Sempre que um homem quiser
No momento em que vamos entrar numa quadra festiva virada para a solidariedade, surge-me vontade de reflectir um pouco sobre aquilo que normalmente acontece durante o resto do ano.
É comum contribuirmos com elevado altruísmo em todas as causas ditas nobres (Sida, Timor etc.) ao longo do ano. Durante o Natal temos os sem abrigo e as crianças. Ficamos assim com a consciência saciada durante o resto do ano.
No que toca às crianças, as festas que lhes são dedicadas pelo Natal são tantas e de tão fraca qualidade, onde elas reconhecem sempre os mesmos motivos, ( palhaços e Pai Natal), que elas próprias se fartam. No respeitante aos sem abrigo, temos a tradicional ceia de Natal e a distribuição de cobertores.
Onde estão as crianças, os velhos, os sem abrigo, os doentes de Sida, de cancro, de hepatite, de diabetes, de alzheimer, de tuberculose etc., escondidos o resto do ano que ninguém os vê. Excepção que confirma a regra, é feita pelos Media nos seus Dias Mundiais ou de peditório. E depois?
No restante tempo contam-se pelos dedos os espectáculos que as entidades, que se atropelam no Natal, organizam, não aproveitando a maior disponibilidade no resto do ano, das companhias vocacionadas para esse género de espectáculos. Com o consequente aumento de qualidade dos espectáculos e da disponibilidade anímica das crianças para os mesmos.
Quantas campanhas de apoio com alimentação, vestuário, abafos, etc., são organizadas durante o ano, para os sem abrigo?
Nada tenho contra o Natal, entenda-se, mas a hipocrisia que a ele está associada é desprezível, como todas as formas de discriminação.
O meu apelo vai no sentido da solidariedade sem condicionalismos, sem hipocrisias e aproveitamentos, mas sempre que se justificar e não só pelo Natal e dias comemorativos.
Termino com uma frase feita, que gostaria que se tornasse realidade.
O Natal é todos os dias, sempre que o homem quiser.