Edição Nº 38, 21-Set.98
Sindicatos e partidos denunciam
“Mau ambiente” em Setúbal
A União de Sindicatos de Setúbal, estrutura regional da CGTP, é contra a co-incineração de lixos tóxicos na Sécil e contra o manuseamento desses mesmos resíduos na prevista estação de pré-tratamento do parque da Quimigal, no Barreiro. A posição dos dirigentes sindicais foi tomada na reunião de dia 16, depois de apreciados os documentos sobre a matéria.
A recusa da Sécil é explicada ao “Setúbal na Rede” pelo coordenador da USS, Rui Paixão, com o facto de se tratar de uma zona protegida, “com três classificações ambientais” as de Parque Natural, Reserva do Estuário do Sado e Reserva Marinha.
E é pelo facto de se tratar de uma área protegida pelo próprio Ministério do Ambiente que Rui Paixão diz ser “incompreensível e inaceitável que se coloque tal possibilidade”. A este propósito diz ainda o coordenador da USS que o problema da co-incineração coloca-se porque “não se tem desenvolvido uma política de tratamento de resíduos por quem os produz”.
Para além disso, o dirigente da USS considera que a co-incineração “é um negócio das cimenteiras e do grupo Mello”. Isto porque as cimenteiras “ganham ao não gastar verbas em combustíveis que serão substituídos pelos resíduos para fabricar o cimento e porque vão receber dinheiro do Estado para incinerar”. Por outro lado, adianta Rui Paixão, “ganha o grupo Mello se a estação de pré-tratamento for para a Quimiparque porque rentabiliza o espaço e recebe dinheiro no âmbito do tratamento destes tóxicos”.
O acondicionamento e transporte dos resíduos tóxicos industriais é outra vertente da co-incineração que deixa os dirigentes sindicais preocupados por considerarem “perigosa a circulação diária de camiões carregados de tóxicos entre o Barreiro e Setúbal”. Até porque segundo este responsável, “se houver algum acidentem os ventos carregam os poluentes para as áreas urbanas em volta”.
A mesma opinião tem o presidente comunista da Junta de Freguesia do Sado que também é contra a co-incineração pelo facto de “nada garantir que não polui”. É que, segundo Eusébio Candeias, “a freguesia está preocupada” com possíveis acidentes provocados pelo transporte dos poluentes “porque eles vão passar por estas estrada e mesmo junto à Reserva Natural do Estuário do Sado”. Em caso de acidente com os lixos tóxicos naquela zona, avança Candeias “seria uma autêntica catástrofe ecológica”.
O PSR afina pelo mesmo diapasão por considerar a co-incineração na Sécil “um atentado a Setúbal e aos cidadãos”. Para além disso, de acordo com Catarina Grilo, da Comissão Política Concelhia do PSR, “este método não acaba com os resíduos, apenas os transforma e facilita a sua passagem para o ambiente”.
Na Câmara de Setúbal, o vereador do ambiente Duarte Machado também já se manifestou contra o tratamento dos lixos tóxicos no Barreiro e a co-incineração na Arrábida. Em declarações ao “Setúbal na Rede”, o autarca social democrata afirma que não pode concordar com o processo “da mesma maneira que não posso concordar com a concentração de industrias poluentes num distrito virado para o turismo”.
Duarte Machado diz mesmo considerar “um absurdo pensar em incinerar lixo tóxico numa zona de parque natural, onde até o PDM da Câmara prevê que seja protegido a todos os níveis”.
Quanto à posição da maioria socialista na Câmara de Setúbal, o vereador do pelouro do ambiente, Mota Ramos remete uma opinião para mais tarde, quando terminar a análise técnica do Estudo de Impacte Ambiental. Segundo Mota Ramos adiantou ao “Setúbal na Rede”, a autarquia deverá emitir uma opinião definitiva sobre a co-incineração dentro de algumas semanas.