[ Edição Nº 105] – Balanço de 1999 no distrito marcado pelas questões ambientais.

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Balanço de 1999 no distrito
Sem aeroporto e a ‘baralhar’ o ambiente

         1999, o ano em que Setúbal ganhou com as acessibilidades a Lisboa, nomeadamente através da inauguração da travessia ferroviária do Tejo e do anúncio da construção da ponte Barreiro/Chelas.

No ambiente, ficou para a História a suspensão do processo de co-incineração, a tentativa de incinerar toneladas de alimentos com dioxinas e o projecto para incinerar armamento militar em Alcochete. Mas a polémica ambiental não ficou por aqui, já que o distrito foi fértil no abate de florestas autóctones e na propagação de um parasita que mata os pinheiros bravos.

As eleições europeias e legislativas foram um dos marcos do ano no distrito, embora não tivessem oferecido grandes novidades, uma vez que as primeiras não conseguiram eleger um eurodeputado pelo distrito e as segundas reconfirmaram o poder do PS.

Ao nível do desenvolvimento regional as coisas não correram lá muito bem, particularmente no que diz respeito ao tão polémico aeroporto internacional de Lisboa que, para gáudio de alguns e desgosto de outros, não chegou a vir para Rio Frio.

Aeroporto – O mês de Julho deitou por terra as esperanças depositadas por autarcas, empresários, instituições cívicas e até pelo representante do Governo no distrito no chamado investimento âncora para a região. Depois de meses de pressões junto da administração central e de discussões públicas sobre o tema, o lobbie pela instalação do aeroporto em Rio Frio recebeu com estranheza e desgosto a notícia de que, afinal, o equipamento ia ser construído na Ota.

Porto de Contentores – Entendidas como uma recompensa para calar os perdedores do aeroporto, as obras de alargamento do porto de Setúbal foram aprovadas quase em simultâneo com a decisão de ‘mandar’ o aeroporto para a Ota. Mas depois da polémica que envolveu a comunidade portuária, por causa dos receios entretanto levantados sobre uma eventual instalação deste sistema em Sines, que afinal recebeu um projecto maior: o porto de águas profundas, Setúbal deu-se por satisfeita com a medida que acredita poder ajudar a mudar a frente ribeirinha que este ano deverá receber uma marina com a chancela do grupo Sonae.

Projecto de Tróia – Apresentado oficialmente no dia 5 de Janeiro, pela Sonae, o projecto de investimento na Torralta, em Tróia, recebeu a aprovação governamental já em pleno Verão. Mas até agora pouco se avançou no desenvolvimento turístico da área, uma vez que continua na ordem do dia a polémica levantada pelo Plano de Urbanização de Tróia, que os ambientalistas ‘chumbaram’ e sobre o qual o Governo ainda tem dúvidas.

Comboio na ponte – Depois de um demorado processo de ‘recauchutagem’, a ponte 25 de Abril recebeu em Julho a travessia ferroviária, tudo debaixo de uma chuva de protestos da associação de utentes que refilava contra as tarifas que considera exageradas. No ano que parece ter sido de todas as pontes, a Vasco da Gama comemorou o primeiro aniversário com um balanço positivo, diz a Lusoponte, essencialmente por ter conseguido desviar o tráfego pesado da 25 de Abril. Mas a segunda travessia estava destinada aos imbróglios ambientais no que respeita à preservação das salinas do Samouco, cujo estado de abandono pouco terá sido alterado pela Equipa de Missão entretanto criada. Mas o ano não terminaria sem o anúncio do ministro Jorge Coelho, da construção de uma terceira ponte, desta vez entre o Barreiro e Chelas.

Ponte de Sarilhos – A velha ponte que une duas freguesias dos concelhos de Montijo e da Moita, foi a responsável pela troca de mimos entre os autarcas dos dois concelhos, com a presidente montijense a embargar as obras de recuperação e, por seu lado, o presidente da Moita a rejeitar a proposta alternativa apresentada pelo Montijo.

Curiosamente, os argumentos de carácter ambiental apresentados por Amélia Antunes para o encerramento da ponte, são em tudo iguais aos que João Almeida apresenta para recusar a proposta de atravessamento rodoviário.

Co-incineração – O Governo suspendeu a decisão de co-incinerar resíduos tóxicos em cimenteiras para repensar o processo. Por isso, a Scoreco também retirou a proposta de instalar a estação de tratamento na Quimiparque, o que satisfez particularmente a Câmara do Barreiro. Em Setembro voltou a polémica com a denuncia da intenção oficial de incinerar alimentos com dioxinas na cimenteira da Sécil. Os protestos foram tantos que o caso não seguiu em frente. Entretanto, surgiu a decisão de desmantelar as incineradoras hospitalares e de concentrar a queima apenas em uma delas, tendo o dossier incineração terminado o ano com a decisão governamental de instalar um incinerador de armamento em Alcochete.

Mata da Machada – “A mata é de todos”, foi o protesto que no início do ano invadiu o Barreiro que protestava em coro contra a construção de um Parque de Aventuras para a reinserção de ex-toxicodependentes. Acreditando que o projecto contemplava o encerramento da mata ao público, autarcas, ambientalistas locais e população ‘caíram’ sobre os promotores e a própria Direcção Geral de Florestas que cedeu o espaço.

Praga dos pinheiros – Descobertos em Julho nos pinhais entre a Marateca e Pegões, os vermes que causam a morte dos pinheiros bravos constituem uma verdadeira ameaça para todos os pinhais do país. Desconhecidos em toda a Europa, os nemátodos terão entrado na região através de um descarregamento de madeiras efectuado no porto de Setúbal. A notícia alarmou as entidades portuguesas e da União Europeia, de tal forma que foi criado um plano de emergência e as áreas afectadas ficaram de quarentena.

Margueira – O projecto Ulissul 99, apresentado em Abril, pouco depois de divulgado o projecto de recuperação de Cacilhas, escandalizou meio distrito e pôs a Câmara de Almada em pé de guerra com os promotores da ideia e com o próprio Governo. É que, para além de ter sido considerado um projecto urbanístico megalómano e elitista, estando previsto para o espaço deixado pela Lisnave, não é abrangido pelo PDM, razão pela qual escapa ao controlo da autarquia fica sob a alçada da administração central. Mas o ano até nem foi mau para Almada, na medida em que conseguiu ver assinado o tão esperado protocolo para a recuperação da frente ribeirinha e atlântica.

Eleições – As europeias não trouxeram nada de novo a Setúbal, já que o distrito não conseguiu ver eleito um único eurodeputado. Isto apesar dos esforços desenvolvidos por todos os partidos durante toda a campanha eleitoral, no sentido de sensibilizar o eleitorado para a importância de ter um representante na Europa. Nas legislativas, as novidades também não foram muitas, com o distrito a penalizar o PS em um deputado mas, ao mesmo tempo, a garantir-lhe a vitória. As novidades estiveram na CDU, que elegeu mais um deputado, e no PP que conseguiu preencher o lugar de Kruz Abecasis no parlamento.

Timor Loro Sae – Os últimos meses do ano encontraram uma Setúbal ultra-solidária que respondia de imediato e em massa aos apelos por Timor Loro Sae surgidos após os massacres praticados pelas milícias indonésias. Do distrito saíram dezenas de campanhas de sensibilização da comunidade internacional, incluindo uma participação activa na manifestação realizada frente à embaixada da indonésia em Espanha. Consciente da necessidade de ajudar os timorenses, cuja maior comunidade residente em Portugal está radicada no concelho de Setúbal, o distrito desdobrou-se em manifestações e acções de recolha de alimentos e de dinheiro.

Rádios – Três rádios de Setúbal, indicadas como sendo propriedade do mesmo empresário, viram levantados processos em tribunal por não terem acatado a deliberação da Inspecção de Trabalho que dava razão aos trabalhadores nas suas reivindicações salariais e contratuais. A decisão foi o culminar de um processo demorado de denúncias e queixas sobre irregularidades laborais nas rádios, o que pela sua importância, levou o “Setúbal na Rede” a desenvolver um dossier com entrevistas para uma análise do estado da comunicação social na região.

Vitória de Setúbal – 25 anos depois, o Vitória de Setúbal voltou a marcar presença nas competições europeias com uma reentrada na Taça UEFA. E embora tivesse sido ‘sol de pouca dura’, porque depressa se viu eliminado das finais, o certo é que apesar das dificuldades que o clube atravessava a equipa mantinha o espírito competitivo. O mesmo já não se pode dizer dos últimos meses do ano, porque pelo meio da crise causada pela demissão de Sousa e Silva e do agravamento dos problemas financeiros, a equipa não conseguiu manter a posição na tabela classificativa. Ainda por cima, perdeu um dos melhores jogadores do plantel, Toñito, para o Sporting, na sequência de um imbróglio envolvendo o clube lisboeta, o empresário do jogador e o Vitória. Apesar de tudo, o clube parece ter terminado o ano ’em alta’, uma vez que a crise maior foi ultrapassada pela eleição de uma nova equipa para os órgãos directivos.

25 de Abril – 1999 foi o ano de todas as comemorações do aniversário da revolução do 25 de Abril, desta vez fortemente reforçadas pela passagem dos 25 anos sobre a data histórica. Uma ocasião que o “Setúbal na Rede” aproveitou para dar início ao dossier de entrevistas sobre a revolução.