[ Edição Nº 114] – CRÓNICA DE OPINIÃO por José Maria Dias.

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Porquê o Teatro?
Ajuda o homem a sonhar, derruba barreiras e constrói pontes

         Para que tudo seja ganho e para que possamos falar de arte, é necessário que sejamos capazes do distinguir com grande exactidão o que se cria ou o que bloqueia o movimento da vida na arte teatral.

Penso que é errado uma capela do nosso teatro julgar outra capela como se uns fossem mais importantes que outros. Os defensores de um determinado teatro popular julgam que tudo o que possui carácter popular adquire automaticamente uma vitalidade que contrasta com uma coisa desprovida de vitalidade que se chama Teatro de elite, todos os que fazem teatro intelectual, ou seja, os pequenos grupos com textos muito difíceis, sentem que se trata de uma aventura intelectual que contrasta, e de que maneira, com o espírito moribundo e sem vitalidade do teatro de boulevard.

De igual modo, os que fazem teatro com grandes textos do domínio de alta cultura têm a pretensão de pensar que a alta cultura introduz nas veias da sociedade elementos de uma qualidade infinitamente mais efervescente do que o que se passa com o público de uma comédia vulgar.

Como tal, se as capelas do nosso teatro se acompanhassem com a maior das simplicidades e não admitindo que se trata de um acto de traição, logo o público e os críticos, como por arrastamento, também fariam esse acompanhamento. E esta diversidade seria muito positiva para todos nós.

Daí que a nossa arreigada falta de cultura nos surpreenda com certas anomalias impressionantes quando, por exemplo, achamos que os negros têm mau cheiro, porque ignoramos que em toda a parte, à excepção da Europa, são os brancos quem cheira mal… Assim como para os asiáticos a cor branca é sinal de decomposição extrema.

Esta cultura da intolerância é a imagem da carnificina e da separação mundial.

A pergunta que vos deixo é, se neste mundo instável que se está a suicidar, é possível encontrar na Arte do Teatro o mágico dos dogmas em que já não acreditamos?!…

O Teatro alimenta-se de vida e a vida alimenta-se dele para construir os dogmas que, por sua vez, alimentam os sonhos. E de cada vez que um homem sonha o mundo pula e avança, como disse o poeta.