Edição Nº 65, 29-Mar.99
Com os olhos postos na recuperação de Tróia
Torralta aumenta salários deste ano
Os trabalhadores e a administração da Torralta chegaram a acordo quanto aos aumentos salariais para este ano, com retroactivos a 1 de Janeiro. Da proposta inicial da empresa, situada em 1,4%, que os sindicalistas consideravam “ofensiva”, os números passaram para os 3%, uma cifra que acabou por ser aceite de bom grado.
Tanto os trabalhadores da Torralta, em Tróia, como o Sindicato de Hotelaria e Turismo estão satisfeitos com a assinatura do acordo que, segundo contou ao “Setúbal na Rede” o dirigente sindical Joaquim Pires, significou “uma vitória dos funcionários” que, durante as negociações, chegaram mesmo a “ameaçar com paralisações durante o período da Páscoa”. Satisfeitos com os 3% de aumento na tabela salarial, os trabalhadores viram ainda aumentadas, em 2,8%, as cláusulas de expressão pecuniária referentes aos subsídios de alimentação, abono por falhas, prémio por conhecimento de línguas e prémio por antiguidade.
Fazendo as contas, Joaquim Pires afirma tratar-se de uma aproximação aceitável do poder de compra, “perdido durante os anos de crise da empresa”. No entanto sempre vai dizendo que este aumento não chega para reabilitar os salários degradados, pelo que “é preciso lutar mais por salários iguais aos que se praticam no sector”.
Quem também ficou satisfeito com o resultado das três reuniões entre a empresa e os dirigentes sindicais foi o administrador da Torralta, Henrique Montelobo, que em declarações ao “Setúbal na Rede” classificou o acordo como “vantajoso” para a empresa e para os trabalhadores. Montelobo acredita que os aumentos possam ser promotores de uma relação positiva entre a administração e os funcionários, um factor que considera importante visto que “não há empresa que sobreviva sem trabalhadores”.
Este aumento foi possível porque “correspondeu a uma maior produtividade” da operadora turística e, consequentemente, a uma maior capacidade da empresa para “distribuir esses benefícios”. Henrique Montelobo diz-se ainda satisfeito pelo facto do acordo respeitar o Contrato Colectivo de Trabalho, assinado no ano passado, entre as associações sindicais e a Associação de Hotelaria de Portugal.
Futuro decidido até Julho
Apesar de aliviados quanto à resolução deste processo negocial, os trabalhadores continuam a temer o futuro, já que dizem nada saber da viabilidade do projecto de reconversão da empresa, objecto de análise por parte do Governo desde o início do ano. E o receio de que a situação se arraste, “trazendo mais problemas e perigos para os postos de trabalho” leva Joaquim Pires a garantir que os trabalhadores estão já a pensar em “exercer pressões junto do Governo”, o que poderá ocorrer já a partir do mês de Abril, se até lá “não disserem como está dossier Torralta”.
A preocupação dos trabalhadores não encontra eco junto do administrador da empresa que diz estar o processo “dentro do tempo certo”. Apesar de compreender as apreensões, Henrique Montelobo afirma que tudo decorre com normalidade e pede paciência aos trabalhadores já que “ainda falta muito para chegar à data prevista para a decisão governamental”. De acordo com as contas do Ministério da Economia, a resposta oficial ao projecto da Sonae para a recuperação da Torralta, em Tróia, deverá ser dada até ao dia 6 de Julho. Quanto ao projecto em análise, o administrador garante que “nada leva a crer que seja reprovado”, uma convicção que tem vindo a ser reforçada nos frequentes encontros mantidos com o Ministério da Economia e com a Câmara de Grândola. Por isso a Sonae vai esperar “com tranquilidade” a resposta do Governo, até porque só falta o ‘sim’ oficial para pôr em prática o plano de viabilização. De acordo com o administrador, assim que houver ‘luz verde’ para a recuperação, a empresa vai arrancar com os primeiros projectos, previstos para o mês de Outubro, que dizem respeito às obras de requalificação dos edifícios que vão continuar de pé, no complexo turístico de Tróia. Os outros projectos, que prevêem a recuperação da área, através da construção de novas infra-estruturas e equipamentos, Henrique Montelobo diz que serão postos em prática à medida que forem licenciados, pelo que espera que as primeiras grandes mudanças venham a ser postas em prática ao longo do próximo ano.