Edição Nº 42, 19-Out.98
AVISO À NAVEGAÇÃO !!
por Rogério Severino (Jornalista do “Jornal de Notícias” e
membro eleito do Conselho Geral do Sindicato dos Jornalistas)
Secretaria de Estado da Comunicação Social
deve pôr fim às ‘rádios loucas’ de Setúbal
Talvez alguns possam achar estranho o que é que a incineração tem a ver com as rádios locais de Setúbal. A verdade é que a cidade está reduzida à mais terrível das ditaduras de silêncio com um trio de rádios que trabalham, ou seja, poluem o éter, à medida das limitadas capacidades do seu dono. Funcionam como a sua voz, emitem o seu pensamento, só não difundem as suas ideias… porque o dono não tem ideias. É tosco. E anda uma cidade à mercê de um monopólio que há muito deveria ser erradicado. Mas… avental oblige. Pensamos que nunca é demais lançar o nosso grito de revolta perante três veículos de estupidificação que nada têm a ver com o que foi o grande movimento das rádios locais em Portugal. Com o estilo liberal imposto pelo actual Governo foi possível, contrariamente ao estipulado na Constituição ser constituído em Setúbal um monopólio que tem levado a cidade ao maior dos silêncios: a mesma criatura adquiriu as três rádios locais da cidade. É caso único em Portugal na medida em que noutras localidades a propriedade está repartida. No entanto, se tal monopólio existisse com a finalidade de melhorar o produto final, ou seja, a informação e a programação, enganem-se. Desde há três anos que as maiores agressões de analfabetismo, de luta contra a língua portuguesa, de propagação da mentira são actos constantes em qualquer das três estações, leia-se apeadeiros. Ao contrário do que legalmente está estipulado, a informação é igual em qualquer das três rádios e os noticiaristas, ‘diseurs’, sem respeitarem o princípio do contraditório, fazem de um instrumento tão nobre como o microfone uma arma contra as Instituições, lançando ao ar atoardas diárias, mentiras e ofensas, tudo para servir os interesses do dono; de tal forma que por vezes é ele que manda elaborar notícias sobre situações em que é parte interessada. Por outro lado, os despedimentos de quem não afina pela divulgação das notícias são frequentes e como usa a medida do recibo-verde os trabalhadores ficam limitados nas suas queixas. Porque muito embora sejam ‘tapetes’, muito embora sejam a voz do dono, muito embora seja altamente criticável a sua subserviência canina, não deixam por isso de ser trabalhadores e nisso tem que ser respeitado o seu posto de trabalho mesmo que por sua vontade não se importem de perder a dignidade. Podem os leitores interrogar-se por que razão estas três ‘rádios loucas’ continuam a funcionar. É simples, pois alguns políticos da cidade, curiosamente afectos ao Partido do Governo e até ao que lhe está mais à esquerda gostam de se fazer ouvir e utilizam os microfones das rádios-cloacas para se fazerem ouvir, razão pela qual preferem não denunciar o monopólio pois isso pode pôr em causa o palco que têm. Em contrapartida, a rádios são usadas contra os interesses da cidade e, para se provar a falta de isenção e ódio persecutório basta dizer que o próprio Presidente da Câmara Municipal de Setúbal há três anos, ou seja, desde o monopólio, que não vai às rádios falar dos problemas da cidade. Ali, funciona o gosto pessoal: não importa o direito à informação, à verdade: o dono não gosta, não vai. A nocividade do monopólio afecta inclusivamente os anunciantes já que cada um, mesmo que numa rádio passe um produto da concorrência, é obrigado a utilizar a mesma estação pois elas são do mesmo dono. A manutenção desta situação é insustentável para a cidade que está remetida à ditadura do silêncio e por isso, os resquícios de mioleira dos responsáveis, tal como foi feito com as vacas loucas, devem ser incinerados nos fornos da cimenteira, à mais alta temperatura para se ter a certeza de que ficam reduzidos a pó. Pensamos que é a solução de acabar com a poluição sonora e é a que menos custos provoca. É evidente que com a qualidade da mioleira daquela gente os próprios fornos podem rebentar, mas consideramos que é de arriscar. Não queremos, contudo, deixar de referir que as entidades oficiais da representação do Governo e os próprios partidos políticos têm alguma culpa na situação. Porque já deveriam ter accionado os mecanismos legais contra os monopólios e principalmente deveriam tirar Setúbal do silêncio e fazer das rádios um instrumento a favor de Setúbal e não a favor dos interesses do dono.
Daqui também o nosso alerta à Secretaria de Estado da Comunicação Social para intervir na situação ou pelo menos que seja capaz de explicar qual o suporte legal de numa cidade, onde existem três Alvarás de rádio local e todos serem da mesma pessoa. E não nos venham com o facto de estarem em nomes diversos. Se alguns gostam de ter uma cidade amordaçada, nós queremos o fim das rádios loucas.