Evolução do pensamento nas Jornadas do Milénio
Filosofia e ciências sociais em discussão na EST
“Todo o poder implica consentimento”, mesmo tratando-se de uma tirania, já que as massas não se revoltam. A teoria de um antigo filósofo foi recordada pelo professor universitário Viriato Soromenho Marques, durante a primeira das Jornadas do Milénio, realizada no dia 10 de Dezembro na Escola Superior de Tecnologia, a entidade que promove a iniciativa que se irá prolongar durante o próximo ano.
Destinada à discussão da evolução global do conhecimento, desde a filosofia às ciências sociais, a primeira jornada do milénio trouxe a Setúbal um enquadramento geral destes ramos do saber, através das comunicações de Viriato Soromenho Marques e do docente Franco Oliveira.
Analisando a História, Soromenho Marques conclui que a destruição da biblioteca de Alexandria “foi uma das grandes catástrofes do milénio”, pois afectou gravemente a evolução do conhecimento. Quanto à ordem social presente, o estudioso considera que neste final do milénio “verifica-se uma separação entre a política, a sociedade e a religião”, sendo a ordem política actual “baseada na dimensão contratual”.
Da mesma forma, considera que a sociedade vive um período mais próximo do século XVIII do que do século XIX porque Kant “está mais próximo de nós do que Hegel”, tendo em conta que para Kant “só devem pertencer à sociedade internacional os estados com uma constituição republicana”. Considerando a política uma parte integrante da vida actual, Soromenho Marques defende ainda uma política “contratual e solidária” e uma reflexão sobre “as consequências ético-políticas e tecno-científicas da ciência”.
Para o docente Franco de Oliveira é também necessária uma reflexão e respectiva discussão sobre a evolução das ciências exactas e das tecnologias, avançando mesmo que actualmente “não há uma reflexão matematicamente precisa do que é a inteligência artificial”. Por essa razão considera que este será um dos desafios do próximo milénio, à semelhança “de tantos outros que se colocaram” durante o milénio agora prestes a terminar.
Criadas com o objectivo de enquadrar o conhecimento adquirido ao longo do presente milénio e, ao mesmo tempo, mostrar a importância da evolução do pensamento e das ciências para o milénio que se aproxima, as jornadas prosseguem no dia 25 de Janeiro do próximo ano com um debate sobre a descoberta do corpo humano e da genética.