[ Edição Nº 88] – AVISO Á NAVEGAÇÃO por Rogério Severino.

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A ausência de ideologia prejudica os interesses dos explorados – um novo figurino de esquerda no espectro político

          O processo eleitoral que se vai desenrolar em 10 de Outubro é diferente de todos aqueles que se têm desenvolvido desde o primeiro acto eleitoral, em 25 de Abril de 1975. E é diferente não somente porque vai implementar o primeiro Governo do novo milénio mas sobretudo porque apresenta pela primeira vez uma esquerda renovada, mas principalmente porque pela primeira vez se vai fazer a experiência de união da esquerda. Se a experiência resultar, o futuro do País pode vir a ser diferente pois já é tempo de uma vez para sempre classificar os ideais à esquerda do PCP, como a “esquerda romântica”. Epíteto que deve ser rejeitado.

A união entre Partidos com princípios diferentes como a UDP, o PSR ou a Política XXI foi possível por considerarem que é mais importante o que os une do que o que os divide e tal união pode levar a que um mapa eleitoral novo possa surgir. De salientar que desde a saída do major Mário Tomé da Assembleia da República (porque não voltou a ser reeleito) a chamada esquerda revolucionária deixou de ter uma voz no Parlamento, voz que deve ter por direito próprio. De salientar que a última voz que se julgava de facto revolucionária, um tal Barreiros, está hoje nas fileiras do Partido do Governo, beneficiando das mordomias a isso inerentes. Só que a diferença está em que se esta nova esquerda tiver uma voz em S. Bento, fará desse instrumento uma missão e não se deixará enredar pelos cantos e sonhos do Poder.

Mas há que ter em conta que em termos de esquerda, além deste Bloco formado por três Partidos, só há o Partido Comunista Português, que vai concorrer sob a sigla da CDU. E, no resto, temos um PP, de direita saudosista, um PSD, de tecnocratas que já governaram dez anos e, o ‘mais grave’, um PS, de centro-esquerda, que governa o País sempre à espera do dia de amanhã. E referimos ‘mais grave’ porque, ao invés da diversidade democrática que ele mesmo defende, o País pode correr o risco de ficar dominado por um conjunto de Instituições governadas pelos reivindicados ‘socialistas’, que detém a Presidência da República, o Governo, e controlam, por nomeação política, um esmagador número de Instituições públicas e privadas, precisamente porque o Poder atrai, razão pela qual se verificam em diversos sectores as habituais ‘traiçõezinhas’, passando de uma áreas para se juntarem à área do Poder, ou seja, para ficarem ao abrigo da Grande Rosa. E porque aos responsáveis pelo Partido que suporta o Governo lhes falta um suporte ideológico, uma linha de orientação, cuja ausência faz de Portugal um País governado em cima do joelho, o perigo das intenções seráficas dos governantes, das promessas de aumentar a criação de ‘boys’ e ‘girls’, uma maioria absoluta do Partido do Governo poderia ser desastroso, porque incontrolável, para o País.

Porque as diferenças entre PP, PSD e PS são simplesmente de percurso, de metodologia e não ideológicas, pode, à opinião pública, parecer que essas diferenças são profundas. Longe disso. O tipo de sociedade que defendem é o mesmo, ou seja, onde exploradores e explorados possam continuar em convivência, mantendo as assimetrias, e a prova é que durante a vigência deste Governo as oligarquias, as famílias que continuam a dominar o País detendo mais de cinquenta por cento da riqueza nacional, estão cada vez melhor e recomendam-se, ao passo que a classe média sofre de endividamento, a diminuição do desemprego é de percentagem mínima, a Saúde e a falta de condições para a melhorar é caótica, o sistema de habitação é frágil e a habitação, se bem que muitos recorram a casa própria, ficam depois sem liquidez. Por outro lado, para dar um pouco de perfume ideológico, o PCP continua a ser o grande fornecedor de talentos para o Partido do Governo, que se deixaram seduzir pelas cadeiras do Poder. E hoje uns estão no Governo, outros nas Câmaras Municipais, outros no Parlamento. Maus comunistas que justificam a frase de Camões: “Traidores, sempre alguns tivemos entre nós”, e por isso os responsáveis do Partido do Governo, em busca de alguma credibilidade, conseguiram fascinar alguns ex-históricos do PCP.

Também uma das fragilidades do Partido que suporta o Governo é a indecisão e a luta entre duas facções de influência: por um lado, os da área da economia e finanças, ligados e fiéis aos princípios da Opus Dei; por outro, e mais grave, a influência da componente maçónica do Governo, dominado pelo Grande Oriente Lusitano, cada vez com mais influência no Executivo. Mas não se pense que é somente a nível de cúpulas, pois ao nível das bases (estruturas que são capazes de vender pai e mãe para obterem um lugar de deputado, que são capazes de trair princípios que nunca tiveram, amigos e correligionários para cheirarem o ambiente de S. Bento, por dentro); vide o caso de Setúbal, onde a principal estrutura distrital é dominada e influenciada pela Maçonaria, que domina também as rádios-cloacas da cidade e alguma imprensa, facto que é notório entre os setubalenses, pelo que em 10 de Outubro os eleitores vão dar, por desconhecimento, os que votarem no Partido do Governo, o voto no Grande Oriente Lusitano. Aliás, da lista do Círculo de Setúbal tomamos a responsabilidade de salientar, pela positiva, o cabeça de lista, Jorge Coelho, Mata Cáceres, Paulo Pedroso e Hasse-Ferreira, de quem os restantes candidatos estão a muitos anos-luz de conhecimentos e capacidade política.

Com esta descrição, fazemos a separação de dois blocos: PP, PSD e PS, de direita, centro e centro-esquerda, e o PCP (CDU) e Bloco de Esquerda, como a única esquerda, ou seja, os que vão até às últimas consequências na defesa dos explorados e oprimidos.

Ter a noção desta realidade e sobretudo ter em conta a introdução do novo dado do Bloco, consideramos que se conseguir eleger uma voz, será um grande serviço ao País. Porque os eleitos da esquerda não querem ser deputados para fazer dessa condição uma profissão, mas sim querem ser eleitos para poderem defender os direitos daqueles que não têm voz.

Os dados estão lançados; a opção dos eleitores será conhecida em 10 de Outubro.