[ Edição Nº 56 ] – Teixeira da Silva, proprietário da Rádio Capital.

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barra-5022323 Edição Nº 56,   25-Jan.99

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Dono da Rádio Capital diz que tem rádios locais em rede
Porque o Governo não privatizou uma rádio nacional

           Teixeira da Silva, presidente do Conselho de Administração da Rádio Capital defende a liberalização das rádios nacionais e garante que só tem rádios locais em rede porque até hoje nenhum governo decidiu privatizar a RDP. Admite o alargamento da Capital a mais estações locais e afirma não precisar de qualquer ajuda financeira do Estado. Para além da liberalização das rádios nacionais, Teixeira da Silva gostaria que o Governo não colocasse tantas restrições às rádios que querem trabalhar em rede. Esta entrevista, inserida no dossier que temos desenvolvido sobre a comunicação social do distrito, foi um trabalho conjunto do “Setúbal na Rede” e d’ A Telefonia Virtual.

          Setúbal na Rede – Como é que define a Rádio Capital?
          Teixeira da Silva
– A Rádio Capital é formada por uma rede de dez rádios, em que há elementos concretos que definem toda a programação a partir de Lisboa e com informação local nas várias rádios. O projecto foi iniciado há cinco anos e o objectivo era, precisamente, criar uma rede que tivesse em atenção a informação local de cada rádio e uma programação comum a todas elas.

          SR – Que tipo de conteúdo tem a Capital?
          TS
– É uma rádio essencialmente musical, com informação muito concreta e precisa, abrangendo os vários temas nacionais e internacionais. E para isso é preciso ter uma redacção bastante grande. Tanto é que nós temos correspondentes em vários pontos do país e do mundo. Por outro lado, se tivéssemos uma redacção pequena corríamos o risco da informação tornar-se monótona e depois não podíamos ter um jornalista a acompanhar o Presidente da República, por exemplo, um outro a acompanhar o Primeiro Ministro e por aí fora.
          SR – Então a Rádio Capital joga no equilíbrio entre a música e a aposta na informação?
          TS
– Sim, porque as pessoas que ouvem uma rádio musical precisam também de ouvir informação e, no geral, o que acontece é que estão a ouvir uma dessas rádios e depois mudam para outra para ouvir notícias. E nós pretendemos que os ouvintes da Capital sejam os mesmos, os que simultaneamente tenham a música de que gostam e a informação de que necessitam. Esse é o nosso objectivo porque sabemos que é positivo ter uma clientela certa.
          SR – Qual é a situação laboral dos seus trabalhadores?
          TS
– Temos um total de 60 trabalhadores, entre a programação e a informação. Tínhamos colaboradores a recibo verde e alguns deles nem queriam ser integrados na empresa. É evidente que a Inspecção de Trabalho tem-nos pressionado, tal como aos outros órgãos de comunicação social, para que toda a gente pertença aos quadros da rádio. E neste momento isso já acontece com a Capital.
          SR – Como é que vê essa obrigatoriedade?
          TS
– É mais um encargo para a rádio. Apesar de ter 60 trabalhadores, a Capital é uma rádio equilibrada em termos de receita e despesa, o que me parece difícil de conseguir nos dias de hoje dada a quantidade de rádios existentes em Lisboa e em todo o país. Felizmente temos conseguido um equilíbrio onde o dinheiro da publicidade dá para sustentar a rádio.
          SR – Se os funcionários da Capital tiverem salários na ordem dos 200 contos, terá cerca de 12 mil contos de despesas mensais em salários. A rádio factura 12 mil contos de publicidade por mês?
          TS
– Mal estávamos se não facturasse muito mais. Então aí estávamos completamente falidos. Repare que as vendas brutas previstas para este ano, andam à volta dos 300 mil contos e que em 1998 vendemos cerca de 240 mil contos de publicidade.
          SR – Qual é a relação da Rádio Capital com os órgãos reguladores?
          TS
– Damo-nos bem com todos, somos das poucas rádios que nunca teve multa nenhuma. Cumprimos religiosamente a legislação.
          SR – Já transmite as 6 horas de emissão nas várias frequências locais?
          TS
– Estamos a montar a estrutura e entretanto divulgamos as notícias locais em toda a rede. Vamos ter um esquema por satélite, que deverá estar a funcionar dentro de 15 dias. Entretanto os órgão reguladores perceberam que isto é um investimento de muitos milhares de contos e que nós prestamos um serviço gratuito, ao Estado essencialmente.
          SR – Neste último concurso para atribuição de frequências, acusam-no de ter concorrido a uma série delas e chegam mesmo a chamar-lhe “papa rádios”. Isso é verdade?
          TS
– Não é verdade, o que acontece é que quando uma pessoa consegue equilibrar uma rádio há quem nos julgue um inimigo a abater e pense que estamos a prejudicar os outros. Nós temos duas em Lisboa e no Porto, e oito para transmitir.
          SR – Tem comprado essas estações ou são alugueres?
          TS
– Essas estações pertencem a outras pessoas e temos contratos de colaboração interna.
          SR – A quantas frequências concorreu neste concurso?
          TS
– Eu não concorri a nenhuma.
          SR – Mas concorreram pessoas ligadas a si?
          TS
– Evidentemente, há pessoas que nos pedem alguma colaboração e temos dado alguma colaboração para os concursos. Portanto se nos forem atribuídas muito bem, se não forem paciência.
          SR – A lei delimita o número de rádios que cada pessoa ou empresa poderá ter. Se essa delimitação não existisse, iria concorrer a mais rádios?
          TS
– Sabe porque é que existem redes em Portugal? Porque até hoje não houve um governo que tivesse a coragem de criar uma nova rádio nacional. Ou seja, enquanto em todos os outros sectores se tentou liberalizar ao máximo, na comunicação social não venderam nada nem criaram uma rede nacional de rádios. E o que aconteceu na televisão deveu-se às pressões de vários sectores para a criarem a televisão privada.
          SR – A Rádio Capital tem por objectivo ser uma rádio nacional?
          TS
– O objectivo é criar uma rede nacional, o que de facto já existe. Mas se o Governo abrir um concurso para uma rádio nacional, não tenho dúvidas nenhumas de que nós concorremos. É preciso ver que somos ouvidos no estrangeiro, temos ouvintes no Brasil, na América do Norte, no Canadá e em toda a Europa, via satélite. Portanto, temos um projecto a sério e acho que as pessoas até nos deviam agradecer o trabalho que estamos a fazer. No entanto, muitas vezes isso não acontece e atiram pedras a um projecto que é nacional, que não depende de partido nenhum e de religião nenhuma, ou seja, não depende absolutamente de ninguém.
          SR – Houve uma ocasião em que se afirmou interessado em concorrer às 21 frequências do último concurso público, pouco tempo depois garantiu que não concorria a nenhuma. A que é que se deveu esta mudança?
          TS
– Tem a ver com uma política nossa porque, a partir de determinada altura quanto mais rádios tiver a funcionar em rede pior é, em termos de funcionamento da própria rede. Acho que uma rede com dez rádios é suficiente para aquilo que nós pretendemos e que é a cobertura nacional. Só temos duas zonas que não cobrimos, a Guarda e o Alto Alentejo. Portanto, se houver hipótese de ficarmos com rádios locais nessas zonas, podemos vir a colaborar e interessarmo-nos por elas. Mas, de facto, também não é muito importante.
          SR – Apesar de ter tantas rádios não é uma pessoa da rádio. Quais são os seus sectores de actividade?
          TS
– Para além de construtor civil, tenho empresas na área da alimentação, nos vinhos e no sector dos parques de estacionamento.
          SR – Porque é que decidiu investir na rádio?
          TS
– Quando comprei a Rede A, há cinco anos, a rádio tinha já uma 35 pessoas. Na altura percebi que, para a rádio funcionar só tinha duas hipóteses: ou punha metade das pessoas na rua ou então tinha de avançar com uma rede para criar um outro volume de publicidade que permitisse aguentar tanta gente. Como se optou por esta segunda via, acabámos por rentabilizar e pôr no ar algumas rádios que, entretanto, faliram e fecharam.
          SR – A rádio é um bom ou um mau negócio?
          TS
– Em Portugal, a comunicação social nunca pode ser um bom negócio. O mercado é muito limitado para ter uma coisa a sério, ou seja, qualquer jornal de França publica dez ou cem vezes mais exemplares que um jornal português. Mas isto é como tudo, uma pessoa pode não ter só um objectivo económico na vida, pode ter um objectivo altruísta ou um objectivo social.
          SR – Então o seu objectivo foi ser amigo das rádios que estavam a falir ou das pessoas que estavam na Rede A?
          TS
– Você gosta muito de bicicletas e tem o gosto de comprar, sejam novas ou antigas, e então compra todas as que encontra no mercado. Com as rádios é a mesma coisa.
          SR – Então é um coleccionador de rádios?
          TS
– Não sou coleccionador mas gosto da ideia de ter uma rádio. E isto é como tudo, os gostos não se podem discutir.
          SR – Como é que vê o desaparecimento das rádios locais que, entretanto a Capital tem vindo a conquistar pelo país?
          TS
– As rádios locais não desapareceram, antes pelo contrário. Acredito que, se não tivéssemos pegado nelas, acabariam por fechar e o Estado não tinha recebido o pagamento das dívidas que elas tinham, e que nós pagámos por completo às Finanças e á Segurança Social. E, de qualquer maneira, o problema não é assim tão grave quanto isso porque as oito rádios com quem temos contrato para transmitir, representam cerca de 3 ou 4% do total das rádios locais.
          SR – Em tempos, houve interesse de Pinto Balsemão em adquirir a Rádio Capital. Esse interesse mantém-se?
          TS
– Houve um contacto mas pouco mais.
          SR – O valor que pediu foi alto?
          TS
– Digo já que a Capital não está à venda, mas alguém que queira ter uma participação na rádio tem de participar de acordo com o que temos aplicado. Não podemos esquecer que o equipamento que temos espalhado pelo país é todo novo.
          SR – De há cinco anos para cá, quanto é que investiu na Rádio Capital?
          TS
– Um milhão e 200 mil contos.
          SR – Há uma estratégia comercial para a rádio?
          TS
– Estratégia comercial nós temos, mas não se esqueça que a Capital não é uma venda de publicidade, não é um local onde se vende publicidade, mas sim onde se faz publicidade. Evidentemente que tem de fazer publicidade para sobreviver, mas antes disso tem uma missão social de serviço público.
          SR – Então o que é que acha do serviço público prestado pela RDP?
          TS
– Acho que a RDP já devia ter sido privatizada e, quanto a mim, não se justifica a existência de tantos canais públicos de rádio.
          SR – A Capital tem subsídios do Estado?
          TS
– Não, porque eu acho que os órgãos de comunicação social não deviam precisar de subsídios do Estado, deviam viver por si.
          SR – Mas há condições para viverem por si?
          TS
– Bastava o Governo dar condições. Uma delas seria a privatização de algumas frequências da RDP porque não se justifica haver tantas rádios públicas nacionais. E por outro lado, deixar trabalhar as redes porque quando se formou a rede Capital não havia tantas limitações à actividade das redes.
          SR – Mas não terá sido a pensar nas pequenas rádios que se delimitou as redes?
          TS
– Penso que a lei teve a pressão de alguns órgãos locais que talvez não pudessem falar ou ter acesso a determinadas estações. Muitas vezes as leis são feitas por pressão das populações, das entidades.
          SR – Ouve-se muitas vezes a Rádio Capital dirigir-se aos taxistas e outras vezes aos estudantes. Sendo públicos completamente diferentes, será que a rádio tem o público alvo bem definido?
          TS
– A rádio é dirigida à classe média alta, desde os 21 aos 50 anos.
          SR – Mas a classe média alta não são os estudantes e, de certeza que não são os taxistas.
          TS
– Depende do que definir por classe média alta. Depende tudo do grau intelectual porque hoje há estudantes e até licenciados a conduzir táxis. As donas de casa não são nossas ouvintes, os reformados com mais de 50 anos também não e as audiências dizem isso precisamente.

Entrevista de Pedro Brinca e Nuno Ribeiro     

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