Edição Nº 61, 01-Mar.99
Seminário sobre mulheres em Setúbal
Cáritas denunciou problemas no feminino
É necessário chamar a atenção para a importância da participação activa das mulheres nos sectores económico, social e cultural, denunciar todos os casos que colocam sob o risco de manter as mulheres em situação de risco. Foi com estes objectivos que a Cáritas Diocesana de Setúbal partiu para um seminário na Escola Superior de Ciências Empresariais (ESCE) de Setúbal, nos dias 25 e 26 onde participaram várias associações de ajuda e defesa dos direitos das mulheres.
“O aumento da representação das mulheres no nosso Parlamento está na ordem do dia dos partidos políticos”, disse Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Diocesana de Setúbal, sendo esta uma forma de “garantir ao sexo feminino uma participação mais significativa nos destinos do país”.
O presidente da Cáritas considera necessária a “presença de mais mulheres nos organismos de decisão, mas competentes” porque “só assim se conseguirá compreender os anseios e problemas das mulheres portuguesas” e principalmente “daquelas a quem é negado o acesso aos direitos mais elementares”.
Não existem números exactos quanto às mulheres que, no nosso país, são exploradas e maltratadas e “não se consegue conhecer objectivamente a realidade porque muitas teimam em silenciar as situações adversas, dominadas pelo medo”, adiantou Eugénio Fonseca.
A Fundação Bissaya Barreto é uma das instituições portuguesas que presta assistência às mulheres que vêm os seus direitos negados. “Actualmente os pedidos de ajuda das mulheres são mais visíveis”, disse Carmen Fonseca, membro da Fundação, adiantando que este facto “pode ser um reflexo de uma maior tomada de consciência dos direitos” e uma “prova de que está a mudar a ideia de que entre marido e mulher ninguém mete a colher”. É preciso participar
O S.O.S. Mulher é outro dos serviços nacionais de apoio, integrado num projecto da Fundação Bissaya Barreto acolhe e recebe queixas de várias mulheres “sobretudo dos estratos sociais mais baixos”, disse Marta Fonseca, técnica do Serviço S.O.S. Segundo a própria, os pedidos de socorro são “mais no âmbito da violência doméstica, sexual e económica”.
“Há perda de poder económico quando há violência porque esta diminui o nível de bem-estar”, disse Margarida Martins da Associação de Mulheres Contra a Violência, sendo que para esta responsável “há que saber intervir em cada caso porque uma intervenção desadequada pode levar uma mulher à morte”.
“Deve haver mais participação das pessoas”, pelo que “é necessário educá-las para a participação”, afirma Eugénio Fonseca que não defende “a desresponsabilização do Estado nem a excessiva responsabilização”, mas sim que este “esteja ao nível da motivação dos cidadãos em interagirem com os problemas sociais”.
Com este debate foi “reconhecida a evolução positiva da mulher portuguesa, apesar de existirem aspectos menos positivos”, disse Eugénio Fonseca. Para o dirigente da Cáritas, tratou-se de “um despertar para estas causas necessárias e importantes a um desenvolvimento sustentado”. Uma tarefa a ser desenvolvida “sem desanimar e estar ao serviço dos outros, daqueles que não têm voz”, conclui o presidente da Cáritas de Setúbal.