Edição Nº 84 • 09/08/1999 |
Carlos Cardoso aposta na continuidade Constituída basicamente pelo plantel do ano passado, mais uns acrescentos recrutados às camadas jovens da região, a equipa do Vitória está pronta para os embates do Nacional de Futebol da Primeira Divisão, para a Taça UEFA e para a Taça de Portugal. A aposta do treinador setubalense Carlos Cardoso foi para a continuidade do grosso da equipa do campeonato passado, porque esta já provou que pode assegurar a estabilidade. O triplo desafio desta época, cujo início foi antecipado de dia 22 para dia 20 de Agosto, leva Cardoso a admitir que o Vitória terá de trabalhar bem durante todo o ano, no entanto mostra-se confiante na qualidade dos jogadores. E para que o ano seja frutuoso, o treinador conta ainda com a estabilidade criada pela nova direcção do clube e com a renovação do apoio de toda a massa associativa. |
– Agrada-lhe a composição do plantel vitoriano para a época futebolística que se avizinha? Carlos Cardoso – Por aposta nossa, o plantel é praticamente o mesmo, embora ligeiramente retocado, e isso dá-nos garantias da continuidade de um bom serviço. Continuamos com nomes de peso, como é o caso de Chiquinho Conde, Marco Tábuas, Mário Loja, Frechaut e Hélio. Este ano regressou o Carlos Manuel do Futebol Clube do Porto, por empréstimo durante uma época, e entraram mais três ou quatro jovens da segunda divisão que, pelo seu valor, vão ser grandes mais valias para o Vitória. SR – Tendo em conta os desafios que o Vitória vai enfrentar, esta equipa deixa-o descansado? CC – Confio num campeonato tranquilo, de acordo com as ambições do Vitória que pretende alcançar um lugar estável o mais rapidamente possível, ou seja, o meio da tabela já é gratificante. Depois, é apostar na manutenção e numa postura de primeira divisão que o Vitória perdeu há alguns anos. Sabemos que algumas equipas reforçaram-se muito, para ver se este ano pegam nas provas da UEFA. No entanto, com um investimento e uma aposta correcta, bem como com o apoio da massa associativa, no ano passado o Vitória conseguiu um lugar que ninguém esperava, e por isso, vamos continuar a aposta no grosso da equipa. SR – No primeiro jogo do campeonato, o Vitória recebe o Guimarães, e no segundo defronta o Sporting, em Alvalade. Receia estes jogos? CC – São dois jogos difíceis tal como são os seguintes, visto que depois defrontamos o Marítimo e o Benfica. Todos eles são jogos difíceis, mas estamos preparados para fazer tudo o que pudermos para entrar em força no campeonato e pontuar o mais possível. O que importa é ganhar embalagem para a época e ir pontuando sempre, para que a equipa assegure um lugar estável. SR – Este ano, o Vitória está em três frentes, com o campeonato nacional, a Taça UEFA e a Taça de Portugal. Está preparado para todos estes desafios? CC – Temos consciência das dificuldades que vamos encontrar este ano, até porque os grandes desafios que se apresentam vão obrigar as equipas mais cuidados com os respectivos planteis, que terão de ser mais numerosos para cobrir as baixas, por lesão, que possam surgir. Neste aspecto, o Vitória está precavido e vai atacar as três frentes. Na Taça UEFA, queremos ir o mais longe possível e, se tivermos sorte no sorteio da primeira eliminatória, poderemos enfrentar equipas ao nosso nível. Isso dava-nos alguma embalagem e confiança para, mais tarde, conseguirmos enfrentar as mais fortes, como é o caso das equipas alemãs e italianas. Na Taça de Portugal, o Vitória tem tradição. No ano passado esteve nas meias finais, ao todo esteve em oito finais e ganhou duas vezes a Taça. Aqui, também queremos ir o mais longe possível para continuarmos a prestigiar o clube. SR – Nos últimos tempos, tem havido uma aposta clara do Vitória nos jovens jogadores da região. Essa é a alternativa à contratação dos grandes nomes nacionais? CC – O distrito sempre deu grandes jogadores às maiores equipas e à Selecção Nacional, mas isso tem vindo a morrer. Há cerca de três anos, voltámos a investir nesta área e tivemos a sorte de ter uma equipa de juniores muito boa. Fez um magnífico campeonato e, na minha opinião, devia ter sido campeã nacional. Só não o foi por causa da burocracia e, desta forma, o Boavista ficou campeão pela secretaria, talvez sem o merecer. Esses jovens talentos foram aproveitados e, neste momento, não há qualquer dúvida de que temos cá jogadores que podem dar continuidade ao bom trabalho que tem vindo a ser feito. O Vitória aposta nisto e tem mesmo que viver assim, porque não dispomos de milhares de contos para fazer as aquisições de que se fala a nível nacional. Hoje em dia qualquer clube fala em milhões de contos como se estivesse a falar em milhões de tostões, e isso com o Vitória não pode ser. Sabemos que, para sobrevivermos sem problemas e andarmos de cabeça levantada, temos de aproveitar as nossas camadas jovens. SR – Este ano, vai contar com a motivação da massa associativa? CC – Sim, os sócios vão dar-nos muito. Recordo que, já no ano passado, o êxito da equipa deveu-se, em boa parte, ao apoio da massa associativa do Vitória. Sendo eu setubalense e vitoriano, confesso que já há alguns anos que não assistia a uma empatia tão grande entre a massa associativa e o Vitória. Isso é muito salutar e, acho que com um pouco de sorte e muito trabalho, nos próximos anos o Vitória poderá regressar à senda dos êxitos e voltar a embelezar a sua riquíssima sala de trofeus. SR – Pode dizer-se que o Vitória está, novamente, no coração dos setubalenses? CC – Acho que sim e isso foi conseguido graças ao esforço da equipa e do próprio clube. As massas associativas são atraídas pelo desenvolvimento da equipa e dos jogadores dentro do campo, e os sócios do Vitória são um tudo nada exigentes porque, tendo assistido a grandes jogos neste estádio, nos últimos anos não gostaram do que viram e ficaram um pouco arredios do seu clube. No ano passado, com as boas exibições e com a classificação obtida, notou-se o regresso do envolvimento entre a massa associativa e o clube. E a última jornada, em que garantimos a entrada na Taça UEFA, foi a grande prova disso. Eu, que vivi muitas outras manifestações como jogador, senti que esta era diferente pela sua espontaneidade. Ali não houve convites nem antecipação de datas, foi tudo espontâneo. E Setúbal saiu à rua para festejar o Vitória. SR – Até que ponto, a postura da actual direcção do clube contribuiu para os resultados da última época e para a reconciliação com a massa associativa? CC – Há muitos anos que clube vivia num clima de instabilidade, não se entendia com a massa associativa e esta não se entendia com a equipa nem com a direcção, estes não se entendiam com outros dirigentes e com dirigentes anteriores. E isso foi muito negativo para o Vitória. O clube deve ser dos vitorianos e dos setubalenses, deve ser uma forma de unir as pessoas e não um factor de separação. Por isso, tentamos que as direcções sejam formadas por pessoas que congreguem a simpatia de todos, para que se sinta que não há divisões internas. Com a entrada desta direcção, que está realmente a resolver os problemas financeiros e a promover a união do clube com a população, entrámos numa fase de estabilidade e isso reflectiu-se de imediato no clube. Por isso, acho que, para termos um Vitória melhor, era bom que antigos e actuais dirigentes, bem como antigos e actuais jogadores, e toda a população em geral, atirassem para trás das costas as coisas passadas. E é esse o apelo que aproveito para fazer, porque é na unidade que conseguimos ir em frente para sermos melhores. SR – Como é que vê a campanha para os 20 mil sócios? CC – Com muita satisfação, porque o Vitória merece-o. Temos cerca de 15 mil e se fizermos as contas aos 120 mil habitantes de Setúbal, reparamos que se tivéssemos pelo menos 25 mil sócios, este clube seria diferente e teria maior força. Por isso, fazemos um apelo a toda a gente para se associar no Vitória, apelamos aos actuais sócios para que inscrevam novos sócios no clube, para que o Vitória Futebol Clube seja grande como chegou a ser no passado, onde durante cerca de dez anos chegou a ser a quarta equipa nacional. |
Entrevista de Etelvina Baía [email protected] |