Edição Nº 37, 14-Set.98
UDP contra incineração na Sécil
PSD quer ordenar estudos de impacte ambiental
O processo que vai levar à incineração de resíduos tóxicos em cimenteiras tem feito movimentar a sociedade e as diversas forças políticas. Agora é a vez da UDP vir a terreiro manifestar-se contra a intenção governamental e rejeitar por completo os projectos para fazer uma estação de tratamento de resíduos, no Barreiro.
Em comunicado, tornado público na semana passada, o dirigente regional da UDP, Carlos Guinote, considera que “pôr a Secil a queimar resíduos industriais é uma decisão que agrava ainda mais o mal que constitui, só por si, a existência de uma cimenteira na Serra da Arrábida”.
Esta ideia é para o dirigente da UDP “tão clara e simples que nem merece discussão, mais que não seja pelo facto de estarmos a falar de lixo numa zona ambientalmente protegida”.
Mas a UDP não se manifesta apenas contra a possibilidade de incineração na Sécil, já que, em declarações ao “Setúbal na Rede”, Carlos Guinote afirma ser também contra a prevista instalação de uma estação de tratamento desses lisos tóxicos no Barreiro, o que para o dirigente político significa “a subida, em flecha, dos problemas desta cidade com a indústria química”.
Manifestando-se contra a incineração enquanto processo de resolução do problema dos lixos tóxicos, o dirigente da UDP afirmou ainda ao “Setúbal na Rede” que a decisão do Governo “só é favorável para o ‘lobby’ das cimenteiras, deixando para trás os reais interesses das populações” e que, em vez da incineração “deveriam optar pela política da redução deste poluente e, ao mesmo tempo, na reciclagem e reutilização”.
PSD quer nova lei
As manifestações de desagrado sobre a possibilidade dos lixos virem a ser incinerados na Sécil, atravessam quase todo o espectro político. É o caso do PSD que, de acordo com o deputado Cardoso Ferreira, “para pôr fim a estudos de impacte ambiental parciais, como é o caso do que foi mandado elaborar pela Sécil”, decidiu liderar um conjunto de iniciativas legislativas que permitam ao Governo “mandar elaborar estudos de impacte ambiental a empresas independentes, por forma a servirem de termo de comparação com os estudos encomendados pelas empresas interessadas”.
Em declarações ao “Setúbal na Rede”, Cardoso Ferreira insiste na necessidade de “mandar fazer estudos do género a empresas independentes” porque apesar de “não por em causa a fiabilidade dos especialistas que elaboraram o actual estudo, os resultados acabam sempre por pender a favor de quem o paga”. E o facto de ser contra a incineração de resíduos tóxicos em cimenteiras, particularmente contra a possibilidade desse tratamento vir a ser feito na Sécil, levou já Cardoso Ferreira a lançar o desafio à sociedade civil para a criação de um movimento contra a co-incineração.
Um apelo que o deputado considera importante, na medida em que “visa unir a população em torno de um assunto de importância vital para Setúbal”. No entanto rejeita a possibilidade de qualquer protagonismo ou liderança nesse eventual movimento por considerar que “deve ser apartidário e isento de qualquer intervenção política”.
População interessada
O Estudo de Impacto Ambiental sobre a co-incineração de resíduos industriais está mesmo a interessar a população do concelho de Setúbal. É que segundo os números avançados pela Câmara Municipal, a quantidade de consultas ao documento está a ultrapassar todas as expectativas, tendo sido alvo do maior volume de consultas relativamente a qualquer outro processo de audição pública. Apesar de estar disponível em todas as juntas de freguesia, a população tem optado pela Biblioteca Pública Municipal de Setúbal, onde se encontra o documento de nove volumes entregue à Câmara Municipal.
A consulta pública sobre a co-incineração de resíduos, que vai decorrer até ao próximo dia 23 de Novembro, também pode ser efectuada via Internet, através do site www.ipamb.pt, podendo os interessados emitir opinião sobre o documento através do correio electrónico [email protected].