Edição Nº 58, 08-Fev.99
Por mais qualidade de vida
Trabalhadores manifestaram-se em Setúbal
Cerca de dois mil trabalhadores e sindicalistas ligados à CGTP saíram à rua no dia 4 de Fevereiro, para uma manifestação que começou na baixa da cidade e ‘desembocou’ frente ao Governo Civil de Setúbal. Foi a expressão distrital da jornada de luta realizada em todo o país, contra as propostas governamentais de alteração da lei do trabalho e pelo aumento dos salários.
Organizada pela União de Sindicatos de Setúbal, a estrutura regional da CGTP, a manifestação resultou numa “imensa expressão de descontentamento”, tendo em conta que “mobilizou mais de duas mil pessoas” oriundas de várias empresas do distrito e de diversos sectores da administração local.
Uma participação em massa que, segundo contou ao “Setúbal na Rede” o coordenador da União de Sindicatos do Distrito de Setúbal, “diz bem do grau de descontentamento dos trabalhadores da região”, face ao desemprego, à instabilidade laboral e “às tentativas governamentais de alterar as leis do trabalho”.
Uma alteração nas regras do tempo de trabalho, no conceito de trabalho, a introdução do conceito de trabalho a tempo parcial e a redução do tempo de férias, que o dirigente dos sindicalistas considera ser “contra os mais elementares direitos dos trabalhadores e a favor do patronato”. Estas preocupações foram expressas numa resolução que os trabalhadores entregaram ao Governador Civil de Setúbal, no final da manifestação, documento que o representante do Governo deverá fazer chegar, ainda este mês, junto da administração central.
Na resolução, os trabalhadores e sindicalistas rejeitam ainda a posição do Governo face às reivindicações salariais dos funcionários da administração local, tendo em conta que, segundo Rui Paixão, os aumentos previstos pelo Governo para este sector, “são inferiores à actualização do salário mínimo nacional”. Ou seja, os sindicalistas dizem não compreender porque é que os trabalhadores da administração local têm de receber menos 1,5% de aumentos que a maioria dos portugueses.
Para que os trabalhadores obtenham mais qualidade de vida, a União de Sindicatos pretende que o Governo reate as negociações com os sindicatos da administração local, intervenha na Borealis e na Univerci, onde cerca de 400 trabalhadores correm o risco de serem despedidos, por razões económicas das empresas, e que promova a estabilidade no emprego e as oportunidades de emprego na região.
Para além disso, os sindicatos não abrem mão das reivindicações sobre os direitos laborais previstos na lei, pelo que já avisaram o Governo de que “não deve levar à Assembleia da República as medidas relacionadas com a alteração ao ‘pacote’ laboral”.
E os sindicalistas garantem mesmo que, “se mexerem nas leis fundamentais como a das férias, do conceito de trabalho e do conceito de retribuição”, os trabalhadores de todo o país, ligados à CGTP, “vão entrar em greve e deslocar-se à Assembleia da República” em protesto. Prevendo essa possibilidade, milhares de trabalhadores do distrito prepararam já diversos pré avisos de greve, a entregar nas respectivas empresas caso o ‘pacote laboral’ vá mesmo para discussão na Assembleia da República.