[ Edição Nº 88] – CRÓNICA DE OPINIÃO por Jorge Pires.

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O comboio do nosso descontentamento

           Passado que está um mês após a inauguração, com pompa e circunstância, da travessia ferroviária na Ponte 25 de Abril, é tempo de fazer um primeiro balanço. Esta ligação é uma reivindicação antiga das populações da Península de Setúbal, das suas Autarquias, dos sindicatos e sempre foi vista como uma alternativa a outros meios de transporte, nomeadamente o individual. Num quadro de grandes dificuldades de deslocação para milhares de pessoas, que desta região todos os dias se deslocam para Lisboa, para exercerem a sua actividade profissional, com a Ponte 25 de Abril saturada de trânsito, a expectativa relativamente ao êxito do investimento era muito elevada.

Com o anúncio dos preços a praticar pela empresa, ficou desde logo claro que o comboio dificilmente funcionará como uma alternativa credível e que a lógica duma política integrada de transportes colectivos para toda esta região, deu lugar à lógica do lucro por parte do grupo económico, que nesta região domina as empresas que têm o alvará para o transporte colectivo de passageiros. Desta forma e com a aceitação por parte do Governo, a FERTAGUS definiu e está a concretizar um estratégia, em que o comboio deixa de ser uma verdadeira alternativa aos outros meios de transporte já existentes, para os subjugar aos seus interesses económicos e financeiros.

A resolução dos problemas relacionados com o transporte de passageiros, na Área Metropolitana de Lisboa, passa por uma política integrada, que não pode nem deve ser definida em função dos interesses económicos e financeiros das empresas, a quem se passam os alvarás, com a agravante de neste caso e fruto da política de privatizações, a multinacional VIVANDI controlar a maioria das empresas deste sector nesta região. Não é esta a política de transportes de passageiros do Governo para a A.M.L. e por isso os resultados estão à vista. Os preços do comboio comparados com outras linhas e para distâncias iguais, são em alguns casos o dobro daquilo que se pratica na linha de Cascais ou da Azambuja. Por exemplo, do Fogueteiro a Lisboa paga-se por uma viagem 440$00, enquanto da Azambuja a Lisboa paga-se 290$00. Tal como para a mesma distância paga-se de Cascais a Lisboa 200$00. Para uma viagem de ida e volta, as diferenças são para estes dois exemplos de 300$00 e 480$00. Nestes preços não se incluem os custos de estacionamento para quem leve o automóvel até à estação. Mas estas diferenças são ainda mais injustas, se compararmos os passes sociais com os equivalentes na FERTAGUS. As diferenças são entre mais 2650$00 e 2830$00 mês.

Como os preços não são nada convidativos para que a opção seja o comboio, então criam-se as condições para que o utente não tenha outra alternativa. Reduzem-se as circulações de carreiras dos TST, nomeadamente as que conduzem aos terminais fluviais e as que atravessam a ponte 25 de Abril rumo à Praça de Espanha, alteram-se percursos dentro dos concelhos do Seixal e de Almada , mudanças que têm como único objectivo obrigar os utentes a optarem pelo comboio. Até agora o resultado é a pouca afluência, mesmo tendo em conta que o mês de Agosto é um mês de férias.

O Governo ainda está a tempo de emendar o erro cometido. Basta que haja vontade política. Também nesta matéria, como em muitas outras, afinal o Governo do PS, ao contrário do que apregoou durante toda a legislatura, não considerou prioritários os interesses das pessoas, mas antes os interesses dum grupo económico.

Agora só falta aumentar os preços das portagens na Ponte 25 de Abril, Como estamos em véspera de eleições ninguém espera que isso venha a acontecer antes de 10 de Outubro, mas como é habitual depois dos votos contados e das promessas fechadas numa gaveta, então a conversa é outra e as justificações para as aumentar não faltarão. Bem pode o cabeça de lista do PS, vir dizer que não. Mas será que temos muitas razões para acreditar nas promessas que faz? Que o digam os trabalhadores da Administração Pública ou os agentes das Forças de Segurança, se têm razões para acreditar em alguém que andou 4 anos a enganá-los.