Edição Nº 37, 14-Set.98
Subida dos níveis de ozono no distrito
Ministério admite falta de informação à população
As críticas da Quercus sobre a falta de informação governamental à população sobre as elevadas concentrações de ozono em três zonas do distrito de Setúbal, foram aceites pelo Ministério do Ambiente que admitiu atrasos na implementação das redes de comunicação para informar as populações.
Em declarações ao “Setúbal na Rede”, Ricardo Santos Ferreira, assessor da ministra do Ambiente para as questões da qualidade do ar, garantiu que o caso será resolvido a partir de Outubro, com a implementação de um sistema de aviso.
“Sempre que as críticas tiverem fundamento e forem construtivas o Ministério aceita-as e, neste caso despoletado pela Quercus, elas são fundamentadas porque se confirma que não se procedeu ao lançamento do aviso às populações”.
A afirmação é de Ricardo Santos Ferreira, adjunto da ministra do Ambiente para as questões da qualidade do ar que confirmou as informações da Quercus sobre a questão do ozono, avançadas pelo “Setúbal na Rede” na edição anterior. O problema prende-se com as elevadas concentrações de ozono de superfície verificadas nas zonas de Barreiro/Seixal e de Sines, que pela legislação criada em 1996, deveriam ter sido participadas aos cidadãos.
E a falta de informação ao público foi justificada por este responsável com a adaptação dos serviços provocada pelo ajustamento de competências feito à cerca de um mês, que transferiu esta área do Instituto de Meteorologia para a Direcção Geral do Ambiente. A remodelação ditada pelo gabinete da ministra do Ambiente visa, ainda de acordo com Ricardo Ferreira, “uma maior atenção e acompanhamento das questões da qualidade do ar”.
Por outro lado, esta é uma situação nova em Portugal que o especialista classifica de pontual e sem danos para a população. No entanto o adjunto da ministra Elisa Ferreira refere que “de qualquer maneira serviu para detectar esta falha na informação”, uma falha que Ricardo Ferreira garante vir a ser “rapidamente ultrapassada”, já que o Ministério do Ambiente tem prevista a implementação, ainda este ano, de um sistema de comunicação ao público. A ideia é promover o intercâmbio com as comissões locais de gestão do ar, que permita a informação imediata das populações sobre a qualidade do ar e, particularmente das concentrações de ozono.
Casos pontuais
As duas comissões de gestão do ar, de que fazem parte os ambientalistas, o Ministério do Ambiente e as autarquias, são as responsáveis pela medição dos índices de ozono e parecem não estar preocupadas com os valores detectados em Agosto na região de Setúbal.
Pelo menos é o que indica a responsável pela comissão de Barreiro/Seixal, Célia Galinho que garantiu ao “Setúbal na Rede” terem sido estes índices de ozono “uma situação pontual, raramente verificada nesta zona”. Até porque de acordo com a especialista, responsável pela recolha e tratamento destes dados, o Barreiro não tem qualquer historial a este nível, sendo por isso que “o ozono está longe de ser um problema para este concelho”.
A responsável garantiu ainda que os números avançados referem-se apenas ao Barreiro e não ao Seixal, contrariamente ao que os ambientalistas divulgaram, “porque as leituras são feitas na estação do Barreiro e porque o Seixal não dispõe de qualquer medição deste tipo de poluente”.
E a inexistência de uma estação de medição do ozono no concelho do Seixal é plenamente justificada, adianta Célia Galinho, pelo facto de esta “não ser uma área muito industrializada nem um grande pólo urbano”, duas das componentes essenciais para o surgimento de grandes concentrações deste poluente.
Quanto a Sines, Maria Augusta Campos, a responsável pela Comissão de Gestão do Ar daquele concelho garante que “o caso não é para alarmes porque a maior parte dos índices de ozono são importados de Lisboa, através do vento norte”.
Apesar de admitir que a zona industrial de Sines concorre para a produção deste poluente, a responsável refere que “nunca houve e estamos em crer que nunca haverá razão para qualquer alarme”. No ano passado, as estações de recolha destes dados registaram 77 ultrapassagens aos limites de aviso à população na poluição por ozono, “sem que se tenha verificado qualquer caso de doença por esta via”, garantiu a técnica.
Câmara do Seixal desmente Quercus
Os preocupantes níveis de ozono verificados sobre o Seixal não passam de “interpretações erradas dos dados por parte da Quercus” nas palavras do vereador do ambiente da Câmara Municipal do Seixal, Adelino Tavares que esclarece a confusão gerada com a explicação de que “o relatório está correcto, no entanto os níveis apresentados respeitam apenas ao Barreiro e a Quercus leu os resultados obtidos num posto de controle situado nessa cidade. Como a Comissão de Gestão do Ar se intitula Barreiro/Seixal, a Quercus anunciou os resultados como pertencendo aos dois concelhos”.
Adelino Tavares sossega a população ao afirmar que “o Seixal tem os níveis de poluição normais para uma área com um parque automóvel alargado e com indústrias mas ainda não atingiu níveis de preocupação. Tudo está controlado”. A vereação e a Câmara Municipal continuam a acompanhar a situação e um pedido por parte da Câmara foi já feito para a instalação de um posto de controle dos níveis do ar no Seixal, que se encontra prometido pela Instituto de Meteorologia desde o ano de 1996, mas até agora, apesar do espaço próprio já existir junto ao jardim de Paio Pires, na Seixeira, o posto que ali funciona apenas faz medição de partículas.
Adelino Tavares deixa ainda garantias de “solicitar à Comissão de Gestão do Ar de fornecer mais informações relativas a esta situação e ao Instituto de Meteorologia no sentido de informar a data precisa para a instalação do equipamento no concelho”.
Etelvina Baía e Maria do Carmo Lopes