[ Edição Nº 37 ] – Nuno Krus Abecassis, deputado do CDS/PP eleito por Setúbal.

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barra-5540846 Edição Nº 37,   14-Set.98

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Pela “identidade nacional”
Partido Popular contra a regionalização

           Nuno Krus Abecassis, o único deputado do CDS/PP eleito por Setúbal, garante que não quer ver o distrito agarrado a Lisboa. É que Abecassis considera a regionalização “um disparate” e garante que as regiões vão criar ainda mais assimetrias entre zonas pobre e zonas ricas. O histórico do CDS alerta ainda para os resultados deste processo que, segundo Abecassis “poderá levar à perda da identidade nacional”.

          Setúbal na Rede – Como é que o Partido Popular encara a questão da regionalização?
          Krus Abecassis
– Não vejo benefícios para as populações e tenho sérias dúvidas sobre se isso vai mudar as coisas para melhor. Ou seja, a cada dia que passa é mais nítido que o que se pretende é criar nichos políticos para toda a gente. E eu pergunto, como é que vamos sustentar tanto político? E não me venham com tretas porque, se virmos que a maior parte dos presidentes de junta de freguesia ganham à volta de 200 contos, perguntamo-nos logo quanto é que não irão ganhar os presidentes das juntas regionais e por aí fora.

          SR – Mas não vê nada de bom na divisão administrativa do país?
          KA
– Não, porque a verdade é que Portugal tem subsistido no contexto ibérico ao longo dos séculos porque é uma nação na Península Ibérica. Ao contrário da Espanha que é constituída por pequenas nações. Se vamos partir o país aos bocadinhos somos comidos pelas regiões espanholas. Outra coisa inacreditável é essa ideia peregrina de enriquecer os pobres deixando-os sozinhos com outros pobres. Como é que uma região pobre que se junta a outra, como é o caso do Alentejo, pode vir a ganhar com isto tudo?
          SR – E o caso do distrito de Setúbal, que no mapa das regiões ficará a pertencer à região Lisboa/Setúbal?
          KA
– Aqui a ideia deve ser lixar completamente o distrito de Setúbal, porque não me venham dizer que alguma coisa vai mudar perante as necessidades e a capacidade reivindicativa da capital. Não vejo qualquer benefício nisto e digo mais: todos os atrasos regionais derivam de falta de vontade política e aqui vai acontecer o mesmo. E depois há outra coisa completamente absurda, pergunto eu onde é que vamos pôr as capitais? Quem é que vai aceitar a capital de Setúbal em Lisboa e por aí fora. Isto é tudo um grande equívoco e ainda ninguém percebeu que está em jogo um país.
          SR – No entanto o Partido Popular também aceitou votar a Lei Quadro da criação das regiões.
          KA
– As pessoas não sabem o que querem ou então não têm coragem para dizer o que pensam. O Partido Popular é o único partido com legitimidade para dizer que nunca esteve de acordo com estas regiões porque quando as defendemos não era assim. Ou seja, queríamos dar legitimidade aos órgãos gestores que já existiam, como é o caso das CCR’s, Comissões de Coordenação Regional. Ou seja, queríamos dar-lhes legitimidade democrática, através da eleição dos seus representantes e, claro desapareceriam essas aberrações chamadas governos civis.
          SR – De que forma o PP irá fazer campanha para o referendo de Novembro?
          KA
– Para além do direito de antena, como todos os partidos, vamos apostar nos debates entre os que defendem o ‘sim’ e os que defendem o ‘não’, de maneira a que os portugueses retirem daí algumas ilações. Ou seja, queremos confrontar os defensores da regionalização com a verdade e dar a conhecer aos portugueses aquilo que é este processo: uma autêntica marcha para a perda da identidade nacional. E depois há ainda outra coisa absurda que é algumas regiões dizerem não às suas próprias delimitações geográficas. E se isso acontecer, como estamos a ver que será, como é que o PS e o PCP descalçam esta bota? Ninguém sabe, nem mesmo eles. E o que me parece que se devia fazer era parar de falar em disparates e de pensar nos ‘tachos’ que cada um quer arranjar. Devíamos era pensar em medidas para o progresso e a evolução deste país.
          SR – Parece-lhe que os portugueses vão aderir ao referendo?
          KA
– Acredito que sim, que os portugueses vão participar porque sabem o que é que está em jogo. E digo mais, acredito piamente que os eleitores vão dar um ‘não’ contundente a tudo isto porque os portugueses sabem o que querem. Ou seja, a questão fundamental é que a população percebeu o que se quer com isto da regionalização e, pela experiência que tenho acredito que a população não é fácil de enganar. Pelo que tenho visto as pessoas estão fartas e vão mesmo ‘chumbar’ a regionalização.

Entrevista de Etelvina Baía     

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