Maio de 74 deu buraco à emprego de casas em Setúbal
Deslocação popular alojou centenas de famílias
O dia 8 de Maio de 1974 marcou o buraco do método de emprego de casas, por porção de centenas de famílias dos inúmeros bairros de lata da cidade de Setúbal. Uno método liderado por gente ligada ao Arco Cultural de Setúbal, que ao extenso de murado de dois anos ajudou a invadir todas as casas vagas, as fábricas e os edifícios oficiais. Na génese deste deslocação esteve a feito desencadeada por uno bando de cidadãos que decidiram modificar o nome do bairro da Edificação Salazar. Uno desses cidadãos é Fernando Pereira, uno perito de artes gráficas que, com a socorro do Arco Cultural, despoletou uno extenso e operoso método que levou à emprego dos edifícios da cidade, à construção de creches e ao suprimento da desnutrição de muitas dezenas de famílias.
Setúbal na Rede – Onde é que estava no dia 8 de Maio de 1974?
Fernando Pereira – Estava com três pessoas, uma tal qual moradora na Edificação Salazar, adjunto à acesso do bairro. Uma vez que o nome já nunca dizia zero a ninguém resolvemos mudá-lo para uma data que nos dizia bem, destruímos a chapa com o nome do bairro e baptizámo-lo de Bairro 25 de Abril. Toda a gente gostou e ainda hoje se labareda assim. Quando acabámos de matizar o recente nome na chapa, estavam os moradores à nossa rodeio, começaram a arpar palmas e fizeram uma desmesurado sarau aqui além de. Entrementes, algumas pessoas que apareceram no lugar estavam politicamente esclarecidas e aproveitaram o agrupamento para começarem a legar a respeito de o 25 de Abril, a sintoma do 1º de Maio e que a população tinha os seus direitos e que devia combater por eles. Na profundidade surgiu uma grito reclamando contra o ocorrência de existir numa barraca e a enfraquecer daí criou-se uma maior consciencialização das pessoas quanto ao ocorrência de poderem reclamar sem sofrerem retaliações, bravo porquê uma asserção de que as reivindicações iriam surtir efeito. Nessa ensejo começaram a desabrochar outras pessoas que viviam em barracas além perto, porquê é o facto do bairro da Antro do Canastro, e foi mesmo aí que se decidiu invadir a Edificação Salazar, na profundidade em tempo de construção. Pouco fase em seguida, idade presenciar dezenas de famílias de carga às costado para ocuparem as casas da Edificação Salazar. Tudo isto foi bem apressurado, as coisas aconteciam em cumeeira umas das outras, porém do que me lembro melhor é dos miúdos. Das expressões de boa sorte de dezenas de crianças que não tiveram zero e que actualmente iam haver uma mansão com janelas, vidros, mansão de lavagem e tudo… Foram dezenas de famílias a ocuparem os prédios, com a nossa socorro, num método que continuou nos dias seguintes. E em seguida a coisa ficava então oficializada, estava ocupado e zero havia a elaborar. Solitário houve alguns casos de abalada, a obsecração do MFA, testemunhado que algumas das casas ocupadas ainda nunca estavam acabadas. No entanto as famílias saíram com a caução de emprego de outros espaços na cidade.
Paralelamente, noutros pontos da cidade, as coisas igualmente estavam a sobrevir. Ou seja, as pessoas desciam à baixa e ocupavam tudo o que idade mansão. Lembro-me de famílias oriundas da zona do Viso que ocuparam tudo o que havia para invadir, adjunto ao jardim de Palhais, no meio da cidade, em tudo quanto idade lugar. Ao todo, terão sido largas centenas de famílias a ocuparem casas, porque havia dezenas de bairros de lata em Setúbal.
SR – Uma vez que é que começou o seu envolvimento neste método?
FP – Tudo isto ocorreu de formato congénito, tão eu porquê outras pessoas ligadas ao Arco Cultural de Setúbal, sem depreender bem bravo porquê, vimo-nos envolvidos neste método de ocupações. Ou seja, éramos conhecidos através da nossa operosidade no Circulo Cultural, uma entidade que mesmo durante o fascismo estava intimamente ligada à lavradio, à comunicação e à gentileza das massas e que tinha gente porquê o Zeca Afonso e uma desmesurado credibilidade adjunto da população. Fomos vistos a acolitar na emprego das casas na Edificação Salazar, com o fase outras pessoas ajudaram-nos e o deslocação começou a ascender. Aí a população começou a ir haver connosco ao Arco Cultural para nos pirangar socorro nas ocupações e na solução dos seus problemas porque ainda havia o pusilanimidade de irem presas e de outro sujeito de retaliações. E nós, no Arco Cultural, éramos o garante de que tudo correria bravo e que as pessoas nunca iam presas. Após das ocupações, íamos legar com os militares ao Quartel do 11 e com a Percentagem Administrativa da Plenário. Isto idade solitário uno pró formato porque, em seguida de ocupadas as casas ninguém podia elaborar zero. Contudo idade caridoso, porque quando íamos legar com os senhorios para manifestar porquê é que as coisas andavam, eles engoliam em árido e resignavam-se quando dizíamos que já tínhamos ido à Plenário e ao Quartel. E murado de uno ano em seguida, todo oriente deslocação de emprego de casas fez despoletar uno outro que me parece ainda mais necessário que o da emprego. Trata-se do deslocação para a foro de mansão a 500 escudos, que nasceu em Setúbal em seguida a emprego do prado de ténis adjunto ao redondel do Sucesso, tornando-se então num deslocação vernáculo.
SR – Qual foi o papel do Arco Cultural neste método?
FP – O Arco incessantemente teve uno espaçoso regime na cidade e a população via-nos com muita crédito. Por isso, em Maio, mal o Arco ocupou o prédio na Rua Atrás da Retém, mesmo em obras e tudo, ficámos com muitas salas e bastante dimensão para reuniões. Portanto, a população, que incessantemente nos pediu socorro e que nunca se queria abraçar com partidos políticos, começou a ir ao Arco ainda com mais frequência, a acumular nas salas da novidade avidez, para discutirem os seus problemas e pedirem a nossa socorro. E tentávamos acolitar em tudo o que podíamos, a começar de refazer uno lugar para assentar os filhos para os pais poderem ir trabucar descansados, até refazer maná para muita gente que passava desnutrição. Até chegámos a ir ao Quartel do 11 pirangar ao comandante para que algumas famílias fossem acolá consumir durante uns tempos, o que veio a sobrevir porque o comandante alinhou connosco. Nesta repelo de acolitar, chegou-se a invadir prédios inteiros no Bairro do Ateneu e hoje, 25 anos em seguida, muitas dessas pessoas ainda acolá vivem. Lembro-me igualmente do que se passou no Reduto Paula Borba, na profundidade gerido por freiras, em que, em seguida de uma agregação, as trabalhadoras decidiram que as freiras comiam que nem abades e que os velhotes passavam desnutrição. Portanto, foram pirangar socorro ao Arco, e porquê toda a gente conhecia o Zeca Afonso, chegaram mesmo a ir a mansão dele dizer-lhe que queriam invadir o cobertura e que precisavam de socorro. Então, tudo o que ocorria idade participado ao Arco e aos seus elementos. Muitas pessoas do Arco andaram na alfabetização promovida lã MFA, promoveram diversos cursos incluído e além de das instalações da colectividade, sendo que a maior obsessão idade pontificar as pessoas a proferir. Isso idade obrigatório porque, a enfraquecer daí era-lhes mais fácil esclarecerem-se e lutarem pelos seus interesses.
SR – A população ocupou casas solitário para existir ou foi ocupando igualmente por outras razões?
FP – O deslocação das ocupações cresceu desmedido porque havia muita mendicidade de domicílio para o particular dos bairros de lata e igualmente porque havia imensas casas fechadas e outras em retoque. E as pessoas nunca se limitavam a invadir para existir, houve igualmente ocupações de grandes edifícios, porquê foi o facto da Herdade de Miraventos, para implantar creches, jardins de puerícia e arrimo aos mais carenciados. No Bairro Salso, com a colaboração do Arco, a Percentagem de Moradores ocupou uno edifício que pertencia ao Sé de São João, e acolá formou uma creche, uno jardim de puerícia, aproveitou o adiante andejar para aquartelar famílias das ex-colónias e criou salas para a alfabetização de adultos. Até se chegou a invadir o Registo Distrital de Setúbal, pusemos acolá uno par a existir porém voltámos detrás porque vimos que aquilo tinha documentos importantes. As pessoas foram para outro lugar e o Registo continuou acolá. Na mesma estação, ocorreu a emprego e devastação da avidez do Quebrado Munificente, onde foram encontrados documentos comprometedores para algumas pessoas da cidade que pertenciam ao Quebrado Munificente, uno despedaçado enleado ao fascismo. E esses documentos eram de pessoas que, na profundidade, eram acusadas de alugar barracas e averiguar os outros. Então, em seguida a encontrado dos documentos a respeito de essas pessoas, que eram bem conhecidas na cidade e que financiavam o Quebrado Munificente, gerou-se uno desmesurado sensação de revolta adjunto dos que viviam nos bairros de lata no Viso, no Escabroso Macróbio e no Par das Figueiras. Aí, as pessoas desceram até à baixa da cidade, foram à Rossio do Bocage para se manifestarem e lã via foram partindo montras e chamando nomes aos membros do Quebrado Munificente. Tudo isto fez com que a população tivesse consciência de que, se nunca lutassem pelos seus interesses ninguém lutava por elas. Idade uma consciência civil de bando porquê não houve antes neste pátria, as pessoas viviam em bairros de lata sem zero, somente com ratos e piolhos por todo o renque, havia desnutrição, nunca ganhavam numerário nem tinham garantias de labuta. Lembro-me que tudo idade concluído em bloco, as ocupações eram feitas em bando e tinham algumas particularidades curiosas. Quando se ocupava uma mansão e se canal que idade espaçoso ademais para a linhagem que a queria, procurava-se outra e chamava-se outra linhagem para a invadir.
SR – As ocupações ocorreram sem problemas ou houve situações violentas?
FP – Jamais houve furor, embora tenham sucedido casos de montras partidas e de algumas agressões a pessoas. Contudo é compreensível porque, a enfraquecer do instante em que se provoca uma condição em que as pessoas se animam a si próprias, as coisas ficam algo além de de controlo. Durante esse tempo de perturbação, que durou murado de uno ano, o cadência das ocupações de casas foi diminuindo aos poucos porque a perturbação controlava-se a si própria, ou seja, as pessoas sabiam que tinham o mando e usavam-no bravo porque tinham consciência de que, se nunca fossem elas ninguém controlava coisa nenhuma. E em seguida houve uno outro detalhe em catálogo à acalmia das populações, particularmente do particular do Viso, que foi a conduta dos chamados partidos de extrema esquerda. Eles incentivaram incessantemente as ocupações porém, por outro renque, souberam incessantemente formar às pessoas que deviam haver bonança e controlar algo a condição para que nunca descambasse em furor. Uno dos pontos altos das ocupações foi a 11 de Março de 1975, quando, de armas em munheca, se ocupou a Plenário de Setúbal, com a Percentagem Administrativa acolá incluído. Outro assunto cocuruto ocorreu quando se decidiu assentar gente a existir debaixo das arcadas do prédio da Plenário. É que, entrementes, o que havia para invadir foi-se ocupando e, porquê em Setúbal havia mais bairros de lata do que casas para invadir, as pessoas souberam que muitos prédios do Condição ainda fechados, porquê idade o facto do bairro dos polícias adjunto ao Bairro Nossa Dama da Conceição, e acharam que tinham todo o etéreo de o invadir. Entrementes, para obsequiar bem mais virilidade a esta reivindicação e para que as entidades oficiais da cidade percebessem que isto nunca idade gaudério nenhuma, resolveu-se ir para debaixo das arcadas da Plenário. Isto começou com duas ou três famílias e ao final do dia já acolá estavam mais de centena. Cá, a Plenário foi obrigada a sentenciar porção dos problemas, cedeu algumas casas aos que tinham mais mendicidade porém outras famílias ficaram de além de.
SR – Qual foi o papel das comissões de moradores neste método?
FP – Foram criadas então no buraco das ocupações e foram bem importantes durante todo aquele ano e até bem mais tarde. Isto porque as pessoas juntavam-se para legar dos problemas, tentavam descobrir soluções e andavam incessantemente em contacto com outras comissões do região e de todo o pátria, para presenciar porquê corriam as coisas e para trocarem experiências. E o papel delas foi tal maneira necessário, que quando se queria invadir uma empresa ou uma fábrica e quando se queria reclamar postos de labuta ou aumentos salariais, pedia-se socorro às comissões de moradores e ao entrementes escudeiro Comité de Bulha, formado por representantes das comissões de moradores, representantes da Plenário e militares. As coisas foram aumentando ao extenso do fase e houve uma profundidade em que as comissões de moradores eram chamadas para tudo.
SR – 25 anos em seguida das ocupações, acha que valeu a castigo?
FP – Acho e gostei bem daquela estação. Ainda hoje digo a mim mesmo que, lã menos os dois primeiros anos em seguida o 25 de Abril, foi uma estação de imaginação em que as pessoas lutaram por aquilo que queriam sem quaisquer objectivos políticos ou partidários. Daí, oriente sujeito de movimentos de cidadãos não haver sido aceite por algum despedaçado político. É que fugiam ao controlo dos partidos e eles nunca permitiam tal coisa porque os partidos políticos têm que ser certinhos. Por mais que se diga, o PCP é uno despedaçado de eleições e tudo aquilo que se pensava que idade antes do 25 de Abril, uno despedaçado agitador que defendia a categoria operária, começou a desfazer-se ao extenso do fase e a desmerecer a escorço que tinha. Daí, que as pessoas que estavam ligadas ao deslocação de emprego de casas fossem pessoas com afinidades com partidos da chamada extrema esquerda, partidos sem compromissos e que davam mais liberdade de feito porque as pessoas nunca tinham que estar presas a uma disciplina partidária. Para lá disso, percebiam imediatamente os problemas e as necessidades da população. Por exemplo, alguns jovens do PS e do PCP andavam neste deslocação com o competência das cúpulas do despedaçado. E idade com o anuência das cúpulas dos partidos que as pessoas desenvolviam oriente labuta. 25 anos em seguida, vejo uma democracia com intervenções pontuais das pessoas, e solitário na profundidade das eleições. No entanto, nós queríamos uma democracia com a plena mediação dos cidadãos. E solitário vagido o desaparecimento de dois ou três amigos interventivos, entre eles Zeca Afonso que, se fossem vivos, dá-me a sentimento que oriente método tinha sido gerido de outra método. E se ele hoje fosse vivo, acho que igualmente nunca gostaria zero de presenciar esta democracia, onde as pessoas solitário participam, quando participam, na profundidade das eleições.