O ano em que o Ambiente esteve em destaque. O processo de co-incineração e as escórias das Metalimex contabilizaram muitos caracteres, e duas alegrias: A Serra da Arrábida não vai sofrer os efeitos do processo de queima dos lixos tóxicos e a freguesia do Sado está finalmente livre das escórias de alumínio, dois “inimigos públicos” abatidos. Outros, resistiram. Os problemas laborais na Sodia, que encerrou as suas portas, o descontentamento relativo dos trabalhadores da Torralta, e as ilegalidades praticadas nas rádios de Setúbal marcaram também o ano. Que foi um dos piores do século para os agricultores. A nível cultural saliente-se a acção de despejo de que foi alvo o Círculo Cultural. E, no sentido inverso, o fim do impasse nas obras do Convento de Jesus. Neste balanço ainda há espaço para um novo Bispo, um clube de futebol com direcção renovada, a luta entre Rio Frio e Ota pelo novo Aeroporto de Lisboa e a frustração de elevar a concelho algumas freguesias. A consulta directa aos cidadãos estreou-se na figura do referendo. No entanto, a democracia participativa não recebeu muitos adeptos. Os resultados, esses foram soberanos: Não ao Aborto e Não à Regionalização. Mas o acontecimento maior foi, sem dúvida, a realização da Expo’98. Durante quatro meses a fio, palavras como oceanário, olharapos, peregrinação ou “Acqua Matrix” fizeram parte do vocabulário dos portugueses. Uma festa geral, que contribuiu para o nascimento de uma nova ponte, a ligar o Montijo à margem Sul do Tejo. E o renascimento de se ser orgulhosamente português.
Expo’98 – A “créme de la créme” dos acontecimentos nacionais. Quarenta por cento dos portugueses fizeram questão de dizer “presente!” na última exposição do século XX. Terminadas as obras à “tabela” contabilizou mais apoiantes que detractores, renovou uma das zona mais degradadas de Lisboa, contribuiu para o melhoramento das redes de transporte, contemplou-nos com um número assinalável de espectáculos, animou-nos os dias e as noites. Resumindo, uma festa que relançou o orgulho nacional e fez-nos acreditar que o povo português quando quer até se porta com civismo e boa educação. Falta agora o espírito espalhar-se ao resto do País.
Ponte Vasco da Gama – Duzentos milhões de contos, dezassete quilómetros. Em ano de Expo, uma obra fundamental a acompanhá-la. A nova ponte foi inaugurada, a 29 de Março, em grande estilo, depois das polémicas que envolveram a sua localização. Os utentes passaram a ter uma segunda travessia sobre o Tejo, entre o concelho de Alcochete e o norte de Lisboa.
Regionalização – Não! O logro da fraca participação não se repetiu no segundo referendo da história de Portugal. Mas o povo foi às urnas para deixar uma mensagem inequívoca a quem promoveu este processo: esqueçam. No distrito de Setúbal, para variar, a tendência foi contra a maré dos resultados nacionais. Não é inocente o facto de o Partido Comunista, afinal de contas o principal impulsionador do projecto, dominar a região. Que queriam ver dividida. Alentejo para um lado – com os concelhos de Alcácer do Sal, Grândola, Santiago do Cacém e Sines, e Área Metropolitana de Lisboa, com os restantes concelhos do distrito.
Aborto – Um dos “flops” do ano. A figura do referendo, em estreia absoluta saiu beliscada, assim como todos aqueles que defenderam com “unhas e dentes” a despenalização da interrupção voluntária da gravidez. No referendo de 28 de Junho, quase 70 por cento dos portugueses preferiram a praia, o conforto dos lares ou outras actividades lúdicas a expressarem a sua opinião. A desinformação que reinou em todo o processo contribuiu para este cenário. Setúbal foi um dos poucos distritos que votaram maciçamente no Sim: 81,9 por cento.
Metalimex – 1998 foi o ano do adeus definitivo às escórias de alumínio da Metalimex, depositadas no Vale da Rosa há mais de dez anos. A 14 de Dezembro parte o último carregamento, com a presença da ministra do Ambiente. A operação efectuou-se com um ano de atraso sobre o calendário previsto. Mas, mais vale tarde do que nunca… No entanto há uma questão que permanece: saber até que ponto os solos ficaram contaminados. Um assunto que continuará a dar que falar para 1999.
Incineração – co-, porque será efectuada em dois locais distintos, entretanto já escolhidos pelo governo. Souselas e Maceira ficaram com um processo que ninguém queria. A Serra da Arrábida acabou o ano em bem, depois da Secil do Outão ter sido um dos locais rejeitados. Um decreto proibia a instalação de uma incineradora de resíduos industriais perigosos no local, afinal o que acabou por contribuir para que o Parque Natural da Arrábida não fosse alvo de mais um atentado. Cidadãos, políticos e ambientalistas mobilizaram-se numa luta que era de todos, pela qualidade de vida. Foi, sem dúvida, o melhor presente para a população sadina, neste Natal.
Sodia – Começou o ano na incerteza. A meio do ano veio a confirmação: não há comprador para a ex- Renault e a fábrica terá de fechar. O resultado não poderia ser outro que o despedimento dos cerca de 500 trabalhadores. Muitos deles esperam ainda por uma recolocação no mercado de trabalho.
Torralta – A Sonae chegou, viu e venceu. Belmiro de Azevedo adquire os créditos da Torralta, pondo fim a um imbróglio, que vinha prejudicando várias centenas de trabalhadores. A Sonae impediu que o Governo declarasse falência, salvaram-se os postos de trabalho, contudo, nem tudo são rosas… A comissão de trabalhadores continua a exigir o cumprimento do plano social. E as dúvidas relativamente à “elitização” do turismo em Tróia ainda não foram eslarecidas.
Agricultura – As más condições climatéricas, aliadas a um virus do bronzeamento do tomateiro, levaram os agricultores do distrito ao estado de desespero. Sintomática foi a realização de quatro manifestações de protesto só em 1998. Um ano que foi considerado pelos médios e pequenos agricultores como um dos piores do século.
Vitória de Setúbal – Sousa e Silva sucedeu a Justo Tomás, e o clube sadino respirou de alívio. A demissão em bloco dos dirigentes em assembleia geral confirmou apenas o incontornável: a impossibilidade de Tomás fazer regressar o Vitória aos “bons velhos tempos”. A esperança surgiu na figura de um oficial da Marinha, antigo dirigente do Clube Setubalense e Clube Naval de Setúbal. Como principais objectivos apresentavam-se a reformulação da Sociedade Anónima de Setúbal e a anulação do passivo do clube. Uma tarefa gigantesca, que levaria ao seu pedido de demissão. A dramatização do discurso deu os seus frutos: a sociedade civil mobilizou-se no apoio, o pedido foi reirado mais uma crise foi superada.
Bispo de Setúbal – A pronúncia do Norte continuou a dominar a diocese de Setúbal. Depois da resignação do mais carismático Bispo do País, D. Manuel Martins, por motivos de saúde, entra D. Gilberto Canavarro dos Reis, ex-bispo auxiliar do Porto. Um novo estilo a que os fiéis se vêm habituando desde 20 de Junho, altura em que tomou posse.
Convento de Jesus – Após cinco anos de impasse, devido a desentendimentos entre o conservador do Museu de Setúbal e o arquitecto responsável pela recuperação do edifício, as obras vão mesmo avançar. A decisão ficou formalizada a 25 de Outubro, com a assinatura de um protocolo entre a Câmara Municipal de Setúbal e o IPPAR.
Círculo Cultural – Um ano triste para uma entidade pública com provas dadas na cultura da cidade. O Círculo Cultural recebeu ordens de despejo pelo proprietário do edifício. Refúgio de ideias e ideais, a colectividade fundada por grandes nomes como Zeca Afonso, viu nascer um movimento de cidadãos, que tentam impedir o seu desaparecimento.
Rádios – Alguns órgãos de comunicação social do distrito foram notícia. Pela negativa. As rádios de Justo Tomás – Rádio Azul, Voz e Canal 1 – foram investigadas após acusações por parte de funcionários, de que estavam a ser cometidas ilegalidades várias. Nomeadamente, ao nível dos contratos de trabalho, inexistentes. A Inspecção de Trabalho confirmou as suspeitas e obrigou a que a administração os integrasse nos quadros. Longe de recibos-verdes. As rádios de Almada, Seixal e Sesimbra foram as que se seguiram.
AUGI’s – Ou seja, Áreas Urbanas de Génese Ilegal. Após a intensificação da luta dos moradores destas áreas contra alegados crimes de usura praticados pelas associações de moradores, o Provedor de Justiça deu-lhes razão no final de 1998. Os habitantes das Augis da margem Sul do Tejo esperam agora que termine a prática de juros inflaccionados por parte das referidas associações, que, reclamam, não foram sequer nomeadas pelos próprios moradores.
Novos concelhos – Em ano de referendo à Regionalização – reforma chumbada pelos portugueses -, a elevação de freguesias a concelho foi um dos assuntos do ano. Em vez da regionalização, avançou-se para descentralização. Mas não muito. Passámos a Ter apenas mais três concelhos, num total de 18 pedidos. Entre eles Amora, Pinhal Novo e Azeitão, que não passaram, sem surpresa, na Assembleia da República. Quanto ao último refira-se que o processo gerou bastante discórdia entre os vários representantes dos partidos locais, com a Assembleia Municipal de Setúbal a votar contra a elevação de Azeitão a concelho.