[ Edição Nº 65 ] – PP quer travar Parque de Aventuras na Mata da Machada.

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barra-3664911 Edição Nº 65,   29-Mar.99

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Contra “promiscuidade” na Machada
PP quer intervenção do Provedor de Justiça

           O grupo parlamentar do PP vai exigir a intervenção do Provedor de Justiça para travar o caso da implantação do Parque de Aventuras na Mata da Machada, no Barreiro, e quer chamar o ministro da Agricultura ao parlamento para lhe pedir explicações. A medida foi avançada ao “Setúbal na Rede” por João Massapina, o presidente da Comissão Política Concelhia do PP do Barreiro, que em conferência de imprensa realizada no dia 24 de Março, apresentou documentos e fotos sobre o que diz ser “um negócio do PS”.

          O dirigente popular do Barreiro afirma que “estão metidos nisto o Governador Civil que nomeou Martinez, um boy socialista”, bem como a Direcção Regional Agricultura “que assinou o acordo gravoso” para a utilização da mata, “para além de um ex-vereador PS que explora a madeira das árvores abatidas”.

          As denúncias do dirigente do PP surgiram no momento em que os populares decidiram solicitar a intervenção do Provedor de Justiça para um caso que consideram “escandaloso”. Questionado sobre as razões do silêncio dos populares sobre uma matéria que, ao longo das últimas semanas, tem provocado fortes movimentações do PSD e da CDU, João Massapina disse ao “Setúbal na Rede” que os populares só falam com conhecimento de causa e que, por isso o silêncio manteve-se enquanto “investigamos para reunir estas provas”.
          Escandalizado com o constante abate das árvores da Mata da Machada, que o PP atribui à instalação das infra-estruturas para apoio a ex-toxicodependentes, João Massapina garante ter provas de “promiscuidade do PS”, que segundo conta o dirigente político, “oferece suspeitas da exploração das madeiras por parte de outro socialista”. É que, de acordo com este responsável, as investigações feitas pelo próprio PP, no local, “resultaram em fotos de camiões” que mais tarde terão sido identificados “como pertença do ex-vereador do PS, Francisco Pinto, dono da empresa madeireira Corvelo e Pinto”.

          Governador desdramatiza

          Para além das acusações relacionadas com o estado da Mata da Machada, o dirigente do PP diz rejeitar liminarmente o Parque de Aventuras porque “apesar de desconhecermos qualquer projecto” de que a Câmara também diz não ter dados e que “nem sequer está contemplado em PDM”, estava prevista a utilização de 10 hectares de terreno e “agora destruição espalha-se por toda a mata”. Reiterando a ideia de que o PP nada tem contra a inserção de ex-toxicodependentes, o dirigente barreirense rejeita a “exploração barata” desta mão de obra que, segundo adianta, “subverte todas as regras de procedimento em relação a esta matéria”.
          Por seu lado, o Governador Civil de Setúbal desdramatiza as declarações do dirigente do PP e garante mesmo que os protestos ocorrem por falta de conhecimento ou porque as pessoas “não se querem informar”. Em declarações ao “Setúbal na Rede”, Alberto Antunes considera despropositadas as movimentações efectuadas no Barreiro sobre o Parque de Aventuras, já que se trata de um empreendimento “de toda a utilidade” que pretende a inserção social de pessoas curadas do vício da droga. Quanto ao abate de árvores da mata, o Governador garante que nada tem a ver com a implementação do Parque, visto tratar-se de uma medida da Direcção Regional de Agricultura do Ribatejo e Oeste, para a preservação daquela área protegida.

          “O Parque é alheio aos cortes”

          A mesma ideia é defendida pelo director da Direcção Regional de Agricultura do Ribatejo e Oeste (DRARO), Fernando Varela, que garantiu ao “Setúbal na Rede” que o projecto Parque de Aventuras é “alheio aos cortes na mata”. E a prova, segundo adianta, é que os cortes estão a ser efectuados em zonas que “nada têm a ver com a área onde será implantado o empreendimento”. Fernando Varela diz tratar-se de “cortes culturais”, um termo técnico que significa o abate de “exemplares novos mas raquíticos” e de árvores no fim da vida, de maneira a permitir a sobrevivência dos outros espécimens.
          De acordo com este responsável, é o que se verifica na Mata Nacional da Machada, ao abrigo de um plano com mais de seis meses e em execução desde Novembro de 1998. Quanto à exploração da madeira, garante tratar-se de um processo transparente, já que as empresas que o fazem, a Corvelo e Pinto e a C.M. Comércio de Madeiras, ambas da zona do Barreiro, “foram as que melhor oferta de preço fizeram em hasta pública”.           O projecto da DRARO para a Mata da Machada, com um orçamento de cerca de 30 mil contos, contempla ainda a reflorestação com espécies autóctones, a implementação de um projecto piloto de plantação de sobreiros oriundos de todo o mundo, a limpeza da mata para prevenção de fogos e a implementação de estruturas para a criação de um parque de merendas.

          “Câmara queria urbanizar”

          Fernando Varela considera a requalificação da área natural compatível com o projecto da associação Questão de Equilíbrio, que classifica de “uma estrutura leve e sem consequências para a zona”, para além de ter um objectivo “nobre e louvável” de inserção de ex-toxicodependentes. Isto em contraposição às intenções da autarquia que, depois de, em 1975, ter firmado um acordo com a DRARO para construção de um parque de campismo “pediu-nos para fazer uma urbanização dentro da mata”. Como a DRARO não permitiu tal projecto “por não ser do interesse público e ser incompatível com a zona protegida”, Fernando Varela afirma que “a autarquia decidiu deixar expirar o acordo sem construir o previsto parque de campismo”.
          Quanto às acusações formuladas pela Associação de Amigos da Mata da Machada, Fernando Varela diz que se devem a falta de conhecimento sobre a matéria, “embora me tenha disponibilizado, por diversas vezes para esclarecer o assunto”. Como exemplo da “boa vontade” da DRARO neste processo, Fernando Varela diz que voltou a convidar a associação, a Junta de Freguesia de Palhais e a Câmara do Barreiro para uma reunião no dia 30, para a qual diz ainda não ter recebido qualquer resposta.

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