[ Edição Nº 39 ] – Coordenadora Nacional Contra os Tóxicos acusa Governo de tentar impor a Co-incineração de resíduos tóxicos.

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barra-2040217 Edição Nº 39,   28-Set.98

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Coordenadora Nacional Contra os Tóxicos
Acusa Governo de tentar impor a co-incineração

           A Coordenadora Contra os Tóxicos, nascida há cerca de seis anos para combater a intenção de instalar uma incineradora em Estarreja, vem agora a terreiro manifestar-se contra a co-incineração de resíduos tóxicos em cimenteiras.
          A decisão foi tomada no encontro nacional realizado no dia 26 de Setembro, em Lisboa, com a participação de cidadãos de Setúbal, Barreiro, Lisboa, São João da Talha, Estarreja, Vila Franca e Leiria.

          A declaração conjunta da reunião de Domingo condena o Primeiro Ministro António Guterres por considerar que “ele mentiu aos portugueses”. É que segundo os membros da Coordenadora, há uma diferença entre a teoria e a prática porque, segundo Jaime Pinho, o representante da Coordenadora em Setúbal, “em 1997 Guterres defendia a política da recolha, reciclagem e reutilização, e agora o que quer é pressionar as pessoas a aceitarem a co-incineração”.

          Em causa está a intenção de tratar os lixos tóxicos industriais em fornos de cimenteiras, sendo a Sécil no Outão, um dos locais possíveis. O processo encontrado par tratar os resíduos tóxicos merece o total repúdio desta associação que, por isso, rejeita todas as localizações apontadas como possíveis, “sejam zonas de reserva natural sejam áreas urbanas”.
          Considerando o processo perigoso para o ambiente, o representante da Coordenadora diz tratar-se de “uma forma de criar tóxicos em vez de nos vermos livres deles”. É que para este responsável, a co-incineração de lixos tóxicos em cimenteiras “apenas muda a forma dos tóxicos e facilita-lhes a disseminação na atmosfera”.
          Para além disso, a Coordenadora considera que a co-incineração “é um óptimo negócio para a indústria cimenteira e uma despesa para os contribuintes” porque segundo estes responsáveis “está previsto que o Governo indemnize as cimenteiras quando não se puder queimar a quantidade de lixo prevista no acordo”.
          Por outro lado, argumenta a associação, “com estas regras estaria aberto o caminho para a importação de tóxicos e para o nosso país ser transformado no caixote de lixo da Europa”.
          Contra a co-incineração que considera ser “um reflexo da actual política ambiental”, a Coordenadora Nacional Contra os Tóxicos acusa ainda o Governo de “falta de vontade” para aplicar a política dos três erres (recolha, reciclagem e reutilização) e para a sensibilização das grandes indústrias no sentido da redução da produção deste tipo de lixo.           Considerando fundamental a informação aos cidadãos sobre esta matéria, a Coordenadora Nacional Contra os Tóxicos decidiu ainda participar nos debates e nas sessões de esclarecimento até ao próximo dia 23 de Novembro, altura em que termina o período de consulta pública dos estudos de impacte ambiental sobre as possíveis localizações.

          PCP do Barreiro contra os tóxicos na Quimiparque
          Os comunistas do Barreiro também já se manifestaram contra a co-incineração e contra o previsto pré-tratamento dos lixos tóxicos nas instalações da Quimiparque.

          A posição foi dada a conhecer em conferência de imprensa realizada no dia 24 de Setembro, por José Morais, do Centro de Trabalho do PCP do Barreiro. De acordo com este responsável, a co-incineração “é um erro porque não trata nada e só polui” e considera a possibilidade de incineração na Sécil como “um completo absurdo porque estamos a falar de uma zona protegida por três leis diferentes”.

          Quanto à possibilidade de proceder ao pré-tratamento dos resíduos na Qumiparque, o dirigente comunista considera que “é uma ideia tão estúpida como a anterior porque estamos a falar de alta poluição dentro de um centro urbano”.
          Para este responsável, “é inadmissível que queiram meter aquele inferno dentro de um aglomerado populacional com 90 mil pessoas”. Ainda segundo este responsável, “este processo será tudo menos pacífico” porque a população do Barreiro parece não estar disposta a perder a qualidade de vida de que dispõe.
          É que, segundo José Morais, “levámos os últimos 30 anos a trabalhar para nos livrarmos da poluição deixada pela CUF e agora que temos melhor qualidade de vida não há direito que queiram inverter esta tendência”.

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