Quercus lança o aviso
Século XXI ameaça o ambiente
Às portas do século XXI, a Quercus alerta para as grandes ameaças ao ambiente e aproveita para desafiar o Governo a criar uma política mais ecológica. É que, pelas contas do presidente da associação, Francisco Ferreira, o que não correu bem nos últimos anos pode vir a empenhar definitivamente a qualidade de vida dos portugueses, como é o caso do processo da co-incineração que passou pelo distrito de Setúbal.
O processo “começou mal e ameaça continuar mal”, uma vez que o plano de gestão dos resíduos industriais “foi feito à pressa e tem uma qualidade muito duvidosa”, garante o presidente dos ambientalistas ao recordar que o plano de prevenção da produção destes resíduos “continua por apresentar”.
E este responsável adiantou mesmo ao
que o mais triste é a co-incineração “continuar a ser usada para fins partidários abusivos”, sendo que as alternativas de redução contidas nas promessas governamentais “são cada vez mais esquecidas”.
Ao nível das questões da água, Francisco Ferreira alerta para o facto da barragem do Alqueva estar sem acompanhamento por parte das associações de defesa do ambiente, “que saíram das respectivas comissões há vários meses”. Em causa estará o estudo prometido pelo Governo e que, ao que tudo indica, “só agora está terminado” mas não divulgado oficialmente, sobre os impactes de gerir a barragem a cotas mais baixas que a final.
Mas apesar do quadro negro traçado pela Quercus quanto às consequências dos erros ambientais praticados, Francisco Ferreira mantém a esperança numa nova política ambiental, bastando para isso que o Governo observasse alguns dos desejos dos ambientalistas para o próximo ano.
E esses desejos passam por “uma postura ambiental forte na presidência europeia“, pela criação do Parque Natural do Tejo Internacional e da Reserva Nacional da Lagoa de Santo André e Sancha, bem como pela definição do ordenamento das áreas protegidas e de Rede Natura.
Embora admita que a recente decisão do Ministério do Ambiente, de bloquear o avanço do empreendimento turístico da Aldeia do Meco, em Sesimbra, seja “o sinal de uma nova e promissora atitude”, alerta para a necessidade do Governo ficar atento ao ordenamento da península de Tróia e, inclusivamente, espera que esta política “se estenda ao chumbo do Plano de Urbanização de Tróia nos moldes em que foi proposto”.
Mas a maior das batalhas da Quercus nos próximos anos reside na preservação da floresta autóctone, como é o caso do montado de sobro – cuja maior mancha se encontra em Rio Frio – e dos pinhais da região de Setúbal, uma vez que os números oficiais apontam para “uma autêntica razia” nas zonas de sobreiro, azinheira e pinheiro de norte a sul do distrito.
Neste início de século, a Quercus alerta ainda o Governo para a questão dos resíduos tóxicos e das zonas por eles poluídas, como é o caso de toda a área da Siderurgia Nacional que abrange os concelhos do Seixal e do Barreiro. Francisco Ferreira adverte mesmo para a necessidade de alguma coragem política para o desencadeamento deste processo que “poderá custar milhões de contos” mas que continua a ser essencial para “a descontaminação e recuperação dos solos”.
Quanto à Serra da Arrábida, onde há cerca de um ano se pretendia instalar a co-incineração – por via da cimenteira da Sécil – Francisco Ferreira diz não ter esquecido o maior ‘cancro’ do Parque Natural e promete mesmo reacender a batalha contra as pedreiras que “esventram e matam” aquela área protegida por lei.