[ Edição Nº 36 ] – Carlos Carvalhas encerra Festa do Avante com críticas à esquerda e à direita.

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barra-3664467 Edição Nº 36,   07-Set.98

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Carvalhas encerra Festa do Avante
Com críticas à esquerda e à direita

           Enganou-se quem pensou que, por causa da parceria com o PS para a regionalização, o secretário geral do Partido Comunista Português iria aligeirar o discurso de encerramento da Festa do Avante. Mais uma vez as críticas foram da direita à esquerda e o partido do Governo acabou sendo o mais severamente criticado.           O comício de encerramento da Festa do Avante, que na prática significa o início do ano político dos comunistas, voltou a reunir em volta do palco 25 de Abril, na Quinta da Atalaia, largos milhares de comunistas e simpatizantes para ouvirem o discurso do secretário geral do PCP, Carlos Carvalhas.

          Um discurso de 17 páginas e algum improviso onde, tal como se esperava, Carvalhas relembrou os problemas sociais do país, desde o desemprego aos projectos de revisão das leis laborais, passando pelas lutas estudantis e pela regionalização, insistindo sempre no apelo à militância no Partido Comunista e no apelo ao voto no PCP nas eleições legislativas do próximo ano. Isto porque para Carvalhas, “o PCP continua a ser o único partido dos trabalhadores e o único que se assume como a oposição em Portugal”.

          A crítica foi direitamente para o PSD que, segundo Carvalhas, “está a brincar à política com o futuro dos trabalhadores portugueses”. O dirigente comunista que aproveitou para classificar a governação de António Guterres de política “neoliberal e de alternância do PSD, quando devia era ser uma alternativa”, acusou o executivo central de sujeitar a política nacional aos poderes económicos e de privatizar sectores considerados essenciais para a vida pública.
          E se as críticas foram duras quanto à alegada aproximação entre o PS e a direita na oposição, e quanto às privatizações e à prevista revisão da lei laboral, muitos mais duras foram as que levaram o PCP a garantir ser o único partido em condições de ser alternativa ao poder instituído. É que para o secretário geral dos comunistas, em vez de Governar, o PS limitou-se a fazer “um rotativismo de poder, sem qualquer medida benéfica para o povo português”. E por isso, os comunistas assumem-se como a única alternativa credível aos socialistas nas legislativas de Outubro de 1999, o que de acordo com Carvalhas seria “a consagração dos direitos dos portugueses, de todos os trabalhadores, dos reformados e de todos os sectores da sociedade”.           Sempre incisivo nas críticas efectuadas ao governo socialista, o secretário geral do PCP não se esqueceu de falar da regionalização, um dos ‘cavalos de batalha’ dos comunistas, isto apesar de tanta crítica à conjugação de esforços dos dois partidos para levar por diante a divisão administrativa do país.           Garantindo tratar-se de um benefício para todos os portugueses, Carlos Carvalhas voltou a defender a criação das oito regiões (sendo a maior delas a do Alentejo) e a garantir que regionalizar significa progresso, evolução e o protagonismo das respectivas populações.           Com o discurso político de cerca de uma hora, o secretário geral dos comunistas deu por encerrada mais uma edição da Festa do Avante, um certame considerado como o maior evento político anual do PCP e a maior realização cultural do país.

          Durante três dias passaram pela Quinta da Atalaia, no Seixal, muitas dezenas de milhar de visitantes, entre comunistas e curiosos, para assistirem aos muitos concertos realizados nos diversos palcos montados no recinto, verem as exposições de diversos países representados no certame e assistirem a um vasto leque de manifestações culturais e políticas que durante três dias animaram o recinto.

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