Edição Nº 47, 23-Nov.98
Concelho do Barreiro volta a dizer não
À estação de pré-tratamento de lixos tóxicos
No dia 20 de Novembro, autarcas e cidadãos do Barreiro deslocaram-se a Lisboa para protestarem contra a instalação da estação de pré-tratamento de resíduos tóxicos na Quimiparque. Um protesto que levou cerca de 400 pessoas à porta do Palácio de São Bento, enquanto um grupo de representantes dos cidadãos, encabeçado pelo presidente da Câmara, Pedro Canário, e pelo presidente da Assembleia Municipal, Helder Madeira, entregaram a um assessor de António Guterres o abaixo assinado subscrito por 38 mil habitantes.
Ao som das palavras de ordem “Barreiro unido jamais será poluído” e “lixo para o Barreiro, não”, os representantes da população entraram no Palácio de São Bento para serem recebidos por um assessor do Primeiro Ministro, a quem entregaram o abaixo assinado contra a estação de pré-tratamento que o Governo pretende implementar na Quimiparque.
As razões que levam os cidadãos e a própria autarquia, liderada por Pedro Canário, a rejeitarem tal decisão, prendem-se com um conjunto de factores relacionados com o facto de, depois da queda das indústrias pesadas, o Barreiro ter investido na qualidade de vida e na reconversão das zonas industriais implantadas naquele concelho durante os últimos cem anos.
Para o presidente da Câmara do Barreiro, não existem razões para que o concelho tenha de receber tal equipamento, até porque, segundo Pedro Canário, “o Parque Industrial já trata os seus resíduos” e a instalação de uma estrutura de tratamento para mais resíduos iria “diminuir consideravelmente a qualidade de vida do concelho que, durante cerca de cem anos, sofreu as consequências da presença da indústria química”.
Considerando a consulta pública do Estudo de Impacte Ambiental “um simulacro” por suspeitar do “negócio entre o Governo e as cimenteiras”, firmado através de um memorando de entendimento, Pedro Canário disse aos jornalistas que receia que, entre as 16 mil toneladas de lixo previstas pelo Governo e as 120 mil que a estação de pré-tratamento está preparada para receber, “muitas delas venham a ser importadas da União Europeia”. Sem questionar o método encontrado para solucionar o problema dos lixos tóxicos, o presidente do Barreiro admite que tal problema tem de ser resolvido “mas numa localização afastada dos centros urbanos”.
Determinado em impedir a implantação do equipamento no Barreiro, o autarca lançou um desafio à ministra do Ambiente para um frente a frente sobre a questão que mais preocupa os habitantes do concelho, particularmente as mais de 40 mil pessoas que vivem paredes-meias com a Quimiparque. E Pedro Canário vai mais longe no desafio ao afirmar que “se a ministra não aceitar o debate, deve anular o processo”.
Helder Madeira, o presidente da Assembleia Municipal, está do lado de Pedro Canário e garante mesmo que “a ministra já decidiu tudo, mesmo antes da consulta pública”, tendo em conta que os estudos e o memorando de entendimento com as cimenteiras aponta o Barreiro como a única localização possível da estação de pré-tratamento.
Preocupados com o andamento do processo, os barreirenses garantem que não vão baixar os braços e prometem para esta Segunda feira, dia 23 de Novembro, um buzinão de protesto, levado a cabo pelos automobilistas do concelho que, depois dos protestos irão concentrar-se na Avenida Alfredo da Silva, para uma acção de informação da população em geral.