[ Edição Nº 90] – CRÓNICAS DA BEIRA MAR por Raul Oliveira.

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Timor, ainda e sempre Timor

          Se alguma dúvida houvesse que Timor era uma causa abraçada pelo povo português, ela desvaneceu-se nestes últimos dias.

Desde que aquele povo heróico e corajoso deu uma lição ao mundo, votando maciçamente na democracia, indiferente às mais iníquas pressões, manifestando inequivocamente a sua ânsia de querer um país livre e independente, que deveria merecer o respeito da comunidade internacional.

Lamentavelmente, o que colheu foi a indiferença dessa comunidade internacional cujos padrões de conduta se regem, infelizmente, antes pelos ultrajantes interesses económicos do que pelos inquestionáveis Direitos Humanos. Foi necessário a face mais hedionda de um poder corrupto, cujo passado assenta num infindável acumular de massacres humanos, revelar-se nos seus mais abjectos obvjectivos, o GENOCÍDIO do povo timorense, para que, tardiamente, a comunidade internacional aceitasse as horríveis evidências e decidisse repor a legalidade.

Não com a prontidão desejada, mas esperemos que ainda a tempo de salvar uma parte desse povo martirizado que fica na História recente da Humanidade como exemplo de coerência, amor pátrio, coragem e determinação, valores infelizmente em desuso no impropriamente chamado mundo ‘civilizado’.

‘Bárbaros’ e ‘atrasados’ como são normalmente apodados os povos menos desenvolvidos tecnologicamente, dão lições de humanismo e civilidade aos ditos povos ‘evoluídos’, cuja evolução se manifesta na mais despudorada irracionalidade e falta de sentimentos humanos.

Muito embora o grito de revolta perante o genocídio do povo timorense tenha nascido expontâneo, de norte a sul do país, com as inevitáveis excepções que é importante não escamotear nem deixar passar em claro, importante é também não ‘enterrar a cabeça na areia’, qual avestruz, e olvidar que há muito boa gente no nosso país que, se metesse a mão na consciência (alguns deles será que a têm mesmo?), talvez tivesse algo a esclarecer.

Para além do que aprendi nos bancos da escola primária sobre Timor, que nunca mais esqueci, ao longo da vida acompanhei a história desse valoroso povo, da II Guerra Mundial à luta contra o invasor indonésio, povo que sempre se orgulhou de estar integrado na Comunidade Lusófona e na religião católica, acompanhei, dizia, desde o início dos anos 60 através de pessoas amigas que passaram por Timor e apercebi-me que a amizade que ligava os timorenses a Portugal era mal correspondida pelos poderes portugueses que se limitavam a colher os frutos das suas riquezas e pouco se preocupavam com o desenvolvimento da região e com os anseios do povo timorense.

Isto, para não falar na chamada descolonização que terá sido tudo menos honrosa ou exemplar, segundo alguns comparsas, por mais que se invoque como desculpa, a conjuntura internacional da época.

Agora, que o povo timorense atravessa o período mais grave da sua história, que o povo português não lhe falte com o seu apoio e solidariedade, e que TODOS sejamos, pelo menos agora, TIMORENSES, lhes estendamos as mãos e os apoiemos na construção do seu belo país.