[ Edição Nº 68 ] – AVISO À NAVEGAÇÃO por Rogério Severino.

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AVISO À NAVEGAÇÃO !!
por Rogério Severino (Jornalista e membro eleito
do Conselho Geral do Sindicato dos Jornalistas)

Os homens do 25 de Novembro
não podem comemorar o 25 de Abril

           Não me recordo de ter lido qualquer solicitação do primeiro-ministro aos seus amigos e correligionários da OTAN a pedir que intervenham em Timor-Leste. Também não me lembro de ter lido qualquer concordância do mesmo primeiro-ministro a solicitar a intervenção dos amigos da OTAN contra o Governo da Turquia face ao genocídio dos curdos (o governo turco é mais prático: não deporta os curdos, mata-os). Da mesma forma em nada está escrito que o PM tenha concordado em pedir a intervenção dos amigos da OTAN no País Basco, que luta pela independência. O que li e vi e ouvi foi o tal PM, de cócoras perante os amigos da OTAN a dar o aval à invasão de um País soberano para permitir o expansionismo americano. Aliás, invocar causas humanitárias para a intervenção assassina, somente as crianças da pré-primária acreditam.
          Tudo isto a 25 anos do 25 de Abril de 1974…
          Não é hábito escrever na primeira pessoa mas neste caso tenho que dizer que não é este o meu 25 de Abril nem nada me identifica com ele. Não o comemoro e tenho por ele a maior indiferença pois esta data nada significa para aqueles que lutaram de facto por um Portugal melhor, sem explorados nem oprimidos.           O meu 25 de Abril foi o que pôs fim à guerra colonial. Mas para a tropa fandanga que está no Governo, morrer nas ex-colónias era uma morte ao serviço da ditadura. Se os nossos jovens morrerem ao serviço da OTAN é uma morte democrática. Espero, por isso, que se houver necessidade, os governantes sejam os primeiros a enviar os seus filhos para a guerra, para não serem, como habitualmente, os filhos dos outros. Depois, os filhos dos deputados, dos ‘boys’ e de todos os que se serviram do 25 de Abril para ficarem muito bem na vida. Já que a morte é democrática, que comece por eles.           O meu 25 de Abril foi para levar o povo ao Poder não foi para tirar o Poder ao povo dando-lhe em troca um voto. Hoje, temos no Governo, no Parlamento, nos Conselhos de Administração das empresas, nas autarquias, nos Serviços que tenham cargos de nomeação política, gente que se não fosse o 25 de Abril não passariam de vulgares amanuenses. Devido ao 25 de Abril e porque distorceram a mensagem e a intenção, temos em S. Bento tropa que nem na rua deles seriam eleitos deputados e muitas vezes nem em casa. Vão todos a reboque dos Partidos.           O meu 25 de Abril resolvia o problema da habitação, da saúde, da educação e do emprego. Com esta tropa fandanga no Poder (só lá está com o beneplácito dos americanos pois quando não lhes agradar, invadem-nos) estes problemas não só não foram resolvidos como temos hoje uma classe média depauperada, endividada, e uma classe baixa que já não pode ser mais pobre.           O meu 25 de Abril criava condições para que os jovens fossem felizes, criativos, alegres e com amor à vida. Com esta tropa fandanga, que distorceu o 25 de Abril a grande parte da nossa juventude está espalhada pelas prisões devido à toxicodependência, pelos hospitais devido à SIDA e diariamente pelos Tribunais, para aumentarem o Registo Criminal.           Com tudo isto, este País, estes governantes não têm o direito moral de comemorar o 25 de Abril, apossando-se de um sentimento de liberdade que não têm. Comemorem, isso sim, o 25 de Novembro. Ou já se esqueceram das punições com que os direitistas, com o beneplácito dos autodenominados socialistas fizeram aos militares de Abril? É a direita que puniu Salgueiro Maia, enviando-o para os Açores, negando à viúva o direito à pensão quando os Pides tinham todas as mordomias, que festeja o 25 de Abril? É a direita que avalizou a prisão de Otelo Saraiva de Carvalho e que passou à reserva outros militares de Abril, que hoje se reivindica de democrática? E onde estavam os ‘socialistas’ na altura? A pactuar, a fazer acordos, a discutir lugares.           Vinte e cinco anos depois, só o povo, os explorados e oprimidos, os sem casa, sem emprego, sem condições de saúde e sem possibilidades de dar educação aos filhos, só esses, que continuam a ser as vítimas do capital, podem comemorar Abril. O mesmo Abril que se fez para acabar com as oligarquias mas onde o Governo dito socialista voltou a dar à mesma meia dúzia de famílias o poder e deter a grande capacidade financeira do País.           O meu 25 de Abril nada tem com a globalização, nada tem com a guerra, e respeita os países. Hoje o meu País é um protectorado dos fascistas americanos, donos e senhores do mundo, onde, do cimo da sua infinita ‘bondade’ deixam Portugal parecer independente.

          Comemorar o 25 de Abril de 1974 com as gentes do 25 de Novembro de 1975 é uma ofensa histórica, é um erro histórico. Mesmo assim os ideais de 1974 estão vivos. E há quem se reveja neles e nunca esqueça os dias de liberdade. Nessa altura, tal como Neruda, posso dizer: Confesso que vivi.