Edição Nº 56, 25-Jan.99
Promovida pelos Amigos do Tejo
Expo-Tejo 99 arranca na Moita
Expo-Tejo 99 – Imagens de um Passado Presente, é o nome da exposição que pretende unir todas as povoações da zona ribeirinha ao maior rio de Portugal, o rio Tejo, que se fez mar conseguindo ir a todas as partes do mundo através da grande gesta dos descobrimentos. A exposição arranca na Moita, no dia 29 de Janeiro e estará patente no Pavilhão de Exposições até ao dia 21 de Fevereiro, altura em irá “navegar” até outro concelho. Avifauna, pesca e pescadores, barcos tradicionais, touros e cavalos, gentes ribeirinhas, turismo e lazer, são alguns dos temas abordados nesta exposição através de imagens, quadros, gravuras e fotografias. Será ainda complementada com espaços de informação e animação da responsabilidade da Reserva Natural do Estuário do Tejo, do Instituto Português do Ambiente e dos municípios anfitriões. A Expo-Tejo 99 é uma exposição itinerante de grande dimensão, da iniciativa da Associação Amigos do Tejo que conta com o patrocínio da Área Metropolitana de Lisboa e o apoio das Câmaras Municipais à beira rio plantadas: Moita, Seixal, Montijo, Barreiro, Alcochete e Almada, no distrito de Setúbal, e Vila Franca de Xira, Oeiras, Loures e Azambuja, na margem norte do rio Tejo.
Inicialmente planeada para o ano de 1998 – ano mundial dos oceanos – a exposição foi sendo adiada devido aos atrasos dos patrocinadores. Em entrevista ao “Setúbal na Rede”, Carlos Salgado, presidente da Associação Amigos do Tejo, explica que a Expo Tejo ia complementar a própria Expo 98, visto que os oceanos são, por vezes, alimentados pelos rios que neles desaguam e “ainda por cima tinha todo o significado porque a Expo’98 foi realizada e instalada precisamente à beira Tejo”
Levar o Tejo ao conhecimento da juventude e à memória e coração dos mais velhos é o principal objectivo da Associação Amigos do Tejo, porque “quem não ama não cuida e não protege” garante este responsável que adianta ser “nos bancos da escola que temos de formar as mentalidades” já que a juventude “é o grande agente propagador do que é bom”.
“Só merece o presente, quem pensa no futuro”
A Moita que vai ser o município pioneiro na mostra pública desta exposição, também está a apostar no contacto com as escolas. De acordo com Francisco Gomes, do departamento sócio-cultural da Câmara Municipal da Moita, só merece o presente quem pensa no futuro, porque “é o futuro que nós pretendemos salvaguardar, defender e preservar, ao investir na juventude”. O município da Moita, que tem 20 Km de zona ribeirinha, tem vindo a apostar na reconversão do rio e na sua devolução às populações porque acredita que o rio Tejo é o melhor cartão de visita de toda a Área Metropolitana de Lisboa.
Lembrando que, “numa determinada altura e devido principalmente à urbanização desenfreada e ao progresso, o rio foi esquecido” Francisco Gomes recorda que durante muitos anos o Tejo “era quase uma zona proibida, cheirava mal, era mal frequentado e não tinha nada para oferecer porque estava sujo”.
Uma situação que, ainda de acordo com este responsável, esteve na origem do desaparecimento de uma série de tradições de carácter social para com o rio e que, agora a autarquia pretende retomar, no sentido de permitir que o Tejo “readquira o estatuto que merece ter em todos os concelhos”.
A ideia de criar a Associação Amigos do Tejo nasceu nos anos 60, formalizou-se nos anos 80 e continua nos anos 90 com várias iniciativas de preservação do rio e do estuário. Os amigos do Tejo nasceram no dia 5 de Junho de 1984 – Dia Mundial do Ambiente – e é constituída principalmente por desportistas náuticos que vivem à borda d’água. Como diz Carlos Salgado, “começamos a constatar o abandono a que o Tejo estava a sofrer e, por isso, decidimos fundar a associação para alterar esse estado de coisas”. Trata-se de uma associação flexível e desburocratizada que contacta as populações e as autarquias, para divulgar os seus eventos e acções pois, “não é a associação sozinha que pode cuidar do rio, e por isso precisamos que as pessoas colaborem”, esclarece Carlos Salgado.
Um pouco de história
As principais povoações da margem sul do Tejo desenvolveram-se em locais onde este penetra pela terra dentro, formando um conjunto de esteiros. A sua implantação deveu-se à força atractiva do rio, provocada pelas actividades relacionadas com a vida fluvial e marítima como a pesca, a exploração de marinhas de sal, a construção naval, os transportes fluviais e o aproveitamento da energia das marés. A povoação da Moita do Ribatejo, situada no fundo dum esteiro do Tejo, foi em 1681 elevada à categoria de vila, por D. Pedro II. Por seu lado, na Moita., as freguesias do Gaio, Rosário e Sarilhos Pequenos, são as zonas do concelho mais relacionadas com o Tejo e possuem um enorme historial mercantil e económico.
De acordo com Francisco Gomes estas freguesias estavam ligadas ao Tejo “através dos transportes que eram feitos pelas fragatas, pela pesca e também pelas tradições religiosas”. A este propósito Francisco Gomes recorda ainda que nos dias de festa, “as santas padroeiras vão para o rio nas embarcações tradicionais, para abençoar o próximo ano dos pescadores”.
A Moita foi também o primeiro concelho do distrito a recuperar embarcações tradicionais, e é exactamente na Moita que existem os principais estaleiros navais de recuperação e construção artesanal dessas embarcações.
Célia Cruz