Edição Nº 38, 21-Set.98
Comunistas preocupados com o futuro
Acusam Governo de uma política neo-liberal
A Direcção da Organização Regional de Setúbal do PCP não adivinha nada de bom neste novo ano político. A ideia foi lançada em conferência de imprensa, no dia 18 de Setembro, porque os comunistas consideram negativas para o país, as medidas que o Governo tem vindo a implementar ao abrigo de uma política que o PCP classifica de neo-liberal. O início de um novo ano político deixa os dirigentes do PCP do distrito de Setúbal preocupados com os direitos dos trabalhadores, o emprego e a segurança social.
Tudo porque, segundo o dirigente regional Jorge Pires, o Governo prepara-se para aplicar “a sua política neo-liberal” nas questões laborais através da proposta para alteração às leis do trabalho, uma proposta que os comunistas já rejeitaram por considerarem “lesivas dos mais elementares direitos dos trabalhadores” que poderão prejudicar também as novas gerações de trabalhadores portugueses.
A esta proposta, que os comunistas dizem ser “uma retirada de direitos adquiridos”, Jorge Pires junta a reforma da Segurança Social, que considera “um atentado a todos os que trabalham e descontam”.
No que diz respeito aos problemas laborais, o PCP de Setúbal espera um final de ano agitado, já que “graças a esta política de privilégios aos empregadores, estão em perigo centenas de postos de trabalho”. E Jorge Pires deu como exemplo a ex-Renault, “onde a maioria dos trabalhadores não tem futuro definido nem formação profissional garantida”, o caso Torralta, onde segundo este responsável “continua por definir o futuro dos cerca de 500 funcionários porque o Plano Social ainda não foi aplicado”.
Quanto a recentes medidas governamentais, nomeadamente o aumento das pensões, embora o PCP admita que “nalguns casos foram positivas”, acaba por classificá-las como “medidas avulso e claramente insuficientes”.
E os exemplos da “política neo-liberal” continuam, com a carga policial sobre os agricultores em Ourique, a “ausência de medidas para o sector da agricultura e das pescas” e os “resultados negativos” da privatização de sectores que os comunistas consideram fundamentais, como é o caso da Rodoviária Nacional.
Esta última medida, garante o dirigente do PCP, “levou à anulação de carreiras e a alterações de percursos”, contrariando aquilo que os comunistas defendem para o país e que se traduz numa “política de transportes públicos de qualidade e baratos”. É que para Jorge Pires, esta seria a única forma de contribuir para “a resolução estrutural do problema das acessibilidades na península de Setúbal e entre a península e Lisboa”. As questões ambientais, nomeadamente a possibilidade da co-incineração de tóxico na Sécil, também preocupam o PCP que já se manifestou contra, defendendo uma política de redução e reciclagem desses mesmos resíduos.
E para denunciar todos estes problemas, com particular ênfase para as questões da alteração à lei laboral, que o PCP considera terem sido provocados “por esta política cada vez mais próxima do PSD”, os comunistas vão dar início a uma jornada de luta nacional com início marcado para o próximo dia 26.
A regionalização foi outro dos temas abordados pelos comunistas do distrito que, mais uma vez, se posicionaram a favor da divisão administrativa do país prometendo iniciativas de esclarecimento e acções de sensibilização da população para o voto no ‘sim’.