Edição Nº 48, 30-Nov.98
Sindicato acusa Ford Electrónica
de querer “despedimentos encapotados”
A circular posta a correr entre as trabalhadoras da Ford Electrónica, em Palmela, que indicava a abertura da empresa para a rescisão de contratos por mútuo acordo com trabalhadoras que sofrem de tendinite, levou a uma reacção imediata das funcionárias que, segundo o Sindicato das Indústrias Eléctricas, “estão a ser pressionadas a sair”. A proposta da empresa de componentes electrónicos Visteon, anteriormente denominada Ford Electrónica Portuguesa, de rescindir amigavelmente os contratos de trabalho com cerca de uma centena de trabalhadoras afectadas pela doença profissional da tendinite parece não ter agradado a boa parte das funcionárias.
Quem o diz é o sindicalista Carlos Ribeiro, ex-trabalhador da empresa e actual dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Eléctricas do Sul e Ilhas (SIESI), que veio a terreiro para garantir que “a maioria das trabalhadoras desconfia do pacote de propostas”, que vão desde a compensação financeira à ajuda nos tratamentos médicos, passando pelo auxílio à procura de novo emprego.
Segundo Carlos Ribeiro contou ao “Setúbal na Rede”, “a realidade é outra”, já que o que as trabalhadoras e o próprio sindicato dizem é que “aqui o que se pretende é livrar-se das pessoas com doença profissional, contratar outras a três meses e, com este esquema, acabar com o problema das tendinites” que já levou a empresa a perder o caso em Tribunal, a favor de uma trabalhadora com tendinite. Uma decisão judicial que, segundo o sindicato abre o precedente para as “cerca de setecentas trabalhadoras que contraíram a tendinite pelos movimentos repetitivos naquela fábrica e por culpa da própria empresa”.
Na altura a empresa interpôs recurso mas até agora ainda não surgiu qualquer resposta, o que leva Carlos Ribeiro a acreditar que “eles sabem que vão perder e, sendo assim, estão dispostos a tudo para não pagarem os cerca de 170 mil contos que devem às trabalhadoras”.
Este responsável vai mais longe e garante que “não estamos no Brasil”, numa clara alusão à fábrica que a empresa tinha naquele país, onde se detectaram centenas de casos de tendinite . E é pelo facto da lei portuguesa “proteger os trabalhadores” que Carlos Ribeiro acredita que “as funcionárias doentes vão vencer sem precisarem de pôr em causa os próprios postos de trabalho”. Para isso, basta que a empresa “pague o que deve e cumpra as regras para este tipo de doença, que é o posto de trabalho alternativo ou a alternância nos postos de trabalho”.
Um pacote de medidas que o dirigente diz ter sido o sindicato a sugerir e que “a empresa nunca aceitou, aliás porque sempre disse que não existiam tendinites na fábrica”. Uma situação que para Carlos Ribeiro é “caricata”, tendo em conta que “afinal, agora que é para negociar a saída das pessoas já admitem a existência da doença”.
Para além disso, o sindicalista adianta que as cerca de uma centena de trabalhadoras contactadas “não são as únicas com doença profissional”, estimando-se em cerca de 700 os casos de tendinite num universo de cerca de 2000 trabalhadores da fábrica de Palmela.