Edição Nº 63, 15-Mar.99
CRÓNICA DE OPINIÃO
por Amílcar Malhó (Jornalista da Área Empresarial)
Sem boa gestão
não há boa emissão
Uma rádio local do distrito de Setúbal levou a efeito recentemente um fórum de discussão interna, com vista à análise do seu funcionamento e consequentes conclusões, eventualmente indicadoras da necessidade de implementar correcções. Trata-se da Som do Pinhal ou Popular FM como é mais conhecida, com estúdios de emissão no Pinhal Novo que, para além dos cooperantes e colaboradores dos diversos departamentos, decidiu incluir no colectivo de reflexão quatro convidados externos, um por cada painel em discussão. Eu tive o privilégio de estar entre o referido quarteto. E digo o privilégio porque, para lá da importância dos temas tratados e reforço de conhecimentos que sempre acontece quando se debatem ideias, métodos e conceitos, esta iniciativa demonstrou que a realidade actual da comunicação social regional, particularmente as rádios locais, pode melhorar. E pode melhorar se, independentemente de se tratar de uma cooperativa (como é o caso), ou uma sociedade por quotas, existirem regras básicas de gestão. A falta destas é, em minha opinião o mais grave problema que hoje atravessam as pequenas empresas, sejam elas de metalomecânica, informática, ou comunicação social. O caso que aqui refiro, é apenas um exemplo de uma iniciativa básica, particularmente em empresas de comunicação, mas rara, como todos sabemos. Vive-se ainda uma certa forma de actuar separando a informação, porque tem regras precisas (na maior parte das vezes ignoradas), da programação onde se exige mais a voz do que os conteúdos da mensagem e o gosto musical. Entende-se o técnico como o “operário” da manutenção e os serviços administrativos como os velhos e eternos “empregados de escritório”. E são sempre os comerciais os culpados de não se receber a tempo e horas. Ainda por cima, a rádio não vende o seu produto aos consumidores. Os ouvintes não pagam para ouvir rádio. São os anunciantes que pagam para que outros ouçam as suas mensagens. E para que haja consumidores/ouvintes de rádio é preciso que a equipa funcione e para que funcione deve ter oportunidade de discutir periodicamente se a informação é credível, a programação agradável, a qualidade de emissão boa, a facturação e os recebimentos feitos nos prazos e… se mesmo assim os ordenados se atrasam, concluir se se está a vender pouco, ou a gastar muito. Hoje, qualquer aluno do primeiro ano de gestão aprende a importância da motivação das equipas de trabalho. E não há melhor forma de motivar do que promover o diálogo e a análise do trabalho de cada um, face ao resultado obtido por todos. Não faço (nem devia fazê-lo), qualquer comentário ao que se passou no referido fórum, nem aos resultados práticos que daí advirão. Mas para mim, há já um resultado. Voltei a acreditar que o movimento das rádios locais iniciado há mais de uma década, pode vir a ganhar novo fôlego e viabilizar-se economicamente. Basta que como qualquer empresa, tenha gestão. De preferência boa, porque sem boa gestão, não há boa emissão.