Edição Nº 98 • 15/11/1999 |
Na perspectiva do incremento do sector terciário A presidente da Junta de Freguesia de Almada, Emília Lídia, acredita na aplicação do protocolo entre o Governo e a Câmara Municipal, para a reabilitação da frente ribeirinha e atlântica. Apesar de pouco ter interferido no processo, diz que as mudanças previstas vão beneficiar a freguesia e dar mais qualidade de vida às populações. Até porque, segundo defende, trata-se de melhorias que irão incrementar o sector terciário, nomeadamente o turismo, pelo que espera resultados ao nível da oferta de emprego para os mais novos. |
– Que benefícios a freguesia de Almada poderá retirar da aplicação do protocolo para a reabilitação da frente ribeirinha e atlântica do concelho? Emília Lídia – A freguesia é uma das grandes beneficiadas porque o protocolo prevê a reabilitação da zona de Almada Velha. A Câmara tem um projecto definido para esta área que, como se sabe, teve uma função muito importante entre os anos 40 e 70 e depois veio a decair no aspecto da oferta de emprego. O espaço foi ficando morto, a população partiu para outras áreas e começámos a entrar no terciário, que é mais serviços do que indústrias. A Câmara teve de pensar as formas de pegar em Almada Velha e revitalizá-la, sendo que o projecto saído desse trabalho é bastante interessante. É que, para além de criar postos de trabalho, vai também dar uma nova vida à zona, quer ao nível da cultura quer no turismo. Houve conversações com proprietários das empresa desactivadas, para a reabilitação da zona, que em princípio concordam com a medida. A entidade mais importante, neste processo, é a Administração do Porto de Lisboa, proprietária de quase toda a zona ribeirinha do concelho, e por isso está incluída no protocolo que prevê o tratamento de todas essas zonas, desde a Trafaria a Porto Brandão, passando por Almada e Cacilhas. SR – Concretamente, o que é que vai mudar na freguesia? EL – Muita coisa irá mudar com a aplicação do protocolo. Para já, ao abrigo do projecto da autarquia, denominado Nova Almada Velha, está quase a funcionar o elevador panorâmico, que é uma das maiores atracções turísticas, e está já também a ser alvo de tratamento a famosa Fonte da Pipa, uma fonte que já teve muita importância na freguesia porque era onde a população se abastecia de água. A zona está a ser transformada num jardim, com a fonte como foco principal. Esperam-se várias intervenções naquela área, que já teve muitas indústrias, no sentido da requalificação e da criação de postos de trabalho. Esperam-se outras transformações, como é o caso do jardim do Castelo, onde está a ser construído um restaurante com esplanada, o que irá aumentar a afluência de público à zona e incrementar a restauração e o turismo. À recuperação do miradouro do Castelo, segue-se a recuperação dos lavadouros públicos e a restauração do jardim onde está inserido, chamado Boca de Vento. São projectos que levam tempo a serem concretizados e, neste caso, levou mesmo algum. Finalmente houve verbas para a sua aplicação e a necessária autorização da Administração do Porto de Lisboa (APL), pelo que se chegou já à sua concretização. E isso é muito importante porque nos ajuda a oferecer mais condições à juventude do concelho, com quem nos preocupamos muito. E ali vão ser criados espaços para a juventude, desde a cultura ao artesanato. SR – Estes projectos são feitos ao abrigo do plano da Câmara. Onde é que acaba esse plano e começa a intervenção ao abrigo do protocolo com o Governo? EL – A intervenção ao abrigo do protocolo é feita apenas na zona ribeirinha, uma vez que a Nova Almada Velha é da responsabilidade da Câmara Municipal. Ao abrigo do protocolo está a ser feita a recuperação da área da Fonte da Pipa, na freguesia de Almada, do ponto de vista paisagístico, urbano e cultural. Isto vai de encontro ao plano que a própria Câmara já tinha desenvolvido e conta com o apoio financeiro da Administração do Porto de Lisboa, na ordem dos 60 mil contos. A este nível, será também recuperada a alameda que vai da Cerca ao Museu Naval. Trata-se de uma via de grande importância turística, que irá contar com uma revitalização ao nível do comércio e das oficinas de trabalhos artesanais. Isto compreenderá a promoção do turismo e, ao mesmo tempo, a criação de postos de trabalho para os mais jovens que poderão ficar valorizados com este tipo de experiência, particularmente no que diz respeito às oficinas de artesanato tradicional. SR – Acredita que, com a aplicação do protocolo, a componente turística da freguesia poderá ser uma das potencialidades a explorar? EL – Sem dúvida, porque não vimos que Almada possa vir a ter a vida que teve, há anos atrás, com a indústria. As empresas, todas elas ligadas à indústria naval e à pesca, já não estão activas, pelo que o futuro é virado para o turismo. O passeio ribeirinho do Ginjal, que será todo reabilitado, vai de Cacilhas à Fonte da Pipa, razão pela qual nos irá beneficiar ao nível do turismo e da própria qualidade de vida da população. SR – A Junta não participou nas reuniões entre a Câmara e os donos das fábricas para falarem sobre a reabilitação da zona. A Junta não devia ter participado nas negociações? EL – Isso não era o mais importante porque a Câmara, que é a entidade que tem essa competência, pode elaborar um melhor desenvolvimento da zona. A Junta não tem intervenção na área mas a Câmara tem sempre por hábito informar-nos sobre o andamento do processo. Depois, à medida que as coisas vão sendo pensadas ao pormenor, a Junta vai intervindo e dando a sua opinião sobre o assunto. Gostava muito de ver aplicados os projectos, quer para a zona ribeirinha quer para Almada Velha, sendo esta uma zona que ainda muita gente classifica como uma Alfama em miniatura. SR – A população da freguesia está um pouco de costas para o rio. Acha que, com a aplicação do protocolo, isso pode mudar? EL – Isso deve-se à enorme degradação daquele espaço, nomeadamente devido ao encerramento das empresas e fábricas que lá estavam sediadas. Por isso, os cais, que também são muito antigos, foram-se degradando sem que a Administração do Porto de Lisboa se tenha preocupado muito em fazer qualquer tipo de recuperação. E é isso mesmo que está integrado no projecto de recuperação, ao abrigo do qual foi já criada uma estação de táxis fluviais. Também estão a funcionar alguns restaurantes, alguns há já alguns anos, para além do Clube Náutico que dinamiza muito aquela área. Portanto, aos poucos as pessoas vão regressando à zona ribeirinha de Almada. SR – Confia na aplicação do protocolo entre a Câmara de Almada e o Governo? EL – Tenho confiança absoluta na sua aplicação. Nós temos uma presidente da Câmara que diz e faz, pelo que não há dúvidas de que as coisas serão feitas. O que é preciso é ter paciência para esperar, mas não desesperamos porque as coisas demoram a fazer. É preciso ver que, ao abrigo deste protocolo, há projectos que não são para um nem para dois anos, uma vez que vão prolongar-se por vários anos. Tenho absoluta confiança na Câmara, caso contrário não estava há 17 anos na Junta. Depois, acho que o Governo não ia assinar um protocolo com a ideia de não o cumprir. SR – Há quem receie que o Governo tenha assinado o documento com fins eleitorais, uma vez que ocorreu perto das legislativas. Partilha do mesmo receio? EL – Não me parece que seja assim, porque por trás deste protocolo há um projecto feito pela Câmara de Almada há muitos anos. Claro que em campanha eleitoral, as pessoas podem até utilizar as coisas com essa função mas isso é natural e não parece constituir um problema. O que aconteceu foi só a assinatura do protocolo, uma vez que projecto já existia e algumas das obras já estavam mesmo no terreno. SR – Dado o desaparecimento das indústrias, qual é o futuro da freguesia de Almada? EL – Penso que será mesmo o sector terciário, uma vez que não vejo nada que leve à reactivação das indústrias. Isso já não é da competência da Câmara, tendo em conta que, para que as indústrias regressassem, teria de haver um interesse governamental na criação de incentivos e também de espaços para isso. Almada foi um concelho com uma enorme actividade ao nível das indústrias, entretanto nos anos 60 apareceu a Lisnave e as empresas ao longo do cais começaram a ser quase adjacentes à actividade naval. Tudo isso foi sendo desactivado e como as pessoas se viraram para o terciário, o que se espera é o incremento desta actividade, nomeadamente do turismo. |
Entrevista de Pedro Brinca [email protected] |