na Índia, local onde gente de todo o mundo se reúne regularmente para celebrar. Foi dessa mistura de mundos e dessa troca de conhecimentos e de culturas que nasceu o movimento. “Como música pode dizer-se que o Goa Trance é música clássica transportada para música de dança. É sofisticada, mantém um ritmo elevando até ao transe corporal e por cima de tudo isto mistura complicadas melodias que estimulam a massa cinzenta de qualquer pessoa”, descrevem os produtores do evento, que colocam algumas dúvidas quanto à realização de uma terceira edição do Boom, pelo menos “as we know it”. “Podemos fazer uma coisa do mesmo género, mas diferente”. Diferente ou igual, que seja em noites de lua cheia tal como aconteceu até aqui.

Eduardo Marino     

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