Edição Nº 58, 08-Fev.99
CRÓNICAS DA BEIRA-MAR
por Raúl Oliveira (Jornalista do “Imenso Sul” e
correspondente do Público)
A Coerência da (In)Coerência
Os últimos dias foram férteis em acontecimentos políticos que nos fazem pensar na coerência e incoerência de certas decisões e eventos. No âmbito das coerências estão por exemplo a festa de aniversário do Expresso e a confirmação da 3ª Guerra Civil em Angola, por mais absurda que possa parecer a associação de eventos tão díspares. Só uma publicação tão coerente como sempre foi o Expresso conseguia juntar no mesmo palco tão antagónicas personalidades: Mário Soares e Cavaco Silva; Alberto João Jardim, Marcelo Rebelo de Sousa e Carlos Carvalhas; Herman José e Henrique Mendes; D. Manuel Martins, Bispo de Setúbal, e o filho de António Champalimaud, entre outros, onde se inclui o próprio patrão do aniversariante, Francisco Pinto Balsemão. . Não é por acaso portanto o lugar de referência que o Expresso ocupa na Comunicação Social do país. Coerência é o que se pode dizer que sempre norteou a acção do caudilho Jonas Savimbi, que aliás teve bons mestres nos países vizinhos, se nos lembrarmos do falecido Mobutu. Coerente é também a postura de quem tem alimentado essas guerras (e outras por esse mundo fora), os negociantes de armas, só que no caso concreto de Angola é tão ou mais chocante quando é sabido que a Savimbi pouco importa o custo, até em vidas humanas, da sua ambição para alcançar o poder. Aliás é bom que não se olvide que quem está no poder em Angola pouco se preocupa também com o destino do povo angolano, mártir de mais de trinta anos consecutivos de guerra, quando esbanja as riquezas do seu país com a camarilha que o rodeia e não assegura as necessidades mais básicas dos seus concidadãos. Incoerência é o que se adivinha com a nova AD, porquanto está a anos luz da anterior. Enquanto a inicial tinha POLÍTICOS, projecto e objectivos definidos na sua génese, a actual não passa de uma coligação em que são mais os equívocos do que as certezas. Só com muita vontade o eleitorado acreditará na sinceridade dos mentores desta ressuscitada AD, que as suas “prioridades” são… os pobres (o PS que se cuide). Por muito mavioso que seja o discurso, dificilmente muitos eleitores, cujo passado foi severamente marcado pelas práticas políticas dos gúrus dos actuais sociais-democratas e democrata-cristãos, aceitarão mudar de voto. E o maior handicap que se vislumbra neste “casamento”, quasi contra natura, é que qualquer dos “noivos” ainda não convenceu a própria família, como é que vai conseguir convencer o resto dos convidados (os eleitores)? Incoerência será também o que se poderá apontar a uma empresa cujos lucros não têm sido de desprezar e se mostra algo renitente em conceder alguns benefícios aos que lhe proporcionam esses lucros, os seus empregados.
Estamo-nos a reportar à Petrogal, que gozando de uma apreciável situação financeira, e apostada numa internacionalização que se aplaude, regateia conceder benefícios ao seu pessoal, que nem de perto nem de longe põem em causa os bons resultados, quiçá por indicação do accionista maioritário, o Estado, “preocupado” pelas repercussões nas outras empresas do país.