Edição Nº 48, 30-Nov.98
AVISO À NAVEGAÇÃO !!
por Rogério Severino (Jornalista do “Jornal de Notícias” e
membro eleito do Conselho Geral do Sindicato dos Jornalistas)
Uma pergunta a Arons de Carvalho:
vai atribuir subsídios às rádios de Setúbal?
Talvez esta Crónica tivesse outros efeitos se fosse enviada como Carta Aberta ao Secretário de Estado da Comunicação Social, mas entendemos não o fazer porque pretendemos que seja mais um alerta. Por outro lado consideramos que não temos o direito de falar numa generalidade que não conhecemos ao pormenor, mas sim sobre o caso específico que temos conhecimento – e de que maneira – e sobre o qual já interviemos no III Congresso dos Jornalistas Portugueses com uma Comunicação que também funcionou como um alerta. Trata-se do estado do panorama radiofónico em Setúbal, a terceira cidade do País, no Ano da Graça de 1998, prestes a entrarmos no Terceiro Milénio. Arons de Carvalho anunciou em Albufeira, no fim-de-semana, num Congresso de Jornais Regionais e Rádios Locais que o Governo havia inscrito no Orçamento de Estado para o próximo ano a verba de dois milhões de contos para distribuir como apoio àqueles órgãos de comunicação social. Não contestamos a bondade da intenção e mesmo pelo facto de discordarmos diametralmente que a comunicação social seja subsidiada pelo Estado, pondo em causa a sua independência e ficando ao sabor daquilo que os poderes constituídos podem considerar de bom ou mau comportamento, não cometemos, no entanto, a deselegância de criticar a atribuição de subsídios. E até sabemos bem, em alguns jornais regionais, a nível nacional, o que é a ‘reconversão tecnológica’, e certamente a tutela também sabe. Mas estamos neste País, somos portugueses e por isso todos temos virtudes e defeitos, sobretudo aqueles que dão um entendimento diferente á reconversão tecnológica. Mas, e no caso da imprensa, sabendo a importância que têm em cada localidade os seus jornais, que noticiam e impulsionam a vida de cada Região, não caiem ao Governo os parentes na lama ao atribuir-lhes verbas que sejam aplicadas em melhoramentos e até no incentivo de proporcionarem aos jovens o caminho do jornalismo nas suas diversas vertentes, incluindo a fotografia. Certo andará o Secretário de Estado se essa for a intenção do Governo. No caso das rádios, a nível nacional (com a excepção que vamos referir), presumimos que tudo andará bem se houver a necessária fiscalização já que os dinheiros públicos não são dinheiros pessoais do Secretário de Estado e por isso devem ser aplicados criteriosamente. Se tivermos em conta o número de Estações existentes quando se iniciou o Movimento das Rádios Locais e as rádios que hoje existem, poderemos constatar que no início tudo não passou de um ‘flop’, mas que actualmente se está a caminho da consolidação. A única excepção que fazemos e pedimos o cuidado da Secretaria de Estado é precisamente para o que se passa em Setúbal onde foi completamente adulterado o espírito das rádios locais, onde alguns jovens começaram com dedicação e foram depois despedidos, onde a isenção informativa não existe, onde o proprietário das três Estações existentes é o mesmo, onde os serviços noticiosos são idênticos nas três Estações. No III Congresso dos Jornalistas Portugueses chamámos à atenção para o facto de em Setúbal as três rádios locais existentes terem servido, além de fins desportivos, para eleger o dono como Presidente de um clube de futebol, foram usadas para fins políticos, apoiando nitidamente o dono, que foi o candidato do PP à Câmara Municipal de Setúbal, mas como o povo é inteligente, além de infligir uma pesadíssima derrota, resumiu aquele Partido a uns insignificantes 1376 votos. A acção do monopólio existente nas rádios locais de Setúbal já levou a duas condenações da Alta Autoridade Para a Comunicação Social, mas mesmo assim, com o apoio das Lojas Maçónicas, Setúbal, que merece Rádios Locais em condições, sérias e isentas, Setúbal que sempre foi paladina das liberdades, está reduzida a uma ditadura radiofónica devido à existência do monopólio, para o qual o Secretário de Estado já tem conhecimento mas que não agiu. É evidente que há determinadas forças políticas a quem esta parcialidade interessa, já que, beneficiando uns, exclui outros e actualmente, basta escutá-las, as rádios em Setúbal não passam de cloacas onde são atirados para o éter excrementos verbais que envergonham quem vive na cidade. Por isso, cada sondagem feita por empresas de Lisboa têm dado as rádios de Setúbal como cada vez menos escutadas na própria cidade.
Mas o que nos fez escrever esta Crónica é para saber se a ‘bondade’ do Secretário de Estado da Comunicação Social vai ao ponto de admitir sequer que estas Estações de rádio de Setúbal, que são a negação do glorioso movimento das rádios locais, no qual interviemos, possam ser beneficiárias de dinheiros públicos. E não obstante o Secretário de Estado nunca se ter pronunciado sobre o caso das rádios de Setúbal, tantas vezes referido na comunicação social, gostaríamos que quebrasse o silêncio neste caso, pois não se trata de emitir opiniões mas sim de destinar dinheiros públicos. E assim o caso muda de figura.