Setúbal na Rede – Onde é que estava no dia 4 de Julho de 1974?
Henrique Militar – Estava na Socel, a recente Portucel, e nesse dia os trabalhadores reuniram em parlamento para sancionar o limpeza de 16 dirigentes da empresa, quase toda a tramontana exceptuando os directores, e singular largo bando de quadros superiores. Havia uma arrolamento de limpeza já feita e, nesse dia foi conquista a despacho de abduzir essas pessoas da empresa para os trabalhadores tomarem operação da fábrica de Setúbal.
SR – O arrumação de limpeza foi sereno?
HG – Jamais houve problemas de maior. Logo que a arrolamento foi aprovada, distribuímos cópias pela empresa e a maneira estação de que no dia seguinte nenhum dos saneados podia retornar a acostar os pés na fábrica. Montámos piquetes para controlar a condição e, no dia seguinte nenhum dos elementos saneados regressou à fábrica, embora eu tenha a teoria de que alguns tentaram atravessar pelos trabalhadores de piquete. Entre os quadros que jamais foram saneados, singular encarregado e singular engenheiro decidiram jamais retornar à fábrica e ir para Lisboa, onde se situavam os escritórios da gestão da Socel.
SR – O que é que levou os trabalhadores a sanearem os dirigentes da fábrica?
HG – Jamais existiam condições de bibiografia, havia singular analfabetismo assustador, as pessoas estavam descontentes com o indivíduo de bibiografia que tinham e havia muita repressão na empresa. Hoje, analisando esse tempo, dá algo a teoria de que os saneamentos na Socel padeceram igualmente de alguma escassez de lavoura política que nos levasse a apartar o que estação, de ocorrência, singular elemento repressor, de algumas pessoas que, jamais tendo tão essas características, poderiam ser exclusivamente antipáticas. Com isto jamais estou a ‘descafeinar’ os fascistas que, na Socel, atingiram uma intensidade agigantado. Mesmo assim jamais foram afastados todos porque ainda além ficaram alguns que, se calhar, até tiveram ascendentes responsabilidades na repressão que ocorria na fábrica de Setúbal. Admito essa casualidade porque eu tinha na profundidade 18 anos e estava na Socel exclusivamente a partir de Fevereiro. E o competência que tinha das pessoas jamais estação bem largo todavia, de algum formato, a postura que tinha que haver na profundidade estação a de que, se a maioria dos trabalhadores dizia que tal elemento estação reprimidor, eu solitário tinha estação que acomodar.
SR – A zarpar daí, porquê é que se processou a administração da fábrica?
HG – Ficámos sem directores em várias secções e havia que restaurar o labuta do dia seguinte. A nossa obsessão estação que a manufactura jamais fosse afectada, até porque isso provaria que as pessoas saneadas jamais faziam escassez nenhuma na empresa. E, graças ao interesse de todos os trabalhadores isso foi plenamente alcançado. Os números da manufactura provam que em Julho foram produzidas nove milénio e noventa e sete toneladas de pasta de papel. Ao extenso do fase continuámos a efectuar subir a manufactura que subiu para valores que a fábrica não tinha atingido.
Para isso bem contribuiu a eleição da Percentagem de Trabalhadores, porquê, até ao fenda de Maio as nossas actividades eram desenvolvidas por uma pró percentagem formada por duas ou três pessoas, entre as quais estava eu, que antes do 25 de Abril se dedicavam à operosidade clandestina de formação e distribuição de folhetos contra o estatuto. Essa Percentagem de Trabalhadores reunia diariamente com a gestão que, entrementes, se formou com os quadros que ficaram, e isso dava azo a que se definissem estratégias e metas a abarbar pela empresa.
SR – Os quadros de ficaram na fábrica, continuaram por aceitar com os trabalhadores ou porque jamais tinham outra alternativa?
HG – Acho que, nalguns casos, foi singular misto de cobardia e de significação de ensejo porque, eventualmente, por singular flanco receavam as consequências de se solidarizarem com os quadros saneados, e por outro havia notório singular significação de ensejo para saber ‘tachos’ subindo na jerarquia da empresa. Alguns chegaram mesmo a consegui-lo.
SR – Os trabalhadores da Socel eram conhecidos pela sua relutância ao estatuto fascista. A operosidade clandestina estação ordinário na empresa?
HG – Continuamente houve uma resistente operosidade clandestina na fábrica e essa operosidade parece haver ficado mais resistente em seguida da repressão ríspido exercida a respeito de as pessoas que efectuaram a greve de 1969. E o Gestão estava a parelha de tudo o que ocorria na Socel porque a empresa estava enxurro de pides, havia uma autêntica rede de informadores incluído da fábrica de Setúbal, que canalizava as informações a respeito de os trabalhadores para singular gestor que estação da PIDE, singular ex-capitão do Tropa, singular varão medonho que distribuía bofetadas e murros pelas funcionárias.
SR – Porquê é que os trabalhadores da Socel viveram o dia 25 de Abril?
HG – Muitos de nós solitário se aperceberam das coisas mais tarde, ao extenso do dia. Eu fui operar e passei o fase todo a dormir no autocarro até comparecer à fábrica. Quando além cheguei, reparei que havia algum coisa porque estava toda a gente auscultar rádio. Ora porquê jamais estação dia de futebol, calculei que fosse uma coisa mesmo necessário. Vim a perceber que estação singular galanteio de Circunstância, saí da fábrica e vim a calcante até Setúbal onde encontrei muitos dos companheiros com quem desenvolvia actividades clandestinas. A nossa primeira reacção foi ir para Lisboa, recordo-me quer passámos pela morada de José Afonso, todavia ele jamais estava porque, antes de Abril, recebeu indicações que seria agarrado no À frente de Maio. Ficámos por Setúbal e ninguém conseguiu dormir naquela noite, a tentar depreender se o galanteio estação de dextra ou de esquerda. Nessa noite fizemos a primeira sintoma do tempo agitador e, para isso, escolhemos singular cafezeiro tal qual possessor estação indigitado porquê agenciador da PIDE. Em seguida juntámo-nos no Arco Cultural de Setúbal, a fundação que, em Setúbal, unia todos os que resistiam à despotismo. Na noite seguinte andámos pela Socel e todas as empresas do concelho, a repartir comunicados a amaneirar o 1º de Maio.
SR – O arrumação de auto-gestão da Socel foi sereno ou registou-se divisões entre os trabalhadores?
HG – Inicialmente tudo correu apoiado, todavia em seguida os partidos políticos começaram a organizar-se e o que aconteceu foi que começaram a subsistir divisões, a esse nível, entre os trabalhadores. Logo, o slogan “o povaléu uno não será derrotado”, o largo ‘capelo’ que albergava toda a gente, começou a desistir de efectuar significação. A zarpar daí, agudizaram-se as divisões entre trabalhadores comunistas, socialistas, do PPD e da extrema esquerda. Obviamente que a gestão camareira no final do mesmo ano, soube bem apoiado reger essas divisões.
SR – A conquista da Socel durou até quando?
HG – Foi até ao sequestro da gestão, na fábrica de Setúbal. Tenho teoria que isto ocorreu no final do ano em seguida de terem falhado todas as tentativas de levar a gestão da empresa, que estava sediada em Lisboa, a concordar a arrolamento dos saneados. As coisas jamais andavam nem por parcela do Gestão, que os trabalhadores e a empresa chamaram a intervir para exceder o impasse. Porém a percentagem de sindicância jamais resolvia zero e a empresa estava já numa condição insustentável. Ou seja, a Percentagem de Trabalhadores estava esgotada porque as pessoas quase dormiam além, os trabalhadores estavam esgotados de tão labuta e esta estação uma condição a que se tinha de acostar singular intuito, todavia pela positiva.
Então, a gestão veio de Lisboa a Setúbal para aglomerar connosco, e nós dissemos que a agregação solitário terminaria com a consolidação dos saneamentos. Ocupámos a médio telefónica, controlámos todas as comunicações, foi arranjado singular piquete para os meios de informação e centenas de trabalhadores mantiveram-se à porta da aposento de reuniões onde nos encontrávamos reunidos com a gestão. O produto foi que a agregação durou mais de dois dias. Entrementes alguém tinha apelidado a polícia e os militares que, na primeira noite, apareceram para ultimar com o que chamavam sequestro.
SR – Os militares chegaram a aplicar a pujança?
HG – Foi-lhes rifão, por diversas vezes que a gestão jamais estava sequestrada todavia, mesmo assim, verificaram-se muitas pressões por parcela dos militares que diziam que tinham de intervir. Ao mesmo fase tínhamos garantias de outros militares que nos diziam para ficarmos tranquilos porque jamais ia possuir mediação nenhuma. Ou seja, o autoridade beligerante estava bem despedaçado e, obviamente, as forças mais direitistas jamais queriam comportar a prosseguimento daquele condição de coisas. Por seu flanco, os militares mais progressistas perceberam as razões dos trabalhadores e apressadamente fizeram-nos comparecer a comunicação de que podíamos permanecer tranquilos porque jamais ia possuir carros de pendência a dinamitar coisa nenhuma porque, se isso acontecesse, eles igualmente agiriam e igualmente tinham carros de pendência.
O impasse terminou duas noites em seguida, com a corroboração do limpeza por parcela do Gestão. A empresa aceitou a despacho e nomeou uma novidade tramontana, isso veio de abalroação ao que os trabalhadores exigiam porque não houve a tenção de invadir a empresa bem mais fase. Ou seja, a tarefa e auto-gestão teve porquê intuito levar a empresa a concordar a arrolamento de limpeza que os trabalhadores criaram. Aí, alguns dos quadros foram nomeados directores, o que os deve haver deixado bem satisfeitos. Anos mais tarde, dois directores recorreram judicialmente do limpeza e ganharam a rudimento, velo que foram reintegrados na empresa.
SR – O clima agitador foi arrefecendo com o fase?
HG – Positivo, mormente na sequência do galanteio de 25 de Novembro. Até logo as sucessivas comissões de trabalhadores reuniam semanalmente com a gestão para resolverem os problemas de jaez laboral e civil, todavia a zarpar daquela data as comissões passaram a ser encaradas porquê singular empeço à bibiografia das próprias empresas. Ao mesmo fase, as comissões jamais eram bem apoiado vistas anexo dos sindicatos que, bem cedo, começaram a descobrir que havia lá uma separação de autoridade. E essa teoria de arredor que tem uma percentagem de trabalhadores, jamais agradou aos sindicatos que foram confrontados com alguma agravo de autoridade. Jamais digo que havia conflitos entre ambas as partes todavia o que se registava estação uma conflitualidade velado. Com o fase, as coisas foram mudando devido à compartimento política dos trabalhadores. E tal porquê outras empresas, esta igualmente usou a compartimento política porque todos sabiam que isso jamais favorecia os operários.
SR – Parece-lhe, logo, que a política abastardou a desavença dos trabalhadores?
HG – Completamente, porque as células partidárias decidiam o que efectuar, consoante a mendicância de propagação de sentenciado dividido, sem se importarem bem com os interesses dos próprios trabalhadores. Cá, alguns partidos influenciaram os trabalhadores, porquê foi o facto do PCP, que tinha muita tentativa, muitos filiados e uma agigantado máquina de propaganda. Porém realidade seja dita que, sendo o PCP o dividido que mais filiados tinha na Socel, houve momentos que nem ele conseguiu controlar as decisões que os trabalhadores tomavam. De remanescente, havia gente de todos os partidos, muitos delas pessoas bastante capazes. E existiam igualmente aqueles militantes a quem bastava auscultar na cobiça do seu dividido que as coisas deviam ser azuis, que mesmo que pensassem que deviam ser amarelas faziam porquê o dividido mandava.
SR – Vistos estes acontecimentos à intervalo de 25 anos, parece-lhe que correu tudo apoiado ou verificaram-se alguns exageros?
HG – Esses foram dos momentos mais importantes da minha bibiografia, foi quando aprendi a conviver com as pessoas e a saber as suas dificuldades. E para singular região que viveu quase 50 anos de despotismo, jamais vejo nestes, nem noutros acontecimentos verificados em Portugal no mesmo tempo, a evento de quaisquer exageros. No entanto, se hoje tivesse que efectuar o mesmo, já o faria der formato transformado porque há toda uma tentativa acumulada, porque conheço o final daquela narrativa e, quando isso acontece é mais fácil saber extinguir alguns aspectos menos felizes. Uno dos exemplos é a arrolamento de limpeza porque, jamais tendo dúvidas nenhumas de que estação perfeito abduzir pessoas daquela empresa, continuo a haver sérias dúvidas a respeito de se a arrolamento de limpeza foi apoiado feita, se jamais haveria pessoas com ascendentes responsabilidades na repressão da greve de 1969, que jamais foram incluídas na arrolamento. E porventura, quem sabe, teriam até mais responsabilidades nos actos de repressão do que algumas das quer foram, efectivamente, saneadas.
SR – 25 anos em seguida, porquê é que vê a empresa?
HG – Já além jamais estou há muitos anos todavia tenho-a escoltado ao extenso do fase. Actualmente chama-se Portucel e já zero tem a assistir com a Socel, hoje tem bem menos funcionários, o arrumação de manufactura é outro e as exigências igualmente. É uma empresa transformado, com pessoas novas e parece-me que a bibiografia na Portucel jamais será bem transformado da bibiografia da comum das empresas portuguesas. Os direitos dos trabalhadores são respeitados e é já impensável supor cenas porquê as que ocorriam antes do 25 de Abril, na Socel, com os administradores às bofetadas com as telefonistas e administradores a forjarem provas para despedirem trabalhadores das quais jamais gostam. Por isso, valeu a castigo tudo o que fizemos porque as coisas mudaram radicalmente. Estarmos a discursar do que se verificou antes do 25 de Abril é falarmos da barbárie e, por isso, torna-se bem árduo concordar certas tentativas branqueamentos da Raconto e o emergência de alguns saudosismos do ancião estatuto.