[ Edição Nº 82] – José Luís Catarino, presidente da Fertagus.

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Edição Nº 8226/07/1999

Comboio pronto para a travessia da ponte
Segurança é a prioridade da Fertagus

          Prevista para dia 29 de Julho, a inauguração do comboio na ponte 25 de Abril é aguardada com alguma expectativa. Depois de meses de espera, será possível ir do Fogueteiro a Entrecampos, em apenas 27 minutos. A aposta passa pela qualidade, conforto e segurança nos comboios e também nas estações. Para isso, a Fertagus formou 72 operadores, que proporcionarão o acompanhamento dos utentes durante todo o percurso e nas próprias estações da margem sul. Em entrevista ao “Setúbal na Rede”, José Luís Catarino, presidente do Conselho de Administração da Fertagus, mostra-se confiante no sucesso da primeira travessia ferroviária do Tejo.

Setúbal na Rede – Com a entrada em funcionamento do comboio na ponte, o que é que vai mudar na vida das populações da margem sul?

José Luís Catarino

– As pessoas que moram na margem sul vão poder chegar a Lisboa em muito menos tempo, com conforto e segurança. Vai ser, com certeza, uma vantagem para todos os utentes. Segurança, conforto e também um bom preço são os trunfos da Fertagus. Assim, com um transporte económico reúnem-se, de facto, as condições ideais para que este serviço seja um êxito e que as pessoas adiram.

SR

– Justificam-se os receios dos utentes quanto à segurança na travessia?

JLC –

Admito que as pessoas possam estar um pouco relutantes nesse aspecto. Mas no dia em que fizerem a primeira travessia perdem completamente esse receio, pois as condições de segurança que se instalaram e que estão criadas, não justificam qualquer receio desse tipo. Há uma grande facilidade em descer do comboio, bem como uma grande acessibilidade ao tabuleiro rodoviário da ponte, já que se houver necessidade de evacuação, os passageiros poderão dirigir-se a qualquer uma das doze escadas existentes de 500 em 500 metros, e que dão acesso ao tabuleiro superior.

Temos também condições para fazer o transbordo de um comboio para outro, colocado no outro lado da linha, com plataformas que unem os dois comboios. Se, por outro lado, houver necessidade de rebocar o comboio, o processo poderá ser feito rapidamente.

SR

– Tendo em conta que alguns utentes consideram os preços elevados, as expectativas de utilização do comboio poderão ser defraudadas?

JLC –

As bases tarifárias que temos são muito semelhantes aos outros transportes públicos. No conjunto dos títulos, sobretudo nos passes, temos situações muito competitivas em relação ao barco e ao próprio autocarro. Por isso, estou convencido que os preços não irão defraudar as expectativas.

SR

– Qual é a previsão do número de utilizadores diários do comboio?

JLC –

Vamos arrancar no final do mês e, com certeza que as estimativas serão difíceis de fazer. No entanto, temos algumas bases de referência e cento e trinta mil passageiros é um número que esperamos atingir, já depois do ano 2000. De imediato vamos arrancar com 40 mil passageiros diários, até chegarmos aos 80 mil com relativa facilidade. De facto, esta questão é uma grande incógnita pois estamos a falar de um serviço completamente novo.

SR

– O comboio irá fazer reduzir o trânsito rodoviário na ponte 25 de Abril?

JLC –

A expectativa, no que diz respeito à redução do tráfego de veículos ligeiros na ponte, é cerca de 20 mil por dia, o que significa uma redução do volume de tráfego em cerca de 10%. Por isso, o comboio reduzirá significativamente o trânsito na ponte.

SR

– Quantos comboios irão entrar agora em funcionamento?

JLC –

Dispomos de dezoito unidades, mas vamos arrancar em Agosto com nove ou dez, o que nos irá permitir assegurar todos os horários base. Rapidamente vamos pôr em serviço doze comboios para, nos meses de Setembro e Outubro, onde as zonas de ponta são mais significativas, fazer o horário completo com todas as unidades.

SR

– Qual é a eficácia da intermodalidade com outros transportes, sobretudo em relação a zonas mais afastadas?

JLC –

Criámos condições, através da Sulfertagus que é uma rede própria de autocarros, complementar ao caminho de ferro, que irá assegurar ligações a partir de todas as estações. Essa é uma grande responsabilidade porque garantimos às pessoas uma boa mobilidade em transportes públicos e sobretudo com horários que estejam articulados com o comboio, para evitar que percam tempo. Quem quiser pode ainda optar por levar o transporte próprio até à estação e deixá-lo no parque de estacionamento.

SR

– Estas ligações serão suficientes para a quantidade de utentes que se espera?

JLC –

Estou convencido que sim. Investimos em trinta novos autocarros, que a Sulfertagus irá ter ao seu serviço e com belíssimas condições. De acordo com as expectativas que temos, penso que será o suficiente para satisfazer essas necessidades. Para além disso, os parques de estacionamento têm uma capacidade total de 7000 lugares.

SR

– Quando é que será construída a linha para sul, nomeadamente até Setúbal?

JLC –

A ligação até Setúbal estará concluída em 2003. Será também a Fertagus a assegurar essa ligação, porque a concessão prevê a ligação desde Setúbal à Gare do Oriente. Esta também estará pronta em 2003.

SR

– Segundo as datas inicialmente apontadas, o comboio devia ter entrado em funcionamento a 25 de Abril deste ano. Que prejuízos causou este atraso?

JLC –

O atraso do arranque da exploração deveu-se à falta de entrega de comboios nas datas previstas. Apesar de tudo, esses atrasos permitiram que neste mês de Julho seja possível iniciar a exploração. Os prejuízos para a Fertagus não são significativos em termos de custos, porque os custos de exploração só começam a concretizar-se na altura em que arrancarmos com a exploração. Em termos de receitas, com certeza que houve alguns prejuízos. Mas estamos prontos para começar agora e o que nos interessa neste momento, é que o serviço nos corra bem e que as perspectativas estejam de acordo com as estimativas.

SR

– Enquanto operador privado, a Fertagus confia no sucesso desta concessão?

JLC –

Há uma gestão pública da infra-estrutura, que é feita pela REFER, e continua a haver um grande operador nacional que é a CP. Este primeiro operador privado limita-se ao eixo norte-sul, mas é uma grande responsabilidade. As expectativas para os investidores que apostaram neste projecto são boas e esperamos que este serviço seja um êxito. Por essa razão investimos nele com toda esta qualidade.

Entrevista de Lara Martins
[email protected]