Edição Nº 114 • 06/03/2000 |
Pela conservação das memórias de Setúbal “Desenvolvimento sim, mas com respeito pelas raízes” foi a ideia essencial da conferência promovida pela Universidade Popular de Setúbal Bento de Jesus Caraça (UPS), que decorreu no dia 4 de Março, na Biblioteca Municipal de Setúbal. Subordinado ao tema “As Memórias de Setúbal”, que abordou o património histórico e cultural sadino, este foi o segundo encontro organizado por aquela associação no âmbito do fórum Pensar Setúbal. O presidente da Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão (LASA), Maurício Costa, e o director do Centro de Estudos Arqueológicos do Museu de Arqueologia e Etnografia (MAEDS), Carlos Tavares da Silva, estão desiludidos com a forma como o património da cidade tem sido tratado. Para Tavares da Silva, numa cidade com 27 séculos de vida há que ter em atenção problemas como o do trânsito no centro histórico e a degradação das casas naquele espaço. Ainda de acordo com o arqueólogo, devia apostar-se também “na recuperação do tecido social, já que o centro histórico só tem sentido se for habitado”. Embora defenda a emergência do combate a “obras mussolínicas” como a frente do Convento de Jesus, o investigador advertiu, todavia, que “a ideia de preservar apenas os monumentos deve ser posta de parte”, devendo-se em contrapartida, “salvaguardar o conjunto”, o que inclui o subsolo arqueológico da cidade. Nesta medida, Carlos Tavares da Silva denunciou a política da Câmara Municipal de Setúbal em relação ao subsolo, já que as obras são licenciadas na condição do dono, caso encontre vestígios arqueológicos, o comunique à autarquia. O arqueólogo considera esta situação “ridícula” porque “essas pessoas não têm competência para avaliar os achados” e, por outro, não lhe parece verosímil que o dono de uma obra “vá declarar a presença de vestígios para depois ver o final da obra adiado”. Por isso, defende que todas as obras sejam sujeitas à “prévia realização de escavações arqueológicas, feitas por arqueólogos encartados”. Tavares da Silva lamenta ainda o “estado de abandono” a que a herança urbana chegou, pois, “por cada intervenção que se faz no centro histórico está a destruir-se um arquivo precioso”. E o caso é tão grave como “chegar ao Arquivo Distrital, que tem toda uma documentação escrita, e deitar-lhe fogo”, acrescenta. Maurício Costa, em nome da LASA, decidiu pedir “um cruzamento harmonioso entre o antigo e o moderno porque crescer não é o mesmo que desenvolver uma cidade”. Levantando como bandeiras a protecção da formação geológica da Pedra Furada e, mais recentemente, a luta contra a construção de um stand junto à muralha seiscentista, Maurício Costa referiu que “neste esforço de divulgar e promover as mais valias da região”, a associação editou um CD sobre Bocage, preparando-se agora para editar sobre Luísa Todi e Calafate. Defensor da intervenção dos cidadãos na vida do concelho, o presidente da LASA apontou para a necessidade de “despertar a alma colectiva de uma população adormecida, que raramente reage aos problemas da cidade”. Maurício Costa entende que “a cultura não deve ser um monopólio de uma raça, mas antes extensiva a todas”, por isso defende que não é só ao nível dos jovens que esse trabalho é exigido, “mas também junto dos adultos”. |
Carmen Fialho |