Árbitros exigem formação
Em colóquio do Núcleo de Setúbal
“É necessário reformular a formação de árbitros em Portugal”, avisou Luís Guilherme, presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol, num colóquio organizado pelo Núcleo de Árbitros de Futebol da Cidade de Setúbal, no passado dia 16 de Abril, com a presença de vários representantes dos diferentes sectores do futebol português.
Luís Guilherme advertiu para o facto de a arbitragem em Portugal ser feita “à base da carolice” e lembrou que a última acção de formadores de árbitros foi à sete anos, o que tem provocado dificuldades na aprendizagem, pois não têm livros actualizados com as novas leis de jogo. O presidente da APAF disse mesmo que “não se pode permitir este estado de coisas e o caminho é a clara aposta na formação”.
A Associação dos Árbitros está preocupada com a credibilidade perdida e o seu presidente não acredita que a profissionalização seja a solução. Luís Guilherme defende que “o árbitro anda na arbitragem por paixão, por vocação e tem é que ser formado de forma a poder enfrentar, de cabeça levantada a comunicação social e não andar a fugir da televisão e da imprensa”.
Rui Chipenda, em representação dos profissionais de futebol, comparou a credibilidade dos árbitros portugueses com a realidade inglesa, “onde o árbitro é respeitado e os jogadores vêm-no como um professor, um treinador ou um juiz”. O jogador do Vitória de Setúbal lembrou que “o árbitro faz parte do espectáculo e é quem lhe pode dar mais qualidade”.
Chipenda acusou a mentalidade nacional de ser responsável pelas dificuldades sentidas pelos árbitros, que entram em campo pressionados, comprometendo-lhes a actuação. “Basta sair a nomeação do árbitro para o jogo e começam os problemas”, o que o jogador considera estar errado e ser necessário mudar para que “os miúdos na escola, na disciplina de desporto, passem também a escolher a opção da arbitragem”. As palavras mais contundentes vieram de Octávio Machado. O treinador de futebol está preocupado com as atitudes para o século XXI, que era o tema em discussão. Mostrou-se agradado com a juventude presente na sala e identificou-a com a necessidade de renovação na arbitragem nacional.
Octávio Machado defende a entrada de sangue novo como forma de acabar de vez com os pólos de conflitualidade e avança com mais uma comparação com o panorama inglês. “Em Inglaterra temos poucas linhas nos jornais antes dos jogos e estádios cheios. Em Portugal páginas e páginas de discórdia, por vezes à volta dos árbitros, antes dos jogos e estádios vazios”, afirmou.
Octávio Machado declarou-se contra a divisão dos árbitros em duas associações nacionais, o que, no entender do treinador, “não é benéfico e só serve para dividir a classe, passando o árbitro a ser o suspeito”.