[ Edição Nº 36 ] – Arqueólogos e investigadores garantem que Setúbal está em cima de uma cidade romana.

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barra-6800182 Edição Nº 36,   07-Set.98

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Arqueólogos e investigadores garantem
Setúbal está em cima de uma cidade romana

           A equipa de arqueólogos e investigadores, liderada pelo director do Museu de Arqueologia do Distrito de Setúbal descobriu o passado da zona urbana da cidade. Nas fundações da baixa de Setúbal está uma urbe fundada pelos romanos no século II d.C.           A descoberta feita pela equipa de arqueólogos do Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal veio confirmar as suspeitas de há muitos anos. As escavações que terminaram há cerca de um mês puseram a descoberto um espaço público e monumental da época da ocupação romana, na Travessa de João Galo, mesmo no centro da cidade.

          A descoberta foi efectuada na fase final das escavações iniciadas há cerca de 10 anos, e vem confirmar a existência de uma autêntica cidade romana, cujo centro administrativo e religioso se supõe estar localizado na colina de Santa Maria, como adiantou ao “Setúbal na Rede” o director do Museu de Arqueologia, Carlos Tavares da Silva. Segundo o investigador, “trata-se da confirmação daquilo que sempre defendemos, ou seja, de que Setúbal teria sido para os romanos uma das mais importantes zonas de comércio da Península Ibérica, tão importante que os ocupantes terão decidido transformá-la numa urbe”.

          O vestígio mais importante da Setúbal romana monumental, encontrado durante as escavações efectuadas pela equipa de arqueólogos, é a cornija da fachada principal de um dos mais imponentes edifícios construídos pelos romanos no século II, e que na altura da retirada dos ocupantes foi quase totalmente desmantelado.           Este elemento arquitectónico que testemunha a fase monumental da Setúbal romana, pesa cerca de 3 toneladas e tem quase 4 metros de comprimento. Transportado do local onde foi descoberta, a cornija encontra-se na placa central da Avenida Luísa Todi, junto às instalações do Museu de Arqueologia, à espera de vir a ser instalada num espaço verde da cidade. A medida está já em estudo ,através dos serviços da autarquia em colaboração com o director do Museu de Arqueologia.           A estes novos dados sobre o passado de Setúbal, juntam-se as descobertas feitas há cerca de cinco anos na Praça de Bocage, em cujas fundações foi encontrado o ‘coração’ do sector industrial e comercial da Setúbal romana, a chamada restinga, que se estendia até ao actual Largo da Misericórdia.           Neste perímetro da antiga urbe setubalense estão enterradas algumas das provas da ocupação romana, como é o caso das salgas de peixe e das instalações de preparados piscícolas. Um dos maiores exemplos deste legado conseguiu ver a luz do dia: trata-se de uma estação de salga de peixe, encontrada na base do edifício que hoje alberga a Região de Turismo da Costa Azul, e que por vontade da autarquia e do próprio museu, está hoje visível ao público através de um chão totalmente coberto de vidro.

          A mesma sorte não estava reservada ao espólio deixado pela ocupação romana no perímetro hoje ocupado pelo edifício do Montepio Geral. É que, segundo Carlos Tavares da Silva “apesar de anos de negociações, a administração acabou por se mostrar indisponível à exposição pública destes achados”. Uma atitude que Tavares da Silva lamenta, por considerar que o património arqueológico de Setúbal faz parte da história e da cultura da própria cidade.

          As raízes de Setúbal
          A importância da ocupação romana da zona ribeirinha de Setúbal, ao nível da consolidação de um espaço urbano e do crescimento económico que deu origem a uma das maiores e mais bem estruturas urbes da época medieval, parece ser um factor inquestionável para os arqueólogos estudiosos desta matéria.           Segundo as investigações de Carlos Tavares da Silva, os romanos vieram imprimir aos povos autóctones um novo cunho cultural e de ordenamento social decorrente das actividades mercantis introduzidas, para além do enorme significado económico da salga do peixe e da exploração dos preparados piscícolas, actividades também introduzidas nesta zona ribeirinha pelos povos romanos e que permanecem na economia da região até aos dias de hoje.           Mas se a actual cultura e modo de vida da população recebeu muitas influências dos ocupantes romanos, o mesmo se pode dizer em relação ao que se verificou séculos antes, através da ocupação fenícia da península. Uma ocupação de comerciantes e mercadores orientais que acabaram por se fixar durante gerações junto às margens do rio Sado.

          Nascida de uma miscelânea de culturas árabes e europeias, a urbe instalada junto ao estuário do Sado, conheceu as suas épocas áureas entre século VII a.C. com os fenícios, e os primeiros séculos deste milénio, até aos primeiros sintomas de declínio do império de Roma. Mas apesar da significativa perda de importância desta urbe comercial aquando da queda do império de Roma, a zona conseguiu manter as suas características urbanas, agora sob a liderança da população autóctone que depressa aprendeu a usar os ensinamentos de tantas gerações de ocupantes. Um esforço de sobrevivência que deu resultados significativos no século XIV, altura em que Setúbal ganhou a primeira linha de muralhas de defesa.

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