[ Edição Nº 68 ] – CRÓNICA DE OPINIÃO por Jorge Pires.

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CRÓNICA DE OPINIÃO
por Jorge Pires (membro da Comissão Política do PCP)

A quem serve a agressão da NATO?

           Correndo o risco de me tornar repetitivo face ao muito que já se disse e escreveu sobre a agressão da NATO à Jugoslávia, não é demais continuar a insistir no aprofundamento da discussão pública em torno de algumas questões que considero centrais e que estão nas causas desta agressão e do posicionamento do Governo Português e do Presidente da República.           Como cidadão português, e estou certo que assim como a maioria do nosso povo, sinto-me envergonhado do nosso país estar a participar nesta agressão a um Estado Soberano, que não declarou guerra a ninguém e muito menos constitui qualquer ameaça para outros países da região. Mas sinto simultaneamente uma grande indignação por ver o primeiro Ministro de Portugal a justificar-se tardiamente perante os portugueses, com ar solene e preocupado, mas todo ele transpirando falsidade e hipocrisia, papel que só os submissos e seguidistas estão disponíveis para fazer.           Esconder deliberadamente as verdadeiras razões que levaram o Governo Português a participar nesta agressão bárbara, repetindo o argumento ouvido em todas as capitais da NATO por decisão da Casa Branca, de que a intervenção se fazia por razões humanitárias. Desta forma procura não só escamotear as verdadeiras razões da sua atitude, como dá cobertura aos verdadeiros objectivos que levaram os EUA, a Alemanha e outras potências e Europeias a largar toneladas de bombas sobre os povos da Federação Jugoslava. O Governo Português sabe perfeitamente que os EUA procuram impor à bomba uma nova ordem mundial em que para eles fica o papel de polícia do mundo, reivindicando o direito de intervir em qualquer parte do mundo sempre que os países e os povos não se enquadrem nas estratégias políticas, económicas e militares que a Casa Branca decidir. Criar um protectorado naquela zona dos Balcãs, mesmo às portas da Federação Russa, é fundamental na consolidação desta estratégia.           Os interesses nacionais, da Europa onde estamos inseridos e do mundo só têm a ganhar com a paz e a cooperação entre os povos.           Considero por isso fundamental insistirmos na exigência do fim imediato da guerra e do regresso dos soldados portugueses. Mesmo estando integrado na estrutura militar da NATO, Portugal não é obrigado a seguir cegamente as decisões dos EUA e só se prestigiará batendo com a porta, fazendo regressar os nosso soldados e insistindo junto da comunidade internacional para a procura duma solução política para o problema do Kosovo.           Uma outra questão que é central hoje e para o futuro e que a comunicação social não tem dado importância é a existência da própria NATO que acaba de fazer 50 anos e que, ao contrário do que seria desejável com a dissolução do Pacto de Varsóvia, desenvolve uma nova estratégia agressiva, de alargamento a novos países e de intervencionismo militar. Linha que põe de novo em risco a paz na Europa e no mundo.           Desde a sua formação a NATO nunca foi uma organização virada para a defesa da liberdade e da democracia, como são exemplos os apoios à ditadura fascista em Portugal, os apoios à Turquia que massacra o povo Curdo, a Israel que expulsa os Palestinianos das suas próprias terras, ou o apoio que dá à Indonésia cujas tropas são responsáveis pelo massacre de dezenas de milhar de Timorenses.

          São razões e preocupações suficientes para promover no nosso país um debate alargado sobre o que é hoje a NATO, os seus objectivos e os perigos da sua estratégia para a Europa e o mundo. Para mim o caminho mais seguro, mais consequente na defesa da liberdade, da democracia, da cooperação e solidariedade entre os povos é a dissolução da NATO.