CRÓNICA DE OPINIÃO
por Duarte Machado (Vereador do PSD na Câmara
Municipal de Setúbal com o pelouro do Turismo)
Generalização e competitividade
na actividade turística
A globalização da procura turística contrasta com a produção local dos produtos turísticos. A noção de país turístico perde terreno em todos os sentidos. A montante (procura) perde para a globalização, a jusante, perde para a descentralização e para o aumento da autonomia das regiões, municípios e cidades. Os factores mais importantes para a vantagem competitiva de um destino não são as herdadas mas as criadas. Isto é, o “stock” de factores existentes (vantagens comparativas) é menos importante que a taxa à qual elas são criadas, melhoradas e especializadas (vantagens competitivas). A falta de mecanismos modernos e competitivos para a criação dos factores de produção, é, muitas vezes, a debilidade mais premente de um destino ou de um produto turístico e pode manifestar-se, por exemplo, na baixa qualidade dos serviços disponibilizados. Daí que a educação, formação, pesquisa e respectivos programas de investimento, sejam as mais importantes ferramentas de intervenção para criar vantagens competitivas sustentáveis. Cada destino turístico reencontra para cada mercado (zona emissora), oportunidades ou constrangimentos muito diferentes. Por isso, não se deve falar da competitividade de um destino turístico mas da competitividade dos seus produtos turísticos. Regra geral (excepto algumas ilhas caribenhas e outras), os produtos turísticos de um país concentram-se sobre territórios geográficos muito pequenos sobre os quais se desenvolvem as actividades que constituem o produto turístico. Ex: Na Espanha, um dos mais importantes países turísticos mundiais, só 3% do seu território pode pretender a classificação de turístico, uma vez que 95% dos seus produtos turísticos aí se concentrem, isto é, em zonas bem delimitadas do território espanhol. A competitividade afirma-se a nível local, isto é, entre locais. Não existe concorrência entre a França e a Espanha, existe sim, entre os produtos turísticos de Langedac-Rousillan e as da Costa Brava. A competitividade deve ter na sua génese o modelo de desenvolvimento sustentável. O turismo não pode ser competitivo a médio e longo prazo se o seu desenvolvimento não for sustentável. O conjunto de actuações da política turística empresarial e administrativa deve assegurar a manutenção da bio-diversidade, a autenticidade cultural e uma correcta repartição social da riqueza gerada de forma a contribuir para a competitividade dos produtos turísticos locais e para a maior qualidade da experiência turística e, consequentemente, para a maior satisfação e fidelização dos clientes. Com a banalização do consumo turístico (cada vez menos elitista) e consequente atenuação da sasonalidade e diversificação da procura de acordo com a as várias motivações e necessidades dos consumidores, a nova política turística deve considerar os seguintes princípios: – O domínio do consumidor. Os seus desejos e motivações terão enorme influência nas zonas e produtos turísticos, embora tal não deva pôr em causa o ambiente, a coesão social e as outras actividades económicas no destino. – A autenticidade dos produtos oferecidos. Estes não devem ir para além das possibilidades da zona. – Uma Administração Pública local eficiente e atenta. Os Organismos Locais conhecem melhor a Administração Central, a sua potencialidade e o trabalho a desenvolver, embora o Estado seja um co-produtor e um parceiro activo na criação dos produtos turísticos locais, uma vez que assegura e disponibiliza algumas necessidades básicas como a educação, vários tipos de infraestruturas (estradas, aeroportos, etc.) e outros factores sociais como a paz, a ordem pública e a segurança. – Políticas especificas que promovem o aumento da segmentação do sector turístico observando os princípios de sustentabilidade em todos os ambientes turísticos, desde o ecoturismo, turismo rural e turismo urbano, criando laços construtivos e de interligação entre os interesses económico, político, ambiental e social. – Encarar o turismo como uma actividade perfeitamente inserida no contexto das novas indústrias de serviços como a saúde, os serviços financeiros ou de telecomunicações.
– Criar as condições para a formação profissional ao nível requerido pelos exigentes mercados emissores. Tradicionalmente, não tem existido resposta pelas instituições da educação e formação, à necessidades de emprego. São necessários programas de formação inicial para jovens e programas de qualificação de trabalhadores em cooperação com o sector empresarial.