Edição Nº 36, 07-Set.98
PSD contra a regionalização
Acusa PS e PCP de “negociatas’ políticas
Francisco Cardoso Ferreira, deputado do PSD eleito por Setúbal, é contra o princípio da regionalização por considerar que traz mais inconvenientes que vantagens para os portugueses. Em vez disso, defende mais poderes para os municípios e, pelo meio, acusa socialistas e comunistas de quererem dividir o país por razões políticas.
Setúbal na Rede – Como é que o PSD encara a regionalização?
Cardoso Ferreira – Consideramos que se trata de dividir o país, por vontade de alguns políticos e não das populações. Parece-me mais uma forma de criar pequenos primeiros ministros e de aumentar o peso da máquina administrativa. Em vez disso, o que se deve fazer é apostar na municipalização, através do aumento dos poderes e das verbas dos municípios porque todos sabemos que essas são estruturas funcionais. Os municípios são experiências testadas e a eles se deve muito do desenvolvimento do país.
SR – Então, não vê qualquer vantagem na divisão administrativa do país?
CF – As regiões têm mais inconvenientes que vantagens. Porquê criá-las se vão provocar maiores assimetrias no país, com as mais ricas a reforçarem o seu poder e as mais fracas a ficarem cada vez mais pobres? E para além de tudo o mais, este processo pode levar à desagregação da unidade nacional porque numa altura em que a Europa pede coesão e é muito importante o país falar a uma só voz, corremos o risco de termos mais oito pequenos aprendizes de primeiros ministros em Bruxelas, cada um a reivindicar para seu lado. Depois toda a gente sabe, porque Bruxelas já o desmentiu, que não é vantajoso para Portugal dividir-se em regiões e que, ao contrário do que dizem o PS e o PCP, não é disso que depende o nosso progresso. Esta é uma forma de enganar as pessoas e de as levar a decidir uma questão que é meramente política. Aliás, é cada vez mais difícil encontrar um socialista convicto nesta matéria porque eles adoptaram a regionalização como cavalo de batalha e agora, mesmo que o queiram, não conseguem descalçar esta bota.
SR – No entanto, foi o PSD que pediu o referendo sobre a regionalização.
CF – Sim, e essa foi uma grande vitória porque é graças a esta nossa iniciativa que os portugueses vão poder pronunciar-se sobre este assunto. Caso contrário, já lhes teriam imposto um mapa dividido ‘à martelada’. É que o PS e o PCP dividiram o país à socapa, fizeram uma negociata e preparavam-se para impor esta novo mapa ao país sem qualquer consulta. Nós actuámos porque consideramos muito grave que para satisfazer clientelas partidárias alguns deputados peguem num papa e comecem a traçar regiões a torto e a direito sem falar com os portugueses sobre o assunto.
SR – Que implicações poderá trazer a integração de Setúbal na região de Lisboa?
CF – Se há zona do país que não tiraria qualquer vantagem da regionalização, essa zona é a península de Setúbal porque acabaria, definitivamente, por ser uma periferia da capital e cada vez mais à mercê da Grande Lisboa. Por seu lado os municípios do distrito a sul do rio Sado passariam a ser mais uns, sem expressão, no seio de um grande Alentejo.
SR – Se o PSD acredita que esta regionalização é um processo imposto aos portugueses, não teme que no referendo de dia 8 de Novembro se possam verificar os níveis de abstenção ocorridos no referendo sobre o aborto?
CF – Não, por uma razão muito simples. É que este processo é político, os partidos estão todos empenhados e a tomar posições sobre a matéria e os eleitores têm melhor orientação e informação do que no referendo anterior. Acredito que os portugueses vão dizer de sua justiça e estou convicto de que vamos dizer não. Aliás, há aqui um dado que é importante referir. É que se esta necessidade de regionalizar fosse verdadeira, teria surgido de baixo para cima, ou seja, das populações para as cúpulas. E não é isso que se verifica, portanto pelas sensibilidades que tenho vindo a recolher nos contactos com a população de norte a sul do país, estou convicto de que a regionalização não vai passar.
SR – O que é que acontece se a regionalização passar e se, ao mesmo tempo, os eleitores chumbarem alguns dos traçados das regiões?
CF – Essa é uma boa pergunta e parece-me que nem o Governo é capaz de lhe dar resposta. A questão que se coloca aos portugueses a propósito da regionalização do país é uma mera manipulação, porque ninguém sabe o que será deste processo se os portugueses ‘chumbarem’ o traçado das suas próprias regiões. Todos sabemos que esta é uma luta política em que a população não se revê mas onde, por outro lado, muitos autarcas já se vão assumindo como dirigentes regionais.
SR – O PSD já definiu estratégias quanto à sensibilização da opinião pública ?
CF – Sim, temos um conjunto de iniciativas que passam pelos tempos de antena, na televisão, quando começar a campanha eleitoral. Mas a sensibilização já começou com a colocação de cartazes, e a partir desta Segunda feira vamos começar criar panfletos e acções de rua, para além de promover debates com os defensores e os opositores da regionalização. Queremos envolver nestes debates gente de partidos e sensibilidades diferentes porque o que é necessário, em todo este processo, é que a população fique bem esclarecida para poder votar em consciência.
Entrevista de Etelvina Baía