Edição Nº 45, 09-Nov.98
Em Setúbal e no Barreiro
Mais contestações à co-incineração
A cerca de três semanas do final do prazo para a consulta pública do Estudo de Impacte Ambiental sobre a co-incineração de resíduos tóxicos em cimenteiras e a sua possível localização na Serra da Arrábida, bem como a instalação do pré-tratamento destes lixos no Barreiro, partidos políticos e movimentos de cidadãos intensificam os protestos contra tais possibilidades. No dia 14 de Novembro, o recém criado grupo de Cidadãos pela Arrábida (composto por empresários, juristas, ambientalistas, militantes dos mais diversos partidos e cidadãos anónimos), vai promover uma manifestação contra a possível instalação da co-incineração na Sécil, no Parque Natural da Arrábida.
Segundo o empresário Mariano Gonçalves, um dos impulsionadores do grupo de Cidadãos pela Arrábida, a manifestação pretende ser um alerta às autoridades e aos cidadãos em geral, “para que se acabe com este processo e se repense a questão da co-incineração”. Para além disso, os manifestantes querem denunciar o “atrevimento do ministério do Ambiente ao sequer pensar que podia queimar resíduos perigosos numa zona protegida”, adiantou aquele responsável ao “Setúbal na Rede”.
De acordo com Mariano Gonçalves, está prevista a participação de largas centenas de pessoas, de representantes de diversos movimentos associativos e ecologistas da região, representantes das associações de estudantes e da Coordenadora Nacional Contra os Tóxicos, par além da presença dos motards de Setúbal que irão abrir caminho para a manifestação. Os participantes vão reunir-se no Parque das Escolas, pelas 11 da manhã, e depois percorrerão as principais avenidas da cidade em protesto contra a localização na Arrábida.
O Partido Ecologista “Os Verdes” também está do lado dos Cidadãos pela Arrábida, já que segundo a direcção nacional, a co-incineração “é um negócio de cimenteiras”, sendo este processo de tratamento “uma fraude por não ser eficaz e por ser uma prática poluente”. E de acordo com a deputada Carmen Francisco, vão acabar por sobrar problemas, relacionados com poluição do ar, para a Arrábida e para o Barreiro, onde se pretende instalar os equipamentos para a co-incineração e para o pré-tratamento.
Por seu lado, a UDP reforça a sua posição contra o pré-tratamento de resíduos tóxicos no Barreiro, garantindo que coloca a população em perigo, já que a Quimiparque, onde se pretende instalar o equipamento, fica dentro de uma zona urbana.
Para além disso, segundo Carlos Santos, da Comissão Política Distrital de Setúbal da UDP, “existem alternativas à co-incineração, que passam também por um plano nacional de redução e de gestão destes resíduos”.
O caso do Barreiro já levou a uma tomada de posição do executivo da Câmara Municipal da Moita que na reunião de dia 2 de Novembro resolveu aprovar uma moção de solidariedade para com a população barreirense e rejeitar todo o processo da co-incineração. É que, segundo contou ao “Setúbal na Rede” o presidente da autarquia, João Almeida, “nem o Estudo de Impacte Ambiental prevê um conjunto de princípios fundamentais para a segurança das populações, nem se fala das consequências disso para os concelhos vizinhos, como é o caso da Moita”.
Questionado pelo “Setúbal na Rede” sobre a posição da autarquia face à possível instalação da co-incineração em Setúbal, João Almeida garantiu que “apesar de não ter vindo expresso na moção aprovada”, está solidário com a população do concelho de Setúbal que “corre o risco de ver a co-incineração implementada no Parque Natural”.