[ Edição Nº 38 ] – Agricultores de Setúbal ao lado dos produtores de Ourique.

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barra-1298494 Edição Nº 38,   21-Set.98

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Agricultores de Setúbal ao lado dos produtores de Ourique
Condenam carga policial e criticam ministro da Agricultura

           A Associação de Agricultores do Distrito de Setúbal, afecta à CNA, Confederação Nacional de Agricultores, está solidária com as reivindicações dos agricultores de Ourique, sobre mais apoios governamentais para ultrapassar o mau ano agrícola, por considerar que se trata de um problema nacional. Por isso condena a carga policial sobre os manifestantes e exige que o Governo ajude o sector a ultrapassar a crise.

          “Apesar de se saber que por trás da manifestação estava a CAP, Confederação de Agricultores Portugueses, uma estrutura ligada aos grandes latifundiários, nós decidimos apoiar a luta protagonizada pelos produtores de Ourique e que se estendeu a outros pontos do país, por sabermos que o que eles exigem é legítimo e diz respeito a todos os pequenos e médios agricultores do país”.

          A afirmação é do presidente da Associação de Agricultores do Distrito de Setúbal, José Silvério, que logo após a carga policial sobre os manifestantes de Ourique, garantiu ao “Setúbal na Rede” serem “legítimas e urgentes” as reivindicações relacionadas com a ajuda governamental à agricultura, já que segundo o dirigente dos produtores do distrito, “este é o pior ano agrícola de que há memória”.
          Defende ainda o presidente dos agricultores que “o ministro Gomes da Silva devia ter vergonha do que disse na televisão”, de que as actuais ajudas governamentais são suficientes porque, segundo este responsável, “isso não é verdade e dá a entender que ele não faz a mínima ideia do estado da pequena e média agricultura nacional”.
          Para além disso, José Silvério considera “escandaloso” que Gomes da Silva tenha dado a conhecer essa decisão, “numa altura em que se decidiu dar 70 milhões de contos a grandes agricultores que não produzem”.
          Quanto à carga policial, considera-a “uma barbaridade e uma injustiça”, já que os agricultores manifestaram-se de forma pacífica. Para o dirigente dos agricultores de Setúbal, a posição da GNR em Ourique “é o exemplo de como este país faz de conta que é democrático”.
          O PCP afina pelo mesmo diapasão porque, segundo o dirigente regional Jorge Pires, “os meios foram completamente despropositados” e para além disso os comunistas garantem que “não é com este tipo de intervenção que o Governo resolve esta problema gravíssimo que afecta todo o país”.
          Jorge Pires defende que os problemas da produção agrícola devem ser resolvidos em sede própria, com medidas de fundo, o que para o PCP, “implica uma política de incentivos à produção e subsídios à perda de colheitas”. Quanto às declarações do ministro da Agricultura, Jorge Pires considera-as “indignas de um ministro e tão despropositadas que põem em causa o próprio Governo”.
          O mesmo dizem os jovens social democratas de Setúbal que vão mais longe e exigem a demissão do ministro da Administração Interna, Jorge Coelho e do ministro da Agricultura, Gomes da Silva. De acordo com Paulo Calado, o dirigente da JSD de Setúbal, na base desta reivindicação está “a dualidade de critérios do ministro Jorge Coelho que face a uma manifestação pacífica enviou carros blindados e corpo de intervenção, quando no mesmo mês a GNR teve ordem para não actuar em Barrancos por altura da violação da lei sobre os toiros de morte”. Quanto ao pedido de demissão do ministro da agricultura, Paulo Calado considera tratar-se de “um imperativo já que nada tem feito para melhorar a situação dos agricultores e, perante um problema desta gravidade o que faz é gozar com quem trabalha”.
          O único a destoar do coro de protestos é o Partido Socialista, cujo presidente da Comissão Política Concelhia, Catarino Costa, considera aceitável a intervenção policial “se de facto não havia outra maneira de restabelecer a ordem”. Admitindo não conhecer a fundo o problema, Catarino Costa garante que “é preciso clarificar o que de facto aconteceu” e apesar de defender soluções pacíficas sempre vai dizendo que “se de facto não havia outra maneira de garantir a ordem, parece-me que a polícia tomou a decisão certa”.
          Rejeitando as críticas da esquerda e da direita à actual política agrícola, Catarino Costa garante que “têm-se desenvolvido acções no sentido de ajudar os produtores a ultrapassar a crise, ajudas que significam muito mais que as que foram oferecidas por qualquer Governo até hoje”.

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